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- 36 titles
- DirectorStanley KubrickStarsKirk DouglasRalph MeekerAdolphe MenjouA colonel defends three of his soldiers in a court-martial after they abandon a suicidal attack.[Mov 10 Fav IMDB 8,5/10] {Video/@@@@@}
GLÓRIA FEITA DE SANGUE
(Paths of Glory, 1957) Obra Prima
"Glória Feita de Sangue", de 1957, um dos melhores filmes de Stanley Kubrick, sobre um oficial francês na Primeira Guerra que prefere fuzilar seus homens a admitir seu erro em uma manobra de batalha. É uma das melhores atuações de Kirk Douglas. O filme marcou a segunda - e última - colaboração de Kubrick com o autor pulp e roteirista Jim Thompson, conhecido por histórias noir violentas, como O Assassino em Mim." (Andre Barcinski)
"Mais do que um ser perfeccionista, Stanley Kubrick foi um realizador de filmes. Ser diretor, qualquer um consegue, agora imprimir uma característica, ser autor, isso é um dom. Kubrick tinha esse dom. Trasmitia sua opinião sempre, nem que para isso precisasse chocar as platéias (Laranja Mecânica) ou até mesmo filosofar com imagens (2001 - Uma Odisséia no Espaço). Na verdade, tendo como base a idéia de que o cineasta deixou um legado com uma obra-prima por gênero, é mais fácil do que parece escolher sua obra de arte da guerra. Glória Feita de Sangue, drama de guerra rápido, assume essa posicão com ampla vantagem sobre o ótimo Nascido Para Matar, realizado exatamente 30 anos depois. Não é, contudo, uma explosão bombástica e arrebatadora como fora o longa de 1987. Aqui, Kubrick privilegia o comportamento humano diante de situações inusitadas (ou não). Até aonde nós somos capazes de chegar para impor nossas vontades, nem que para isso precisemos abrir mão daquilo que é o mais importante para nós, nosso orgulho. A glória do título funciona como paradoxo indelével que Kubrick usa com maestria para apresentar sua visão sobre um pequeno holocausto. Kubrick ainda aproveita para inserir uma crítica feroz e direta ao costumes político-militares que acusam inverdades sobre verdadeiros heróis. O filme começa quando o o Quartel General francês ordena o Coronel Dax (Douglas) a tomar uma decisão que pode levar a proporções épicas. Mesmo acreditando que a missão seria suicida, Dax leva seu exército ao combate. Como previsto, o ataque fracassou. A intenção dos Generais para tentar contornar a situação ao invés de admitir o erro é prender três homens inocentes, acusando-os de covardia. Dax, advogado em tempo integral, assume a defesa dos soldados, mas não demora muito para perceber que tudo e todos estão contra eles. Aqui, a marca registrada do cineasta está ativa como nunca. Enquadramentos laterais, uso abundante do recurso de plano-sequência, principalmente nas cenas de guerra e na derradeira tomada final. Aliás, Kubrick encerra a fita com excelência incomparável, deixando claro que tem autonomia no corte final de seus projetos desde o início da carreira. Pode-se destacar, também, a fotografia em P&B. Como de costume, Kubrick utiliza ângulos inovadores enquanto deixa um pouco de lado as paisagens panorâmicas, preferindo filmar nos interiores para aproveitar o desenho artístico do longa, que é excelente. Em seu primeiro grande filme, Kubrick entrega uma obra ímpar, encabeçado por Kirk Douglas, que protagoniza um dos momentos mais emocionantes do filme. O desfecho, aliás, é um exemplo de que, apesar das visões pessimistas e cruéis, Stanley Kubrick tinha sensibilidade e elegância para conduzir um longa com proporções épicas." (Tudo é Critica)
Top 250#50
Top 100#93 Cineplayers (Editores)
Top 200#114 Cineplayers (Usuários)
Top Editores #77
Top Década 1950 #24
Top Guerra #18
Bryna Productions
Diretor: Stanley Kubrick
87.006 users / 4.053 face
Check-Ins 33
Date 24/07/2012 Poster - ########## - DirectorJohn HughesStarsMolly RingwaldAnthony Michael HallJustin HenryA girl's "sweet" sixteenth birthday is anything but special: her family forgets about it, and she suffers from every embarrassment possible.[Mov 08 IMDB 7,1/10] {Video/@@@} M/57
GATINHAS E GATÕES
(Sixteen Candles, 1984)
John Hughes, em sua estréia, já definia o que eram os anos 80. Simples, mas não menos encantador." (Rodrigo Cunha)
"John Hughes desde seu primeiro trabalho já mostrando sua sensibilidade para compreender as ansiedades tipicamente adolescentes. Um dos filmes mais divertidos e inocentes dos anos 1980." (Heitor Romero)
"É o típico filme de Hughes, repleto de excessos dos anos oitenta, mas com um retrato sensível e doce da adolescência - além de diversos momentos divertidos. Hughes faria melhor em seus trabalhos seguintes, mas é um interessante ponto de partida." (Silvio Pilau)
"Simpático debut de Hughes, que apesar de tropeçar em uma história formulaica e em diálogos expositivos demais, já estabelece bases para um cinema que viria a crescer muito." (Bernardo D I Brum)
"Anthony, ora vejam, Samantha acorda no dia que seria um dos mais importantes de sua vida: completa 16 anos. Mas, oh coitada da Sam! Calhou de seu aniversário cair justamente na véspera do casamento de sua irmã - perfeita - com o filho de um mafioso e sua família estar tão envolvida com os acontecimentos. Seus pais, claro, não se lembram da data tão importante para a doce e sem peitos garota, e no lugar do homem de seus sonhos, um tal de Jake Ryan (Michael Schoeffling naquele que seria seu único grande sucesso), aparentemente ela só consegue a atenção do irritante de um bom coração pré-adolescente geek. Sixteen Candles (aqui, com o ridículo título de Gatinhas e Gatões) trazia a fórmula simples da comédia despretenciosa que imperava nos anos 80, a comédia escolar, recheada de casos de landas garotas populares porém vazias por dentro, adolescentes das turmas menos adiantadas querendo um lugar ao sol e muito, muito bullying de quem estivesse por fora do sistema. Esse foi o filme de estréia de John Hughes, que mais tarde faria mais alguns clássicos da sessão da tarde oitenteana, como Clube dos Cinco (1985), Mulher Nota 1000 (1985) e Curtindo a Vida Adoidado (1986) e daria voz e vez aos geeks, que naquelas épocas eram tão menosprezados - Ah, quem diria que o tempo alguns daqueles se tornariam tão ricos e até com uma certa dose de charme - justamente por serem excêntricos. O curioso é que Jim Carrey chegou a fazer um teste pra fazer o papel do jovem geek, mas Anthony Michael Hall ( The Dead Zone) acabou levando e fazendo mais três filmes sob a direção de John Hughes, nos quais ele acaba interpretando mais a si mesmo do que a um personagem em si. Aliás, o trio principal trazia no papel de Sam a Molly Ringwald. Molly Ringwald, que estaria em 9 de 10 filmes sobre essa espécie de garota desajeitada mas gente fina, era a esperança em forma de cabelos ruivos, já que no final sempre conseguia com seu jeito de boa moça, o coração do pretentido, já que, como o seu pai diz no filme "ela era uma garota certinha, ok? Garotas que namoravam sério e se guardavam para seu homem teriam no final a sua glorificação, ok? Interessante também é ver Joan Cusack fazendo uma participação como uma garota que usa um aparelho nas costas. Futuramente ela seria a noiva abandonada e por Kevin Kline na comédia Será Que Ele É? (1997). John Cusack (Os Queridinhos da América e O Júri), e irmão de Joan é um dos garotinhos que sonham em serem populares. Well, claro que no filme há algumas descrepâncias justificadas, como Sam achar que não tem peitos quando os dela eram maiores do que a da maioria das garotas que morriam assistindo na sessão da tarde. Claro que a vida não é tão cor de rosa shocking (aliás, título do segundo filme de maior sucesso da Molly, que hoje faz a mãe de uma adolescente na série The Secret Life of the American Teenage). Mas quem resiste a uma olhada em como na década de 80 uma jovem de 16 anos ainda podia ser inocente e estar vivendo o seu primeiro amor?" (Carla Marinho)
"O diretor John Hughes, 55, já foi chamado de o Steven Spilberg das comédias sobre jovens. É o único diretor do gênero que foi respeitado pela crítica e teve sucesso popular nos EUA. Seus filmes hoje são vistos com simpatia e cultuados por todos aqueles que eram adolescentes nos anos 80. Hughes descobriu a atriz Molly Ringwald e a transformou em estrela em "Gatinhas e Gatões" e, depois, numa série de filmes de sucesso. A maior qualidade do diretor é o dom para o diálogo realista e natural, retratando com perfeição o teen americano daquela época. O diretor havia feito roteiros antes de estrear com "Gatinhas e Gatões", tido por muitos como filme de cabeceira, que repetem frases e reciclam a trilha musical. O filme também foi dos primeiros trabalhos dos irmãos Joan e John Cusack. Na época, o longa tinha piadas consideradas vulgares e, por isso, chegou a ser classificado como R (restricted, para maiores de 18 anos), pela censura americana. Mas trata-se de um filme bastante sensível e teve enorme influência em outras produções do gênero. O diretor Hughes depois escreveu e produziu com sucesso uma série de filmes infantis como os três Esqueceram de Mim (1990-97), Dennis, O Pimentinha (1993), Ninguém Segura Esse Bebê (1994), 101 Dálmatas (1996) e Flubber (1997), quando se aposentou prematuramente." (Rubens Ewald Filho)
Channel Productions
Universal Pictures
Diretor: John Hughes
54.997 users / 5.215 face
Soudtrack Rock = AC/DC + Paul Young + Kajagoogoo + Altered Images + Night Ranger + Spandau Ballet + Oingo Boingo + The Specials + Tim Finn + Stevie Ray Vaughan + The Divinyls + The Stray Cats + The Thompson Twins + David Bowie + Billy Idol + Wham! + The Vapors
Check-Ins 37 10 Metacritic
Date 02/08/2012 Poster - ##### - DirectorEdward D. Wood Jr.StarsEdward D. Wood Jr.Bela LugosiLyle TalbotA psychiatrist tells the stories of a transvestite (Glen or Glenda) and a pseudohermaphrodite (Alan or Anne).[Mov 01 IMDB 3,10/10] {Video/@}
GLEN OU GLENDA?
(Glen or Glenda, 1953)
"É, de fato, um anti-cinema, mas é impossível não dar risada com todo o ridículo da história e da direção, e ainda pensar que Ed Wood realmente levava aquilo a sério. O filme de Burton sobre o diretor nos faz enxergar esse filme com mais carinho.'' (Heitor Romero)
{Cuidado, cuidado. Cuidado com o grande dragão verde que se senta à sua porta. Ele devora criancinhas, rabos de cachorrinhos e grandes lesmas gordas... cuidado, cuidado} (ESKS)
*****
''Pedaços deslocados de celulose juntam-se para montar uma espécie de filme que hoje é visto como horroroso mas deliciosamente curioso.
''Glen ou Glenda'' se apresenta como uma sucessão de equívocos tão grotescos que chegam a beirar o brilhantismo. Numa época de grandes filmes e diretores, Ed Wood, muito antes de Pedro Almodóvar, dirige o filme sobre travestis, bem antes da revolução sexual, numa época em que a sexualidade humana era abordada com cautela e pudor, e temas como homossexualismo e transexualismo eram demasiado ousados. Grande fã de Orson Welles, Edward D. Wood Jr, só entrou para a história do cinema nos anos 80, quando um grupo de críticos o intitulou de O pior diretor de todos os tempos, e assim ele se tornou infinitamente mais famoso depois de morto que durante sua vida. Assim como seu ídolo, Ed Wood era produtor, diretor, ator e roteirista de seus filmes. Porém seu trabalho é infinitamente inferior a qualquer outro já realizado por Welles. O roteiro de ''Glen ou Glenda'' gira em torno do suicídio de um travesti. Após esse acontecimento, o chefe de polícia responsável pelo caso procura um psicólogo para tentar entender o que leva um homem a se vestir de mulher. Este conta ao policial a estória de um homem chamado Glen, que apesar de ser heterossexual, tinha como hábito se vestir de modo feminino. Apesar de o tema do filme ser à frente de seu tempo, ''Glen ou Glenda'', parece ser vários filmes ruins dentro de um só. Em certos momentos lembra um sombrio programa noturno de terror, cujo apresentador é uma mistura caricata e sombria de um ser onisciente com Drácula, interpretado por Bela Lugosi. Noutras vezes, o filme toma ares de documentário, com imagens de aviões no céu, uma manada de búfalos correndo, fábricas funcionando. Mas na maior parte do tempo o que se apresenta é uma compilação de imagens e diálogos que pouco contribuem para o seu desenvolvimento. Apenas tornam o conjunto mais confuso e ruim, com seus péssimos atores (exceto por Bela), fusões sem correspondência, cenários tremendamente falsos e precários, e claro, uma trilha sonora usada de forma tão aleatória quanto algumas das imagens de arquivo utilizadas (ou teriam sido arremessadas?) no filme. Enfim, tudo em Glen ou Glenda ajuda a corroborar a idéia de que Ed Wood é mesmo o pior diretor do mundo. Tudo no filme transborda precariedade, amadorismo e bizarrice. Contudo, e provavelmente devido aos anos que se passaram, creio que ''Glen ou Glenda'' possa ser encarado como um divertido filme B, que de dão ruim, tão cheio de defeitos, torna o ato de assisti-lo um passatempo único e recomendável. Revendo o filme Ed Wood de Tim Burton, em homenagem ao diretor, penso que o cinema não é feito apenas de muito talento, forma e conteúdo, mas também por grandes apaixonados pela sétima arte. Figuras algumas vezes excêntricas, pitorescas, mas que fazem do cinema um mecanismo tão concreto quanto abstrato, tão fantástico quanto real, presente e fundamental em nossas vidas. Para um homem que se considerava um diretor de uma tomada só, alcoólatra, ex- combatente de guerra que serviu seu país usando roupa íntima feminina por baixo da farda, penso que Ed Wood se deu bem com a prova do tempo e seus filmes estão sendo redescobertos após o filme de Tim Burton, onde o personagem título é interpretado por Johnny Depp. Algo do filme que gruda em nossas mentes depois que o assistimos, são as palavras que o personagem de Bela repete com sotaque húngaro várias vezes ao longo do filme, cuidado, cuidado. Cuidado com o grande dragão verde que se senta à sua porta. Ele devora criancinhas, rabos de cachorrinhos e grandes lesmas gordas... cuidado, cuidado. Essa é a síntese do trabalho de Ed Wood. Em seu filme, pedaços tão deslocados quanto esse citado, se juntam para fazer da obra um filme onde a estória central é o que menos importa." (Rafaela Zampiere)
Screen Classics (II)
Diretor: Edward D. Wood Jr.
5.911 users / 497 face
Check-Ins 66
Date 11/11/2012 Poster - ######## - DirectorMarc ForsterStarsBrad PittMireille EnosDaniella KerteszFormer United Nations employee Gerry Lane traverses the world in a race against time to stop a zombie pandemic that is toppling armies and governments and threatens to destroy humanity itself.[Mov 07 IMDB 7,1/10] {Video/@@@} M/63
GUERRA MUNDIAL Z
(World War Z, 2013)
''Quando a onda zumbi parecia ter terminado com a série de TV "The Walking Dead", este longa estrelado por Brad Pitt mostrou que os mortos-vivos ainda podiam ameaçar a humanidade. Como um ex-agente das forças da ONU, Pitt percorre o mundo em busca da cura para a epidemia que coloca em seu caminho legiões de zumbis, em ótimas cenas. O filme passou batido nos cinemas brasileiros, estreando no fervor das manifestações de junho. Agora é hora de assistir." (Thales de Menezes)
"O galã-herói certo, cenas de ação espetaculares e milhões de zumbis sobre a Terra. Para quem compreende o cinema trash como opção de diversão, isso basta. "Guerra Mundial Z",World War Z, escala Brad Pitt como um ex-agente da ONU afastado de missões perigosas e vivendo tranquilamente com a mulher e uma prole fofa. Mas, de repente, o planeta enfrenta um epidemia de zumbis. Milhares, por todos os lados. E quem é mordido vira um deles, claro. Querendo proteger sua família, o personagem de Pitt volta à ação e terá papel fundamental na investigação da praga, viajando de um país a outro enfrentando batalhões de mortos-vivos. O diretor Marc Forster fez um filme de ação impressionante, que nem sua conclusão um tanto frouxa consegue comprometer." (Thales de Menezes)
"Esses zumbis moderninhos não estão com nada. Um filme de ação movimentado e jamais excitante, ainda que traga boas cenas." (Alexandre Koball)
"Pipoca simples, direta e óbvia, sem conteúdo político como os filmes de Romero, mas com diversão simples para o público geral. É tipo o Mc Donalds dos filmes de zumbi: você se alimenta, mas daqui a algumas horas já tá com fome de novo." (Rodrigo Cunha)
"Um filme envolvente, cujo clímax deixa a desejar, pois aparenta ser muito apressado." (Josiane Ka)
"Os minutos iniciais concentram algumas das melhores cenas de ação que o subgênero já produziu. Na hora do desenvolvimento, de proporcionar a sugerida substância da trama, a rendição a todos os clichês do cinema comercial hollywoodiano. Ao menos ri. Muito." (Rodrigo Torres de Souza)
"De início promissor, o filme segue a cartilha tradicional e se torna corriqueiro." (Marcelo Leme)
Um morto-vivo do gênero.
''Quando realizou A Noite dos Mortos-Vivos, George A. Romero provavelmente não imaginou que aquelas criaturas de seu filme, com o tempo, viriam a se tornar um dos maiores ícones da cultura pop. Mesmo quase quatro décadas depois, os zumbis seguem presentes no imaginário popular, talvez hoje ainda mais adorados do que nunca. Nos últimos tempos, os mortos-vivos puderam ser vistos em diversas mídias e retratados das mais diferentes formas: pelas telonas ou pelas telinhas, já passaram zumbis cômicos, zumbis apaixonados, zumbis tratados como animais de estimação, zumbis lerdos, zumbis velocistas e até mesmo zumbis que não são mais zumbis. Como, portanto, apresentar algo novo a esse já saturado subgênero? No caso de ''Guerra Mundial Z'', a resposta a essa pergunta é uma só: acrescentando uma escala épica à produção. Dirigido pelo versátil Marc Forster, responsável por obras tão díspares quanto Em Busca da Terra do Nunca e 007 – Quantum of Solace, o filme aposta na grandiosidade como seu maior diferencial, apresentando – como diz o título – uma verdadeira guerra mundial contra os zumbis, com locações em diversos países e, literalmente, milhares e milhares de mortos-vivos sedentos por sangue. As cenas são impressionantes. Sem medo de utilizar planos aéreos, exatamente com a intenção de transmitir essa escala épica, e a computação gráfica, Forster cria instantes visualmente estarrecedores, com hordas de criaturas escalando muros gigantes e dominando cidades inteiras. São alguns dos momentos mais fantásticos que o cinema de zumbis já produziu. No entanto, infelizmente, ''Guerra Mundial Z'' pouco oferece além disso. Desde os primeiros minutos, o espectador já percebe estar diante de um filme que não irá se preocupar muito com história ou personagens: há apenas uma cena curta na qual é apresentada a família de Brad Pitt e, logo em seguida, a correria descerebrada já tem início. A partir daí, verdade seja dita, Forster consegue imprimir um ritmo alucinante à obra, reduzindo ao mínimo possível os momentos mais intimistas. Guerra Mundial Z salta de uma cena de ação de a outra sem muita parcimônia, com os personagens – e, por consequência, o próprio filme – sempre em movimento, o que garante energia e dinamismo. Porém, se por um lado a obra não se arrasta, por outro esse foco quase exclusivo na ação também resulta em uma experiência emocionalmente estéril à plateia. O roteiro, escrito por Matthew Michael Carnahan, Drew Goddard e Damon Lindelof (todos com bons trabalhos no cinema e na televisão) e adaptado de um livro de Max Brooks, parece ter sido escrito em total piloto automático. Não há qualquer tentativa de fazer a plateia conhecer de verdade Gerry Lane e sua família a ponto de se interessar ou de se preocupar com eles. Não apenas os momentos compartilhados entre eles são poucos, uma vez que o protagonista é separado da família logo no início, como também todas as cenas que poderiam gerar algum impacto dramático parecem ter sido cortadas ou tratadas de forma desleixada, como a saída da mulher e de suas filhas no navio. Como resultado, a experiência de assistir aos ataques dos zumbis se torna apenas visual, sem jamais causar alguma espécie de tensão ou sentimento. Além disso, o roteiro ainda sofre pela falta de desenvolvimento, ou ao menos de boa vontade por parte dos escritores. A investigação de Gerry, por exemplo, é incrivelmente fácil e superficial: basta ele chegar a algum lugar e a primeira pessoa com a qual fala já tem informações sobre a epidemia. E o fato de que ninguém sabia onde tudo começou, como fica? Na verdade, ''Guerra Mundial Z'', mais do que apenas um filme sem muita inteligência, é um filme que não respeita a inteligência dos espectadores. Em certo momento, no instante de epifania do protagonista, Forster e seus roteiristas preferem mostrar cenas e falas previamente vistas, em uma representação literal e desnecessária, como se a plateia não fosse capaz de entender o que o personagem descobriu. Como se não bastasse, a trama ainda é repleta de furos e incoerências (que fim levaram os pais do garoto Tomas, por exemplo? Aliás, qual a função dele na história mesmo? E atirar uma granada dentro de um avião? Sério?) e, ao contrário de boa parte das produções do gênero, não busca utilizar os zumbis como metáfora ou alegoria para algum comentário social; eles são comedores de pessoas, e só. E será que Carnahan, Goddard e Lindelof não se deram conta de que decepar um membro para evitar que a infecção se espalhe já foi visto há pouco tempo em The Walking Dead? Mas o roteiro de Guerra Mundial Z, mesmo que pouco episódico e genérico, ainda consegue apresentar algumas boas ideias. Certas falas deixam a impressão de que há algum resquício de cérebro por trás de tudo, como quando um personagem diz ao protagonista Cada ser humano salvo é um zumbi a menos para combater, uma frase realmente fatal em sua lógica. É uma pena, porém, que esses poucos lampejos de inspiração sejam arruinados pela abordagem excessivamente acelerada do filme. Em certo momento, por exemplo, o personagem de Brad Pitt entra em contato com um zumbi e, após matá-lo, corre diretamente para a beirada de um prédio para que, caso se transforme, não ponha em risco a sua família. É uma ótima ideia, que poderia render um instante de maior impacto, mas tudo é feito de maneira tão rápida que a intenção de Gerry pode até mesmo passar despercebida. Normalmente um diretor cujos trabalhos voltam-se mais à história e aos personagens, Marc Forster parece encontrar sérias dificuldades na condução das cenas de ação. Sim, quando aposta em planos amplos para ressaltar a imensidão dos ataques, o cineasta acerta no ponto. Porém, isso pode ser dito apenas de um ou dois quadros dentro de cada uma das grandes sequências, e são nessas que Forster demonstra sua falta de experiência com o gênero. Apostando em uma câmera em constante movimento e um trabalho de edição que pode ser chamado de epiléptico, o diretor compõe cenas de ação incrivelmente caóticas, nas quais é impossível ter a mínima ideia do que está acontecendo. É um trabalho equivocado, confuso e incompreensível, que não dá ao espectador qualquer noção de espaço ou da situação como um todo. Aliás, a melhor cena de toda a produção é aquela que se passa no laboratório, quando Forster deixa de lado a ação e acalma o ritmo, apostando na construção de um clima de suspense de verdade. O maior problema de Guerra Mundial Z, entretanto, não deve nem ao roteiro, nem à direção e muito menos ao trabalho preguiçoso de Brad Pitt no papel principal. O elemento que mais prejudica o resultado final da obra deve-se, muito provavelmente, às exigências do estúdio. O fato é que Guerra Mundial Z é um filme de zumbis no qual não há uma gota de sangue. É algo simplesmente inaceitável. Uma produção do gênero não somente fica melhor com o gore; ela precisa disso. Por que fazer um filme de zumbis se ele será asséptico, voltado às criancinhas? O resultado são momentos estranhíssimos nos quais a câmera de Forster simplesmente corta ou foge de momentos mais “pesados”. A plateia não vê as mordidas e pouco enxerga dos ataques. Até mesmo uma cena na qual o protagonista troca o curativo de uma personagem se acovarda. E isso em uma época na qual nem mesmo a televisão hesita em mostra mortos-vivos sendo decapitados e tendo seus cérebros explodidos. Como se tudo isso não fosse suficiente, ''Guerra Mundial Z'' ainda traz uma das cenas de merchandising mais patéticas que o cinema já viu. É apenas a gota d’água de uma produção repleta de equívocos, displicente e que fica muito abaixo de outros filmes estrelados pelos mortos-vivos. Ao sair da sala, o espectador fica com uma única pergunta na cabeça: quando começa mesmo a nova temporada de The Walking Dead?" (Silvio Pilau)
''Esta tentativa de dar novo fôlego às produções sobre zumbis deve encontrar certa resistência nos fãs do gênero. Guerra Mundial Z está longe de parecer um típico filme de zumbi. Está mais para misto de filme-catástrofe e drama familiar com flagrante falta de sangue. Isso porque era preciso fugir de uma classificação indicativa mais alta e assegurar o público adolescente nas salas de cinema. O longa dirigido por Marc Foster (007 – Quantum of Solace) é baseado em romance de Max Brooks, filho do cineasta e humorista Mel Brooks. Seu protagonista é Gerry Lane (Brad Pitt), ex-investigador da ONU chamado de volta à ativa após uma pandemia misteriosa começar a transformar seres humanos e mortos-vivos sedentos por abocanhar quem ainda não entrou para a turma. Lane faz um doce, como todo herói que se preze, mas aceita a empreitada para manter sua mulher e duas filhas em segurança num navio militar. Daí em diante ''Guerra Mundial Z'' vira um thriller itinerante. Lane vai a diversos países em busca de uma possível cura para o apocalipse zumbi. Suas andanças são pouco justificáveis tendo em vista que quase nada do que ocorre ao longo do caminho tem grande efeito sobre o desenlace da trama. Suas supostas habilidades como ex-funcionário da ONU, que fundamentariam seu tão imprescindível retorno ao trabalho, nunca vêm à tona. O que descobre com certa facilidade qualquer um perceberia com um pouquinho de observação. Neste vai e vem de Lane pelo mundo o filme não consegue desenvolver um arco crescente de tensão e pânico. As bem dirigidas cenas de confronto com os zumbis são empolgantes, mesmo que invariavelmente assépticas, e capazes de incutir certa ansiedade e angustia no espectador. São, todavia, pontuais e isoladas e tornam-se repetitivas por não se diferenciarem uma das outras. Boa parte dos mortos-vivos que se vê na tela é gerada por computação gráfica, vistos à distância, em massas amorfas. Quando entram em cena atores maquiados, estes são pouco assustadores, menos até do que os zumbis do clipe Thriller, de Michael Jackson. Falta terror em ''Guerra Mundial Z'' e sobra espetáculo técnico. Como na cena em que zumbis formam uma espécie de pirâmide de mortos-vivos para ultrapassar uma muralha gigante em Jerusalém. A tecnologia é bem-vinda nestas sequências que servem para dar a dimensão da invasão e poder de destruição da horda de cadáveres ambulantes, mas não houve compensação para se criar o temor e apreensão que se espera de um filme do gênero. A devastação vista em cada parada da turnê mundial do herói nem ao menos transforma-se em sentimento maior de desesperança, de fim próximo, de que pode-se estar morto daqui a alguns instantes. E esta sensação assoma ainda mais quando vemos o protagonista escapar incólume - e até com certa facilidade - de cenários cada vez mais improváveis. E mesmo que em quase nenhum momento Lane esteja tratando efetivamente de achar a cura, sabe-se que ela aparecerá diante de seus olhos como num insight. ''Guerra Mundial Z'' é um thriller que garante duas horas de diversão sem maiores pretensões na sala de cinema. A aspiração, se é que houve, de oferecer um novo olhar sobre os filmes de zumbi, definitivamente, não teve êxito." (Roberto Guerra)
''A raça humana possui um peculiar fetiche pelo fim do mundo. Seja por meio de pragas, meteoros gigantes, inundações, congelamento ou pelo fogo infernal, somos todos fascinados em especular como reagiríamos diante da aniquilação da nossa espécie. Isso porque esses apocalipses fictícios permitem o público refletir sobre sua própria existência e moralidade em um cenário impossível, algo próximo de um Kobayashi Maru pessoal. Atualmente, as armas do crime da moda para esses cataclismos são os zumbis, algo que faz sentido. Ora, tais criaturas são carcaças vazias de indivíduos que outrora foram seres humanos, metáforas perfeitas para tempos nos quais a superficialidade impera. Nisso, Brad Pitt percebeu o potencial do livro “Guerra Mundial Z”, de Max Brooks, e correu para assegurar os direitos de produzir sua versão para cinema. A despeito dos diversos problemas na manufatura do script (que contou com nada menos que quatro roteiristas trabalhando nele em momentos diferentes – Matthew Michael Carnahan, Drew Goddard, Damon Lindelof e J. Michael Straczynski), o texto final ficou interessante e corajoso, até determinado ponto. Pitt vive o ex-investigador da ONU Gerry Lane, que se retirou do seu perigoso emprego para dedicar-se à família. Quando uma misteriosa epidemia se espalha causando o apocalipse zumbi, Gerry é chamado para descobrir o local de origem da moléstia e uma possível cura. Em troca de sua perigosa peregrinação mundial, sua esposa e filhas serão mantidas em um local seguro. O diretor Marc Forster, cuja maior constante em sua diversificada filmografia foi seu apuro visual/narrativo, imprime um ritmo frenético à fita, algo que espelha a ferocidade de suas criaturas. Não esperem por monstros lentos aqui, mas sim verdadeiros animais raivosos, capazes de tudo por alimento e imbuídos da mentalidade de uma multidão descontrolada. A câmera de Forster, durante os dois primeiros atos da narrativa, raramente se aproxima dos zumbis, evitando detalhar seus rostos, mostrando-os de longe como multidões descontroladas e sem rosto. Nesses pontos da narrativa, a face dos zekes são enfocadas apenas de maneira pontual, quase sempre em planos extremamente curtos, visando assustar o público (especialmente com o uso do 3D). No terceiro ato, quando Gerry já tem uma maior familiaridade com os zumbis e a própria história pede uma maior exploração destes, Foster se permite alguns planos médios focados nos desmortos, valorizando o trabalho de maquiagem realizado por sua equipe, arriscando até mesmo um rápido plano subjetivo. Note-se ainda a ausência de sangue ou gore do filme, que prefere investir mais no suspense que no choque (e o fato que a ausência desses elementos diminui a classificação indicativa da produção também não é mera coincidência). Por conta disso, a história se foca muito na personalidade de seu protagonista. Rapidamente a película estabelece a personalidade de Gerry, seu cuidado com as filhas e a relação de cumplicidade para com a esposa. Também de modo econômico, suas qualidades profissionais são logo expostas, mostrando sua inteligência e capacidade para se adaptar rapidamente aos diferentes problemas que lhe são apresentados. Brad Pitt, único astro do projeto, mostra-se sempre à altura do papel, ao transmitir a sensação de urgência que o papel pede e jamais transforma Gerry em uma figura invencível, lhe dando a vulnerabilidade suficiente para que nos preocupemos com seu destino. A linha de raciocínio do personagem é sempre certeira e acompanhamos seu processo de decisão, que jamais parece forçado pelo roteiro. Por meio da relação de Gerry com os outros personagens, questiona-se a importância de conceitos como amor, lealdade e gentileza. Mesmo com esses coadjuvantes não sendo explorados de maneira mais profunda, eles estão longe de serem meros pedaços de carne a serem sacrificados ao zumbi em prol da diversão da audiência. Neste sentido, as principais figuras femininas do filme se destacam. Mireille Enos, como a forte esposa de Gerry, Karin, transmite por meio de olhares e meias-palavras toda a cumplicidade que seu casamento carrega. Já Daniella Kertesz vive a valente militar israelita que acompanha o protagonista e acaba roubando algumas cenas com suas atitudes. O experiente David Morse também tem uma participação curta em cena, que se tornou marcante graças à sua excêntrica atuação como um agente da CIA. A estrutura de três atos do longa é marcada por seis sequências de ação principais, bem realizadas e diferentes entre si, elaboradas de modo a não somente manter o espectador na ponta da cadeira, mas também a avançar a história. No ataque mais marcante, enquanto palestinos e israelenses finalmente deixam de lado suas diferenças territoriais e religiosas, uma turba de descerebrados transforma uma celebração de paz em uma carnificina, em um triste paralelo com o mundo real. A versão 3D usa (e eventualmente abusa) do expediente de jogar objetos contra o espectador, dando toque de filme b de monstros em dados pontos da projeção que até diverte, mas foge um pouco da proposta geral da produção e distrai excessivamente o público. Completando o espetáculo, a trilha sonora do experiente compositor Marco Beltrami e da banda Muse empolga e complementa a história, embora o tema principal acabe se mostrando excessivamente animado em alguns momentos. Tenso e eficiente, “Guerra Mundial Z” é uma boa adição aos diversos fins do mundo que o cinema nos proporcionou, tendo coragem de adentrar em alguns temas mais espinhosos sem diminuí-los e sem abandonar sua proposta mais pop." (Thiago Siqueira)
''Depois que George Romero reimaginou os zumbis da forma que conhecemos hoje no clássico A noite dos mortos vivos e os transformou em uma alegoria para discutir certos aspectos da sociedade moderna norte-americana, beligerante, selvagem e alienada, vários cineastas infectaram-se pelo gérmen da ideia e a expandiram em um subgênero com regras particulares, que tem sobrevivido na mente dos fãs ávidos de terror apesar da escassez criativa e da satirização excessiva do conceito – lembrem-se do romance Meu Namorado é um Zumbi. Então, o que a problemática superprodução Guerra Mundial Z, possivelmente a mais cara do cinema após refilmagens e discussões nos bastidores inflarem o orçamento original, teria a acrescentar que Extermínio ou Eu sou a Lenda não fizeram com competência recentemente? A resposta é a ação madura em escala global, o debate geopolítico contemporâneo e um esforçado e seguro Brad Pitt no papel central. Adaptado do livro de Max Brooks, o qual ainda não li, por roteiristas versados em áreas distintas, Guerra Mundial Z combina surpreendentemente bem o teor político de Matthew Michael Carnahan (Intrigas de Estado), o terror de Drew Goddard (Cloverfield – Monstro e O Segredo da Cabana) e a ficção de Damon Lindelof (série Lost, Prometheus e Além da Escuridão – Star Trek), e, além de tudo, é dirigido por Marc Forster dos dramas intimistas A Última Ceia, Em Busca da Terra do Nunca e O Caçador de Pipas. Essas influências temperam a pandemia iniciada depois que uma cepa assustadoramente contagiosa da raiva transformou grande parte da humanidade em zumbis (ou zekes), dos quais o ex-membro da ONU Gerry Lane (Brad Pitt) refugia-se em um dos porta-aviões da organização. Só que para garantir a estada segura da esposa Karin (Mireille Enos) e das filhas, Gerry precisará realistar-se e ajudar um virologista a encontrar o paciente zero da infecção. Desse ponto em diante, a narrativa sofre uma vertiginosa queda em qualidade do excepcional thriller de sobrevivência dos 30 minutos iniciais até satisfazer-se com um jogo de detetive em que Gerry, na busca de pistas que o levem à sonhada cura, salta por diversos países, que rivalizam em quantidade com os visitados por James Bond, percorrendo um cenário apocalíptico desgastado e carente de boas opções senão as características tomadas aéreas do caos, de nuvens de fumaça e explosões. O mais curioso nisso é que Gerry, um especialista em missões de campo, age como um catalisador de problemas ou ao menos um azarado imã de zekes, conduzindo o roteiro a um esquematismo perdoável em que cada nova descoberta não vem sem uma grandiosa sequência de ação a tiracolo. Estas, embora pequem por excesso, afinal há poucas maneiras que os zekes podem atacar, impressionam pela voracidade das criaturas que se movimentam como se fossem formigas atraídas por um punhado de açúcar, aglutinando-se uns sobre os outros. A propósito, ao lado dos montadores Matt Cheese (seu colaborador habitual) e Roger Barton (Transformers), Marc Forster revela-se inseguro nas furiosas cenas de ação que, retalhadas por cortes rápidos, cuja velocidade é potencializada por um 3D que ainda escurece a fotografia, torna quase incompreensível o entendimento do que está acontecendo e de quem está atacando ou sendo atacado, o que fica evidente durante a sequência nas escuras escadarias de um prédio. Entretanto, caso você, que conhece meu profundo desprezo por filmagens dessa maneira, esteja se questionando, o resultado desse nonsense expõe com eficiência a confusão dos próprios personagens durante os ataques, e ajuda o fato de que é bastante intuitivo distinguir entre um zeke, que está tentando morder alguém e saltando sobre a tela – o emprego míope do 3D -, e um humano não contaminado, que está basicamente correndo para onde o nariz aponta. Reconhecendo desde o início a seriedade da ameaça em seu tom – diferente de minha ironias exageradas -, a narrativa reflete acerca dos sacrifícios que a humanidade estaria disposta a realizar para proteger o bem maior, sem se acovardar detrás de soluções fáceis como as apresentadas em Contágio. O mecanismo da camuflagem, então, é a melhor forma de ilustrar o desesperador estágio que os sobreviventes atingiram, em que nem arremessar uma granada dentro de um avião pode ser uma atitude condenada se esta for a única opção restante. Neste contexto, Brad Pitt surge como um protagonista emblemático, mesmo que o roteiro às vezes insista em vesti-lo de super-herói: relutante a princípio e nitidamente esgotado – mérito das olheiras fundas -, Gerry é inteligente no emprego do ursinho de pelúcia da filha para temporizar a transformação em zekes, abnegado e perseverante apesar das reduzidas chances de sucesso da missão. Homenageando os zumbis clássicos de Romero (você verá quando), ''Guerra Mundial Z'' é da melhor espécie de blockbuster, um que discute política a partir da reação das grandes nações e escancara o despreparo do serviço mundial de saúde em lidar com epidemias globais, dentro do invólucro de um épico apocalíptico liderado por um astro exemplar."(Marcio Sallen)
Paramount Pictures
Skydance Productions
Hemisphere Media Capital
GK Films
Plan B Entertainment
2DUX²
Apparatus Productions
Latina Pictures
Diretor: Marc Forster
393.343 users / 126.694 face
Soundtrack Rock = Muse
Check-Ins 612 46 Metacritic
Date 25/06/2014 Poster - ##### - DirectorJim JarmuschStarsForest WhitakerHenry SilvaJohn TormeyAn African-American Mafia hit man who models himself after the samurai of old finds himself targeted for death by the mob.[Mov 04 IMDB 7,6/10] {Video/@@@@} M/67
GHOST DOG - MATADOR IMPLACÁVEL
(Ghost Dog: The Way of the Samurai, 1999)
''Ghost Dog (Forest Whitaker) é um samurai dos tempos modernos que, ao mesmo tempo em que atua como matador de aluguel, serve com devoção ao homem que salvou sua vida quando era criança, Louie (John Tormey).'' (Filmow)
****
''Não foram poucos os cineastas e músicos cultuados nos anos 80 que entraram em frangalhos na década seguinte. O diretor Jim Jarmusch é um deles. O impacto de filmes como Daunbailó reverbera na memória afetiva até hoje - como confirmou uma sessão do filme em recente reapresentação em São Paulo. Mas o culto um dia acaba. Seguem-se produções sem brilho e a descrença do público. Foi em 99, com "Ghost Dog", que Jim Jamusch tentou provar não ser assunto encerrado. Ao contar a saga de um samura negro, ele retoma sua fixação pelos estrangeiros perdidos em terras desconhecidas. É um retrato melancólico, de tons absurdos e ridículos, do niilismo convertido em crença." (Bruno Yutaka Sato)
1999 Palma de Cannes / 2000 César
Top Alemanha #47
Pandora Filmproduktion
Arbeitsgemeinschaft der öffentlich-rechtlichen Rundfunkanstalten der Bundesrepublik Deutschland (ARD)
Degeto Film
Plywood Productions
Bac Films
Canal+
JVC Entertainment Networks
Diretor: Jim Jarmusch
64.942 users / 5.791 face
Check-Ins 600 31 Metacritic
Date 14/08/2014 Poster - ##### - DirectorStephen SommersStarsDennis QuaidChanning TatumMarlon WayansAn elite military unit comprised of special operatives known as G.I. Joe, operating out of The Pit, takes on an evil organization led by a notorious arms dealer.[Mov 02 IMDB 5,7/10 {Video/@} M/32
G.I. JOE - A ORIGEM DA COBRA
(G.I. Joe: Rise of Cobra, 2009)
"Quase duas horas mais comprido do que deveria ter sido." (Alexandre Koball)
"Comparando-o diretamente com seu criticado irmão mais rico, Transformers 2: não tem o mesmo carisma, os efeitos são infinitamente inferiores e não tem Megan Fox." (Rodrigo Cunha)
"Um festival de ausências e excessos: ausência de inteligência, de personagens interessantes e de diversão; excesso de CGI, piadas sem graça e diálogos constrangedores. Juro que não entendi nada do que aconteceu nos últimos vinte minutos." (Silvo Pilau)
"Uma menino com seus brinquedos elaboraria uma história muito, mas muuuuito melhor." (Marcelo Leme)
Cenas de ação ininterruptas e nenhuma inteligência.
“... a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido. No trecho acima, o escritor português José Saramago estava se referindo a um novo meio de comunicação em rede, mas é fácil identificar nas palavras do Nobel de literatura uma correlação muito próxima também a outras mídias. O cinema é uma delas. Apesar de ter se consolidado ao longo da história como um dos mais eficazes meios de se contar uma história, o Cinema, sobretudo o estadunidense, parece estar perdendo esta vocação. Quem dita as regras de concepção de um filme, no nosso tempo, não são mais os roteiristas, mas os departamentos tecnológicos dos grandes estúdios. A preocupação primordial agora é trazer o máximo de inovação em efeitos, que aliados à grandes campanhas de marketing, tentam tirar os adolescentes – principais consumidores – da internet e levá-los aos cinemas, dotados de telas em três dimensões, IMAX e afins. Não é de se estranhar, portanto, que há anos os principais filmes vindos de Hollywood tenham se baseado em histórias em quadrinhos, séries de televisão, internet, videogames, chicletes e, agora, brinquedo. É o ápice do descrédito intelectual. Não à toa a maior bilheteria do ano pertence à atrocidade Transformers: A Vingança dos Derrotados. E chega mais um exemplar destes aos cinemas, ''G.I. Joe - A Origem de Cobra''. Baseado nos Comandos em Ação, brinquedos que muito sucesso fizeram no Brasil durante a década de 1980, este novo filme produzido por Brian Goldner (não por acaso o mesmo produtor dos dois Transformers) repete à exaustão a forma de fazer filmes que está em voga: muita pirotecnia visual, efeitos sonoros atordoantes, edição picotadíssima e zero de argumento, zero de história, zero de inteligência. É um filme pensado a partir das cenas de ação que se pretende apresentar, com o miolo narrativo cada vez mais espremido entre elas. Talvez seja ao que Saramago estava se referindo. ''G.I. Joe - A Origem de Cobra'', por exemplo, nem se dignifica a localizar o espectador, desenvolver personagem, criar um clímax pontual. Sabe-se apenas que uma arma nanotecnológica capaz de destruir elementos metálicos é roubada por uma organização criminosa chamada Cobra e que um esquadrão de elite internacional, os Comandos em Ação, quer dizer, os G.I. Joe, tem o dever de recuperá-la. Para isso, haverá uma enorme e bem bolada sequência de perseguição pelas ruas de Paris – não é preciso ser muito esperto para descobrir que a Torre Eifel é o alvo -, que realmente impressiona (apesar dos efeitos, em diversos outros momentos do filme, não serem de todo satisfatórios). Pela primeira vez no filme, nesta sequência específica, as coisas ficam mais claras, mocinhos e vilões já estão bem definidos e a tentativa de montar o quebra-cabeças errático do pseudo-roteiro já tem algum resultado, levando finalmente o espectador a fruir alguma sensação puramente sinestésica. De resto, o filme de Stephen Sommers (o mesmo responsável por A Múmia e do tenebroso Van Helsing - O Caçador de Monstros) se utiliza dos flashbacks para tentar dar algum background aos personagens (todos arquétipos já usados à exaustão) e também para criar os intervalos necessários entre as sequências de adrenalina. Há também a vexaminosa revelação de um vilão, atuações canhestras, um final apressado e uma deixa para a sequência, que não tardará a vir. Espero não estar grunhindo até lá." (Andy Malafaya)
Depois de Transformers, novos brinquedos chegam ao cinema para divertir o público.
''O que mais tenho lido e ouvido sobre ''G.I. Joe - A Origem de Cobra''(G.I. Joe - The Rise of Cobra, 2009) é: Até que me diverti e Não é tão ruim quanto pensava que ia ser. E a partir disso é fácil tirar duas conclusões: 1. os vídeos mostrados até agora não inspiravam confiança ou causavam nenhum tipo de empolgação; 2. com uma expectativa tão baixa, é mesmo mais difícil ficar decepcionado... o que não necessariamente quer dizer que o filme seja bom. Agora, antes de mais nada, vamos lembrar quem são os G.I. Joe, que no Brasil nasceram como Falcon e depois, na versão reduzida dos anos 80, viraram Comandos em Ação. Se Deus primeiro criou Adão e de uma de suas costelas criou Eva, o pessoal da Hasbro viu no sucesso da Barbie a oportunidade de lucrar fazendo bonecos para os meninos. E nada mais masculino do que bonecos de ação, ou action figures - sim, foi por causa dos G.I. Joe que o termo "action figures" (figura de ação) se popularizou. Não fossem eles, os meninos estariam até hoje brincando com dolls (bonecas). Mas foi nos anos 80, pegando carona do sucesso que os brinquedos da série Star Wars estavam fazendo, que a Hasbro relançou os G.I. Joe, agora com cerca de 9.5cm, contra os 30 cm da versão anterior. Para ajudar a reforçar a marca, essa época também teve as HQs com os personagens publicadas pela Marvel em uma ação conjunta das duas empresas, que tinham comerciais na TV que ao mesmo tempo divulgavam os quadrinhos e a marca dos bonecos e trazia lucros para todos. E daí veio o desenho animado de 1985 e o estrago estava feito nos bolsos dos pobres pais, que tinham de se esquivar de comprar não apenas bonecos mas também jipes, aviões, bases e o que mais aparecesse pela frente. E agora, nos anos 2000, vendo o sucesso que o filme Transformers (2007) fez nos cinemas, nada mais óbvio do que ver os velhos Joes correndo mais uma vez na cola dos outros, pegando o vácuo e fazendo mais dinheiro para a Hasbro e quem quer que esteja aliado a ela. E nenhum verbo poderia ser melhor utilizado aqui do que "correr". Para conseguir entregar o script antes que a greve dos roteiristas se iniciasse foram chamados nada menos do que cinco pessoas, que seguiam as ordens do chefe dessa verdadeira operação de guerra, Stephen Sommers. E acho que não é precipitado dizer que foi aqui que a desconfiança começou a nascer. Sommers tinha como ponto alto de sua carreira (e bastante explicitado no pôster e no trailer do filme) a criação da série A Múmia (1999). Mas ele também tem no seu curriculo o vexaminoso Van Helsing - O Caçador de Monstros (2004), seu último trabalho. Junte isso a uma série de trailers genéricos e carregados de computação gráfica sem novidades e não demora muito para surgir o boato de que Sommers havia sido demitido depois que sessões-teste do filme apontaram notas baixas e um descontentamente geral do público. Tudo prontamente desmentido, é claro, mas a essa hora o ventilador da Internet já havia espalhado a sujeira para todos os lados. E como se já não houvesse uma aura negativa o suficiente ligada ao projeto, o longa-metragem não foi exibido à imprensa dos Estados Unidos, o que só ocorre quando os produtores estão com medo das críticas negativas e escondem o produto final da mídia. É a desculpa "deixe o público decidir por si só", que os executivos de Hollywood gostam de usar quando sabem que têm uma bomba nas mãos. Talvez pela boa performance dos filmes anteriores do Sommers nos mercados exteriores, talvez pelo time internacional que são esses G.I. Joe de agora, o Brasil ficou de fora desse embargo e podemos já adiantar que todo o temor é infundado. ''G.I. Joe - A Origem de Cobra'' é talvez o mais divertido blockbuster desse verão americano. Porém, há de se lembrar que este ano estamos nivelando por baixo, afinal, nem X-Men Origens: Wolverine, nem Transformers 2 são primores de história e Harry Potter e o Enigma do Príncipe é mais um prelúdio para o final do que um filme por si só. Na trama, os G.I. Joe são um grupo de soldados de elite das mais diferentes nacionalidades que usa a mais moderna tecnologia para deter o corrupto vendedor de armas chamado Destro e o surgimento da cada vez mais poderosa e ameaçadora organização chamada Cobra, que quer acabar com o mundo como conhecemos. A verdade é que apesar do exagerado e (algumas vezes) desnecessário uso de computação gráfica em cenas como a perseguição nas ruas de Paris, Sommers soube como equilibrar ação e situações cômicas... e mais ação. E até quando ele erra, inserindo no filme um número maior de flashbacks que o necessário, ele faz com um motivo: não dar tempo ao público relaxar e, assim, cada uma daquelas piscadas mais lentas que traz memórias antigas, vem recheada de mais cenas de ação. É assim até o desfecho em uma batalha subaquática que mais uma vez peca pela falta de realidade vinda da computação gráfica. Sem surpresas quanto à história (bom, talvez uma lá no final, que é até bem interessante), o roteiro usa todas as fórmulas conhecidas de Hollywood e entrega tudo mastigado para o espectador, que não tem como sair do filme com dúvida de quem é quem e porque estava agindo daquele jeito. Novamente, é um nivelamento por baixo, mas que desta vez tem tudo para funcionar. Resumindo, G.I. Joe - A Origem de Cobra até que não é tão ruim quanto pensava que ia ser e, sim, eu me diverti." (Marcelo Forlani)
Top 100#3 Cineplayers (Bottom Usuário)
Paramount Pictures
Spyglass Entertainment
Hasbro
Di Bonaventura Pictures
Diretor: Stephen Sommers
146.206 users / 5.961 face
Soundtrack Rock = The Black Eyed Peas
Check-Ins 108
Date 07/02/2013 Poster - # - DirectorHugh HudsonStarsChristopher LambertAndie MacDowellRalph RichardsonA missing heir of respected Scottish family, raised in African jungles by animals, finally returns to his estate only to realize that difference between the two worlds is really significant.[Mov 03 IMDB 6,2/10 {Video/@@}
GREYSTOKE - A LENDA DE TARZAN - O REI DA SELVA
(Greystoke: The Legend of Tarzan, Lord of the Apes, 1984)
''No século XIX, um navio naufraga perto da selva africana e um casal consegue chegar em terra firme. A mulher estava grávida e tem seu filho em uma casa nas árvores. Algum tempo depois os pais do menino são mortos por animais e ele é criado por uma macaca, que tinha perdido seu filhote. Ele cresce como se fosse um símio, mas após 20 anos, ele é descoberto e volta a civilização, onde é herdeiro de uma grande fortuna. Mas a adaptação com esta nova realidade é estranha demais para ele.'' (Filmow)
"É interessante a idéia de contar as origens de Tarzan de um modo mais realista e como um filme de época, mas nada supera as aventuras estreladas por Johnny Weissmuller nos anos trinta." (Vlademir Lazo)
57*1985 Oscar / 1985 César / 1984 Lion Veneza
Warner Bros Pictures
Edgar Rice Burroughs Inc.
WEA Records
Diretor: Hugh Hudson
12.958 users / 476 face
Check-Ins 113
Date 22/12/2013 Poster - ##### - DirectorAbbas KiarostamiStarsHomayoun ErshadiAbdolhosein BagheriAfshin Khorshid BakhtiariAn Iranian man drives his car in search of someone who will quietly bury him under a cherry tree after he commits suicide.[Mov 04 IMDB 7,7/10] {Video/@@}
GOSTO DE CEREJA
(Ta'm e guilass, 1997)
TAG ABBAS KIAROSTAMI
{inspirador}Sinopse
''Badii é um senhor amargurado que quer cometer suicídio, mas para fazer isso quer que alguém o ajude - como enterrá-lo no local adequado, por exemplo. Todos se recusam por várias diferentes razões, até que encontra um turco que também tentou se suicidar no passado.''
''O despiste é uma parte essencial da arte de Abbas Kiarostami e é a essência mesmo de "O Gosto da Cereja". O filme nos mostra a trajetória de Badii, homem de meia-idade disposto a se suicidar, que busca alguém para se ocupar de seu corpo após a morte. Badii viaja por uma região desértica, com seu carro vai encontrando as pessoas a quem dá carona, e a cada uma com quem conversa expõe seu plano. Encontra resistências, é óbvio, mas, mais do que tudo, escuta conselhos sobre a vida, seu caráter sagrado etc. Escutamos os argumentos de ambos os lados, mas sempre mantemos a convicção de que o essencial escapa. Ou seja, nunca nos é dito por que esse homem deseja se suicidar. Correu, na época do lançamento do filme, que esse homem seria homossexual, o que configuraria um duplo crime diante da lei islâmica (o primeiro sendo o suicídio). A explicação está longe de ser convincente, ao menos à luz do que se vê no filme: Badii surge apenas como um sujeito com um carro em busca de alguém que preste um serviço. Não é do feitio de Kiarostami agitar questões polêmicas, e não porque fuja delas. É que seu cinema funciona como um espelho. Ele nos dá exatamente o que dele recebemos. Como num espelho, o que vemos é o que expomos. O que retiramos da imagem é o que lhe damos." (* Inácio Araujo *)
''Com Abbas Kiarostami entramos no domínio dos grandes criadores contemporâneos. Inventor de um cinema presente, trata, em princípio, de suicídio em "Gosto de Cereja". O tema poderia, no entanto, ser o amor entre dois jovens, ou o sentido de responsabilidade de duas crianças... Aqui há um homem, Badii, que procura alguém disposto a ajudá-lo a suicidar-se, sendo que o suicídio, nessa sociedade, é uma abominação. O assunto será levantado durante as conversas entre Badii e as pessoas a quem dá carona. Conversas que Abbas filma assim: quando é o carona que aparece, quem faz as perguntas é, na verdade, o cineasta. Quando Badii está em cena, quem dialoga pelo carona é Abbas. Assim o diretor iraniano consegue deixar que o improviso ganhe livre curso, sem perder o controle sobre ele. O resultado é notável.'' (** Inácio Araujo **)
****
''Os filmes de Abbas Kiarostami podem ser um desafio. E só serão aceitos por quem tope a aventura. Em "Gosto de Cereja'', aliás, é de um desafio que se trata. Ali, um homem em seu automóvel busca alguém que lhe faça um favor bem especial. Não é bem um favor, é um pouco mais: matá-lo, talvez? Talvez seja o gosto da conversa. Talvez seja escutar o que cada uma das pessoas com quem dialoga tem a dizer. Enquanto conversam, o carro descreve trajetórias por caminhos mal traçados, tão típicos de Kiarostami. E desta vez, neste filme que deu a Palma de Ouro ao cineasta, por uma paisagem particularmente árida.'' (*** Inácio Araujo ***)
Um filme que faz pensar, cheio de simbolismos. Uma obra-prima do cinema iraniano.
''Um turco foi ao médico e disse: Quando toco meu pescoço dói, quando toco minha cabeça dói, quando toco meu corpo dói'. O médico respondeu: Não tem nada de errado com seu corpo, é seu dedo que está machucado. Esta piada certamente passará batida por grande parte da audiência, como simplesmente um (raro) momento de descontração no filme, ou como uma alegoria ao drama do personagem principal que, de acordo com o autor da piada, deveria olhar as coisas sob outra perspectiva. Mas o fato é que ela se endereça muito mais a nós, espectadores, que propriamente ao personagem. Gosto de Cereja é, por muitos, considerado a obra-prima do cineasta iraniano Abbas Kiarostami, e um dos mais importantes filmes dos anos 90. Longe de mim discordar, mas estas mesmas pessoas tendem a simplificar por demais esta obra, o que é uma pena, pois é um filme extremamente reflexivo e que merece (e necessita) mais de uma ou duas seções. Ele conta a estória de Badii, um cidadão de classe-média em seus 50 anos que perambula pelos arredores de Teerã em busca de alguém que possa enterrá-lo depois de suicidar. Muitas das obras mais emocionalmente complexas do cinema foram feitas sob estórias incrivelmente simples e mundanas - vide obras de Yasujiro Ozu e Jacques Tati - e com este filme não é diferente. Eliminando-se uma trama engenhosa, que certamente prenderia toda a atenção do espectador à ela, o filme pode se concentrar em trabalhar questões mais fundamentais, e dar-nos tempo para reflexão. Reflexão esta que se alastra por muito após o término do filme, já que no final nada se explica, e tudo se confunde. Badii é um homem amargurado e quer morrer. Esta é provavelmente a única certeza que temos o filme inteiro. Não sabemos quem ele é, nem os motivos que o levam a optar pelo suicídio. Em uma conversa com um seminarista afegão, ele fala que seu sofrimento acaba causando sofrimento aos outros, familiares, amigos... e este é o máximo que conseguimos extrair de seus sentimentos. Pode soar estranho para alguns, mas este relacionamento imparcial que temos com Badii contribui muito para a estória, já que nos livra de qualquer carga moral que carregamos, e nos possibilita analisar a situação por uma lente mais objetiva. Badii passa quase o filme inteiro procurando alguém que esteja a fim de enterrá-lo, sem jamais revelar seus motivos, o que joga toda a responsabilidade da decisão em cima da pessoa. Venha até esta árvore às 6 da manhã do dia seguinte, olhe no buraco e chame por mim; se eu responder, me ajude a sair; senão, jogue 20 pás de terra sobre meu corpo. Qualquer das duas, depois você pega 200 mil tomans que estarão em meu carro e pode ir embora, ele pergunta insistentemente. Você aceitaria? Como já dito antes, Badii passa quase o filme inteiro andando pra lá e pra cá em sua Range Rover, nas periferias da cidade, um lugar montanhoso e árido, com muitos locais de mineiração, procurando alguém disposto ao serviço. Ele passa por muitos grupos de homens, mas prefere sempre alguém que esteja só (mais sobre isto depois). Especificamente, ele aborda seis pessoas, sempre convidando elas para dar uma volta de carro. Os dois primeiros, trabalhadores de obras, logo recusam (um por não estar interessado, outro por não se julgar capaz de qualquer serviço não sendo catar sacos plásticos). O terceiro, um jovem curdo que está servindo ao exército, aceita a carona mas, à medida em que Badii explica de que se trata o estranho serviço, o jovem vai ficando cada vez mais amedrontado, e logo foge. O quarto, um vigia afegão de um sítio de obras desativado, recusa o convite por estar de serviço, mas o amigo deste, um também afegão seminarista recém-formado, aceita. No caminho, eles debatem sobre as questões do suicídio: o seminarista defende que Deus nos dá o corpo, e que se matar é o mesmo que matar a qualquer outra pessoa; entretando, Badii argumenta que sua infelicidade também afetava os outros, e causar sofrimento também é pecado. Depois de uma breve conversa, o seminarista entende o ponto de vista do sujeito, mas nega o serviço por ser contra as leis do Corão. Badii então chega à sexta pessoa, que finalmente aceita o serviço (na verdade, há uma elipse que pula o encontro deles e toda a conversação, então não dá pra saber ao certo se houveram outros antes deste). O homem se chama Sr. Bagheri, é um velho taxidermista turco que só concorda com o plano porque precisa muito do dinheiro para ajudar o filho doente. Mesmo assim, ele ainda tenta convencê-lo de diversas maneiras a não se matar. Ele conta um caso próprio de anos atrás, quando uma discussão com a esposa o levou a tentar o suicídio. Ele havia levado uma corda para se enforcar numa árvore, mas antes de cometer o ato, resolveu comer uma amora da árvore. Gostou tanto que provou outra, e outra, e mais uma... aí ele começou a apreciar o nascer do sol, depois viu um grupo de crianças indo para a escola, decidiu poupar sua vida e levou uma cesta de amoras para casa. Ele então conta a piada que abriu esta crítica e argumenta que tudo tem um outro lado, logo então perguntando se Badii estava ponto para abdicar de todos os prazeres da vida (entre eles, o gosto da cereja). A conversa logo termina quando eles chegam ao museu de história natural, onde Bagheri trabalha. Há uma relação interessante entre os três homens que concordam em entrar no carro de Badii. Cada um é de uma nacionalidade diferente (respectivamente, Curdistão, Afeganistão, Turquia - todos expulsos por guerras); o primeiro é um soldado, o segundo é seminarista, o terceiro é taxidermista (respectivamente, exército, religião e ciência); o primeiro é jovem, o segundo é adulto, o terceiro é velho, e suas reações refletem um estado de constante evolução (respectivamente, medo, curiosidade, sabedoria), e cada uma dessa reações fazem Badii refletir um pouco mais. Depois da conversa com o soldado, ele anda pelos terrenos de escavação com a mente tortuosa, e quase põe o carro montanha abaixo. Depois de conversar com o seminarista, ele pára numa obra, e fica observando os minérios serem despejados numa vala (notem a justaposição da sombra dele sobre as pedras rolando - numa alegoria ao seu próprio enterro). Depois da conversa com Bagheri então, ele fica tão atordoado que volta para o museu, para pedir que o velho cientista jogue umas pedras nele no dia seguinte, para garantir que ele esteja mesmo morto. Por que alguém disposto a morrer se preocuparia tanto em garantir que estaria morto? Há outros exemplos. Por que ele se amedrontou tanto ao subir a escada do vigia? Por mais perigosa que fosse, tanto faz, ele vai morrer mesmo. Ou: por que ele negou o omelete do vigia, dizendo que lhe faria mal, ou teve o trabalho de voltar ao seu apartamento pela manhã para apagar as luzes que tinha esquecido acesas? Claro, podem haver respostas satisfatórias para essas perguntas, talvez ele tivesse horror à luz acesa, ou quisesse evitar uma indigestão e uma queda no seu último dia de vida, mas não conhecemos o suficiente dele para chegarmos à estas conclusões, deixando seus motivos mais uma vez em aberto. Mas na minha interpretação, toda essa busca de Badii para morrer é na verdade uma busca para continuar vivo. Ele poderia muito bem ter caído morto no buraco (ele não parece muito religioso para ligar para enterro, já que está disposto a quebrar uma das leis islãmicas), ou contratado um dos muitos operários numa praça no começo do filme, desesperados por emprego. Ao contrário, Badii queria uma testemunha, alguém a quem ele pudesse compartilhar o sofrimento, não o sofrimento que o levou ao suicídio, mas o sofrimento do suicídio em si. Por isso a importância da volta de carro, a importância de se procurar alguém sozinho, evitando os grupos de trabalhadores. Solidão, aliás, é um tema recorrente neste filme. Badii fala da sua época no serviço militar como a melhor de sua vida, onde ele fez mais amizades, mas o jovem soldado curdo andava sozinho pela cidade (em oposição aos grupos de soldados que vemos mais à frente no filme); o vigia afegão, apesar de estar com um compatriota visitando-o, também estava sozinho; e, é claro, a solidão do próprio Badii, que não parece ter nenhum amigo ou familiar a quem recorrer. Este sentimento de solidão é carregado até para as gravações, já que nenhum dos atores se encontrou nas filmagens, exceto Badii e Bagheri (que fazem uma cena juntos), o resto foi tudo filmado separadamente e juntado num curioso exercício de edição. Agora, o final do filme. É nesta parte que as opiniões vão para 8 ou 80, alguns chamam-no de pretencioso, outros de genial, mas é impossível ficar indiferente. Badii acaba de pedir para que Bagheri garanta que ele esteja morto quando for buscá-lo pela manhã, e volta para casa. Vemos ele então em seu apartamento, a câmera do lado de fora, só conseguimos distinguir seu vulto perambulando lá dentro, apagando as luzes e saindo. Não se sabe se ele toma ou não os soníferos. O dia está apenas começando a amanhecer, ele pega um taxi que o leva para o local onde foi cavada sua cova. Ao invés de dirigir, ele pegou um taxi. Por quê? Isto nunca é explicado, mas ele carrega o dinheiro numa sacola. Ele se deita no buraco, e o tempo fecha. Logo começa a chover. A tela se escurece por alguns segundos, e somos apresentados então à uma gravação em vídeo do local de morte de Badii. Vemos Kiarostami e sua equipe gravando uma cena onde um grupo de soldados marcha pelas caminhos da montanha, e o ator Homayon Ershadi, que interpreta Badii, lhe oferecendo um cigarro. Kiarostami diz aos soldados pelo walkie-talkie que a cena acabou, e que iam fazer a gravação de som agora. A câmera de vídeo vai então pro outro lado da montanha, onde o grupo de soldados descança ao sol, todos com ramos de flores nas mãos. Então sobem os créditos, ao som de St. James Infirmary, de Louis Armstrong. Ok, o que pensar sobre este final um tanto abrupto, e certamente inesperado? Essa "desconstrução da quarta parede" , onde se mostra a realidade por trás do filme, já foi usada várias vezes (E La Nave Va e Banzé no Oeste me vêm à mente), cada uma com um propósito diferente (e nenhum deles apenas de mostrar que estamos vendo um filme, como insistentemente propõem alguns críticos). Quando perguntado sobre o filme, Kiarostami falou que a era de um cinema puramente narrativo havia se esgotado, e que agora era hora de propor algo que fizesse as pessoas pensar, que este distanciamento final do espectador com o personagem faria-nos refletir as questões propostas no filme para sua própria vida. Com relação à isto, Kiarostami obteve sucesso, já que, apesar de termos um impacto emocional menor, somos capazes de olhar o filme de uma maneira mais objetiva, analítica, reflexiva, que é o que ele pretendia desde o começo ao nos negar os motivos do suicídio de Badii, e de nos negar a ver o que acontece no fim das contas. Esta filmagem final dá muito mais vida à paisagem, com campos verdes e árvores floridas, em contraste com a aridez que se apresentava durante todo o filme. Isto, junto com a imagem dos jovens soldados rindo, conversando e colhendo flores, possa ser um indício de que Badii finalmente encontrou paz, seja ela na vida ou na morte. Tecnicamente o filme também impressiona, com uma fotografia muito bonita (porém seca) da região montanhosa dos arredores da cidade. A edição também é brilhante, não só pelo motivo citado há alguns parágrafos acima, mas também por conferir um ritmo excelente ao projeto. Sentimos o tempo passar vagarosamente, como o peso de um eterno último dia, onde tudo está sendo experimentado pela última vez (o contraste de visões de alguém prestes a morrer e alguém que não é mostrado numa conversa entre Badii e o vigia, quando o primeiro diz achar a região lindíssima, enquanto o segundo comenta que é apenas um bando de terra e poeira). Narrativamente o filme também inova, já que é um road movie onde o personagem roda, roda, e não chega à lugar algum. Se este é ou não é a obra-prima do diretor, ou um dos filmes mais importantes da década, cabe a cada um dar sua opinião (opinião que provavelmente resultará da cena final), mas como o próprio Kiarostami disse, a proposta do filme e nos fazer pensar e, ao menos neste aspecto, ele é unanimamente bem-sucedido." (Roberto Ribeiro)
''O Rei Está Morrendo é uma das peças teatrais mais complexas que já li. O texto, do mestre do Teatro do Absurdo Eugène Ionesco, fala sobre um Rei que é convencido por uma de suas rainhas e pelo Médico da corte de que está à beira da morte. A partir daí, trava-se um duelo verbal entre o Rei e seus oponentes. O que o pobre Rei não percebe é que tem uma opção, que pode salvar-se. No entanto, não é uma peça fácil de se assistir. Lembro-me de que em uma das apresentações (nosso grupo viajou com a peça durante dois anos) um senhor na platéia resmungou, depois de uma hora de espetáculo: Que coisa! Esse Rei morre ou não morre?. Confesso que tive que me segurar para não rir. Assistindo ''Gosto de Cereja'' entendi um pouco o que o homem da platéia sentiu. O filme é um pouco cansativo e, em alguns momentos, parece não estar chegando a lugar algum, apenas consumindo tempo de tela. No entanto, talvez mesmo em função de minha experiência anterior com Ionesco, me armei de paciência e concentrei-me ainda mais no filme, com o firme propósito de entender o que estava acontecendo. O resultado foi mágica: de uma hora para outra, percebi que estava profundamente envolvido e que finalmente havia encontrado o fio da meada. A história acompanha a trajetória do Senhor Badii. Ele é um homem de seus cinqüenta anos e está vagando em seu carro pelos pontos da cidade onde desempregados se oferecem para trabalhos avulsos e ocasionais. O senhor Badii tenta encontrar em meio a essa gente alguém disposto a entrar no seu carro e ganhar um dinheiro rápido e fácil, em troca de um certo trabalho. Há quem aceite entrar no carro e ouvir a proposta do senhor Badii até o final. Difícil é encontrar alguém que aceite sua oferta: ele quer que a pessoa vá até um local predeterminado, às seis horas da manhã do dia seguinte e chame seu nome duas vezes. Caso ele responda, o sujeito deverá ajudá-lo a sair da cova onde ele está deitado. Caso contrário, deverá jogar 20 pazadas de terra sobre seu corpo. Resumindo: ele precisa de um cúmplice para seu suicídio. Durante os 95 minutos de filme, são várias as pessoas a quem Badii expõe seus planos. Alguns nada comentam, deixando apenas que sua expressão horrorizada demonstre seus sentimentos. Outros tentam demover Badii de seu intento. Cada pessoa que entra no carro tem um modo de pensar e de agir diferentes. Assim, somos apresentados a vários personagens durante todo o filme. O interessante é que o roteiro, do próprio Kiarostami, não se preocupa em revelar os motivos que levaram o homem a querer cometer o suicídio e é justamente isso que permite que o espectador seja imparcial ao drama de Badii. Se soubéssemos as razões do sujeito, inevitavelmente seríamos obrigados a tomar um partido: Puxa, suas razões são fortes, realmente, pensaríamos. Ou, então: Que sujeito fraco. Não há motivo para tanto. No entanto, como somos impedidos de julgar (e o espectador adora julgar as ações dos personagens), nossa atenção se concentra ainda mais no ato em si. Assim, cada personagem que entra no carro e começa a argumentar com Badii representa, de certo modo, a platéia. As discussões se aproximam do que o espectador talvez dissesse para o angustiado homem, se tivesse oportunidade. Se um dos personagens não encontra reflexo em nossa personalidade, outro irá fazê-lo. Um deles irá, finalmente, roubas nossas próprias palavras. (Ou então, o que é ainda mais interessante, o Senhor Badii irá conseguir convencer-nos de que está agindo acertadamente, levando o próprio espectador a `aceitar` enterrá-lo, se necessário). O que torna o ritmo do filme lento são as imensas pausas e reflexões do protagonista. Em determinado momento, por exemplo, ele passa um bom tempo sentado à beira de uma vala, enquanto um trator atira terra no buraco à sua frente. Mas estas pausas vêm, geralmente, acompanhadas de várias imagens que nos levam a descobrir o que o silencioso homem está pensando. Ele olha, por exemplo, para um bando de urubus sobrevoando um animal morto, à distância, e imediatamente sabemos o terror que ele tem de acabar virando comida para aqueles animais. Ou então ele observa sua sombra no chão, enquanto toneladas de terra são atiradas sobre ela, e percebemos que ele está refletindo sobre seu próprio `enterro`. É assim que a mente do diretor Kiarostami funciona, e não há como negar sua criatividade e inteligência. Porém, não consegui entender os motivos que levaram o diretor a mostrar, no final do filme, a equipe técnica de Gosto de Cereja em processo de filmagem. O que ele pretendia com aquilo? Ilustrar que aquilo era apenas um filme? Estabelecer um distanciamento entre autor e obra? E se assim fosse, porque o personagem do taxidermista tem o mesmo nome que seu intérprete, Bagheri? Infelizmente, a seqüência ficou soando arrogante e pretensiosa e, o que é pior, caiu no vácuo. Que seja aberto a interpretações é um dos pontos positivos de ''Gosto de Cereja''. Que se feche de maneira tão terrível é seu - talvez - único ponto negativo." (Pablo Villaça)
"Este filme disponibiliza ao espectador múltiplas camadas de reflexão. Cinema de verdade e da melhor qualidade." (Alexandre Koball)
"O final arruína tudo. As pseudo-filosóficas discussões são tão tênues que o cidadão parece querer cometer suicídio por conta do sol forte." (Demetrius Caesar)
"A cena do Sr. Badii olhando sua própria sombra na terra é uma das mais belas metáforas do Cinema." (Rafael W. Oliveira)
1997 Palma de Cannes
Top Irã #7
Abbas Kiarostami Productions
CiBy 2000
Kanoon
Diretor: Abbas Kiarostami
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Date 02/09/2014 Poster - ## - DirectorKen RussellStarsGabriel ByrneJulian SandsNatasha RichardsonThe Shelleys visit Lord Byron and compete to write a horror story.[Mov 05 IMDB 5,4/10 {Video/@@@@}
GOTHIC
(Gothic, 1986)
''A simples menção deste título nos remete a que? Isso mesmo, à cultura gótica. Parece nome de documentário, mas trata-se de um filme, e um filme bastante interessante, por abrigar diversos caracteres das mais refinadas diretrizes cinematográficas.Ambientado no séc. XIX, e dirigido por Ken Russel em 1986, foi e é capaz de revolucionar as mentes dos telespectadores, tendo inclusive influenciado Philip Kaufman a levar às telas o seu Contos Proibidos do Marquês de Sade, que segue a mesma linha em vários aspectos. Revolucionário. Talvez seja mesmo este o adjetivo ideal para, em uma só palavra, tentarmos definir este filme, que em cerca de 1 hora e meia soube agregar surrealismo, filosofia, romantismo, sexualidade, psicologia. A partir de quando as personagens chegam à casa de Lord Byron, renomado poeta romântico, a linearidade do filme vai se tornando cada vez menos visível. Como nos musicais, onde de espaços em espaços, há personagens dançando coreograficamente e cantando uma música, neste filme a intermitência está em recitar poesias; mas com uma frequência tão grande, que ora pensamos estar lendo um livro romântico, ora julgamos estar na platéia de um teatro, assistindo a uma peça. Aliás, muito há de teatralidade em "Gothic", seja pelos diálogos poéticos e até certo ponto rebuscados (recurso muito utilizado nas peças dos séc. XIX), seja pelo modo peculiar de as personagens entrarem e saírem de cena, seja pelo seu ritmo aceleradíssimo. Outro traço bastante curioso do filme é que as personagens interpretam pessoas que realmente existiram, como Lord Byron, interpretado por Gabriel Byrne; Mary Shelley (isso mesmo, a autora de Frankenstein!), interpretada por Natasha Richardson; seu marido, Shelley (Julian Sands); Claire Clermont (Myriam Cyr); o Dr. Polidori (Timothy Spall), que foi quem escreveu a biografia de Byron; entre outros. Sendo assim, um dos enfoques do filme é tentar narrar as provações pelas quais Mary Shelley passou durante sua estadia na residência de Byron, que vivia exilado. Ela mesmo chegou a dizer que esta visita, marcada por sustos, estórias sobre fantasmas, e delírios, que Russel soube sabiamente descrever no filme, foi a responsável por incutir-lhe na cabeça a idealização de seu monstro Frankenstein. Liberdade de amor, liberação sexual, orgias, apologias a incesto, sodomia, entre outras parafilias, são bastante marcantes nesta obra cinematográfica, e cada personagem vai pouco a pouco sucumbido às tentações de uma vida de prazeres inexoráveis. Exceto Mary. Ela é a única que mantém-se ou tenta manter-se atrelada à realidade, à moralidade, e ao civismo durante toda a narrativa; são de tal modo envolventes as tentações supracitadas, que conquistam o telespectador, fazendo-o chegar ao ponto de achar Mary a personagem mais careta e chata de todas. Um completo convite à filosofia e à Psicologia, pois discute a questão de como o moralismo tolhe impulsos humanos considerados normais, tornando-os reprimidos por uma questão de fato social, como por exemplo: casais agregarem outras pessoas a uma relação sexual, bissexualismo, etc. Identifica-se também muitas nuances do goticismo na decoração interna da casa, bastante escura, e pela análise dos aposentos, que além de inúmeros, incluem lugares como masmorras, por exemplo. É surreal pelo fato de a linearidade ser completamente quebrada em um dado ponto do filme (como acima já indicado), e dar lugar a sonhos e manifestações dos sentidos, cujo objetivo era demonstrar os medos mais íntimos das personagens, que ao fazerem uma espécie de ritual ao redor de uma cabeça de esqueleto, liberam um mal, que consistia em tornar materializados os medos das personagens diante delas, para confrontá-las a eles, e assim esperar que elas o fizessem para salvarem-se; caso não conseguissem, enloqueceriam. A partir daí, o filme torna-se de todo onírico. O telespectador não sabe mais quando vê realidade ou quando vê fantasia. Pode ser sonho. Ou não. É como um tratamento psicanalítico. Eis a beleza desta obra. Palmas a Ken Russel.'' (Igor Ferreira)
{Estamos mortos. Ele nos mostrou a tortura que nos espera. Nossa criatura estará ali esperando na sombra. Na forma dos nossos medos, até chegar nossas mortes} (ESKS)
"Difícil escrever sobre esse filme, principalmente para uma anta como eu que só consegue captar a superficialidade das coisas. Mas ''Gothic'', até mesmo em sua superfície, causa bastante impacto com seu visual carregado em simbolismos e elementos metafóricos, atmosfera de pesadelo e excelente direção do Ken Russel, que é um sujeito que eu tenho muito ainda a descobrir. A trama pode ser resumida como um exercício de terror surrealista ao estilo de Buñuel e Jodorowsky, especialmente nos últimos 20 minutos, ou trata-se, na verdade, sobre cinco pessoas que passam por maus bocados numa mansão isolada em uma ilha, tomando as drogas da época e tendo os mais diversos delírios causados pelos entorpecentes, tudo impresso sob o olhar apurado do diretor, evocando, sobretudo, elementos religiosos, algo que se não estou enganado, tem grande peso no repertório de temas de Russel. A imagem que ilustra o post, da cena em que o famoso quadro de Fussli é recriada, é só pra dar um gostinho para quem ainda não viu. É um dos momentos mais perturbadores e geniais de ''Gothic'', que ainda possui muitas outras sequências interessantes, lindamente compostas e com bastante clima. Outra coisa que me chama atenção é o contexto da trama. Temos alguns personagens ilustres por aqui, como o poeta melancólico Lord Byron, o anfitrião da mansão, interpretado por Gabriel Byrne, e seus convidados, dos quais está o casal Shelley, cuja parte feminina, Mary (Natasha Richardson) viria a escrever seu famoso romance, Frankenstein. Seu marido é encarnado pelo canastrão Julian Sands e Timothy Spall, ainda novo, faz o papel do médico do poeta. Belo filme." (Ronald Perrone)
Image Entertainment
MGM Home Entertainment
Pioneer Entertainment
Vestron Pictures
Vestron Video
Diretor: Ken Russell
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Date 15/09/2013 Poster - ##### - DirectorJames GunnStarsChris PrattVin DieselBradley CooperA group of intergalactic criminals must pull together to stop a fanatical warrior with plans to purge the universe.[Mov 10 Favorito IMDB 8,1/10] {Video/@@@@@} M/76
GUARDIÕES DA GALÁXIA
(Guardians of the Galaxy, 2014)
TAG JAMES GUNN
{hilário}Sinopse
''Peter Quill se vê como objeto de uma caçada implacável após roubar uma misteriosa esfera cobiçada por Ronan, um vilão poderoso com ambição que ameaça todo o universo. Para fugir do determinado Ronan, Quill é forçado a fazer uma complicada aliança com um quarteto de desajustados - Rocket, um guaxinim atirador, Groot, uma árvore mutante humanoide, a mortal e enigmática Gamora e o vingador Drax, o Destruidor. Mas quando Quill descobre o verdadeiro poder da esfera e o perigo que ela representa para o cosmo, ele deve fazer seu melhor para reunir seu grupo desorganizado para uma última e desesperada resistência - com o destino da galáxia em jogo.''
"Filme com mais referências a Guerra nas Estrelas desde O Império Contra-Ataca." (Demetrius Caesar)
"Filme com mais referências a Guerra nas Estrelas desde O Império Contra-Ataca." (Demetrius Caesar)
"Tem os mesmo problemas dos demais filmes da Marvel: enredo sem lógica e cenas de ação confusas, com muito CGI e pouca emoção. Mas o clima subversivo surpreende, o grupo funciona e os personagens são bacanas. O resultado é bem divertido." (Silvio Pilau)
"É o filme que menos se leva a sério da Marvel e, por se assumir debochado e despudorado, consegue agradar, além de surpreender com personagens desconhecidos do grande público. Absurdamente comercial e verdadeiramente divertido." (Marcelo Leme)
"O 'mumblecore' vai para o espaço sem perder seu vigor e sua verve, transformando quatro desajustados em heróis. Mais: como é comum no gênero, transformando quatro resmungões numa família de verdade. O melhor produto hollywoodiano do ano." (Francisco Carbone
"Uma adaptação de quadrinho de herois cheia de humor geek e que não se leva à sério. Apesar disso, tá ali no limite do tolerável." (Guilherme Bakunin)
"Tem os mesmo problemas dos demais filmes da Marvel: enredo sem lógica e cenas de ação confusas, com muito CGI e pouca emoção. Mas o clima subversivo surpreende, o grupo funciona e os personagens são bacanas. O resultado é bem divertido." (Silvio Pilau)
"É o filme que menos se leva a sério da Marvel e, por se assumir debochado e despudorado, consegue agradar, além de surpreender com personagens desconhecidos do grande público. Absurdamente comercial e verdadeiramente divertido." (Marcelo Leme)
"O 'mumblecore' vai para o espaço sem perder seu vigor e sua verve, transformando quatro desajustados em heróis. Mais: como é comum no gênero, transformando quatro resmungões numa família de verdade. O melhor produto hollywoodiano do ano." (Francisco Carbone
"Uma adaptação de quadrinho de herois cheia de humor geek e que não se leva à sério. Apesar disso, tá ali no limite do tolerável." (Guilherme Bakunin)
''Guardiões da Galáxia" não era para der certo nem como gibi. Com a Marvel infestada de títulos nas bancas, roteiristas juntaram um grupo de personagens de segundo time para viver aventuras espaciais. Bem, a HQ vingou e, com a onda de filmes de heróis no cinema, até que rendeu algo divertido e movimentado. O bom é que o filme não se leva a sério - como poderia, trazendo um guaxinim bom de tiro como super-herói?" (Thales de Menezes)
''O principal mérito de "Guardiões da Galáxia" , de James Gunn, é escapar do mundo previsível e terrestre que a maioria dos personagens da Marvel habita. De locação principal, a Terra passa a ser um planeta qualquer e os heróis-cientistas dão vez a um universo abundante e multicolorido. Com mulheres verdes, brutamontes azuis e planetas envoltos em nuvens, cada corte revela aos poucos um enorme ecossistema inexplorado. Lembra muito a série Jornada nas Estrelas, com raças que se diferenciam umas das outras pelo corte de cabelo, da barba ou o formato da orelha. Mas, se esses pequenos detalhes ajudam a dar vida, é no roteiro que o diabo mora. Guardiões é sobre a formação de um bando. Nada de novo até aí. Cada um dos personagens principais recebe a devida atenção e todos acabam bem desenvolvidos. Ainda assim, a mocinha verde, Gamora (Zoe Saldana), sofre com alguns enquadramentos no estilo bailarina do Faustão e por vezes é reduzida a simples interesse amoroso do mocinho, Peter Quill (Chris Pratt), espécie de Han Solo no colegial. Os personagens secundários e os vilões não têm a mesma sorte. Ronan, o Acusador (Lee Pace), lembra o Osama do Casseta e Planeta: só quer destruir a civilização. Uma cena de menos de um minuto tenta dar algum sentido para tanto ódio, mas só apresenta mais um personagem inútil e pouco desenvolvido. Parece que tudo será melhor explorado no futuro, mas fica uma má impressão. Guardiões existe em duas frentes. É um ótimo episódio da série que a Marvel continua lançando no cinema, ao mesmo tempo que, isolado, é um filme apenas regular. Na média, o resultado é bom. Não é a nota mais alta da turma, mas é suficiente para garantir uma continuação." (Douglas Lambert)
Fórmula do sucesso.
''Nunca se produziram tantos filmes sobre histórias em quadrinhos. No presente momento, a subsidiária cinematográfica da Marvel Studios é responsável, desde o final da década passada, por lançar uma série de filmes baseados no universo da arte sequência que criaram um público específico e fiel junto a trilogia Batman, dirigida por Christopher Nolan, de uma forma pouco vista antes – dava para contar nos dedos as tentativas bem-sucedidas, como a dupla de filmes do Homem-Morcego dirigida por Tim Burton e a quadrilogia Superman protagonizada por Christopher Reeve. Entre filmes solo, extensos filmes sobre as associações de super-herói e projetos que reúnem mais ambição de enredo que os filmes de médio e pequeno orçamento feito pelos idos das décadas de oitenta e noventa e contam com grandes destaques do star system cinematográfico e destaques da televisão, nos dias de hoje uma referência tão qualitativa quanto, que se chega em uma aposta que poderia em um primeiro momento parecer arriscada: ''Guardiões da Galáxia'', equipe ficcional que teve sua primeira encarnação em 1969, mas teve como objeto de adaptação a nova formação criada em 2008. Arriscada porque ao contrário de Homem Aranha, Batman, Os Vingadores e tantos outros, carregam poucos anos nas costas, sem a certeza que estariam tão consolidados entre o público quanto os heróis mais tradicionais. Diferindo dos grandes grupos tradicionais, os Guardiões da Galáxia não são, automaticamente, grandes heróis com propósitos nobres, mas antes, escória da sociedade que vivem – marginalizados em suas origens, párias por suas próprias escolhas e interesses. Como em todos os exemplares de buddy movies – dos Três Patetas aos filmes de Edgar Wright e Simmon Pegg, passando por Cheech e Chong e Terence Hill e Bud Spencer, é só a sociedade e cumplicidade de personalidades incompatíveis em qualquer lugar que são capazes de criar aquela que parece ser a forma favorita das histórias individualizantes do drama burguês: compreensão da individualidade, união pelo contraste, onde as falhas morais individuais são aceitas, curadas ou mesmo encontrando um viés positivo através de um grupo diverso e interdependente. No caso, os perdedores unidos do filme tem a premissa básica dos filmes de super-herói, caubóis modernos que como nos filmes cinquentistas de seus predecessores, são força reduzida e determinada contra uma ameaça gigantesca e ameaçadora – personificados frequentemente em histórias que envolvam escalas maiores que vizinhanças ou cidades em um líder autoritário, genocida e vingativo que deseja um artifício poderoso para exterminar seus adversários de forma absoluta, líderes, soldados e civis, cuja únicas esperanças irão residir no grupo desajustado que, uma vez que busquem resoluções internas, conseguirão lidar com ameaças externas. O roteiro que James Gunn dirige faz como nas obras supracitadas e explora o desajuste e o contraste pelo humor que a ficção/fantasia científica podem proporcionar – diferenças culturais, referências populares ao mundo dos espectadores com o protagonista humano servindo como identificação e ponte entre nosso mundo já conhecido e o mergulho frenético com mínimo tempo de diálogos didáticos sobre o funcionamento de sociedades fictícias em macro-escala. O maior interesse fica mesmo no desenvolvimento dos anacrônicos protagonistas, onde através de todos os artifícios – o melodrama da construção pré e durante filme, com planos fechados e música cadenciada e melancólica, casados com os diálogos introspectivos que revelam o que há com aqueles personagens por detrás das máscaras de força ou deboche que ostentam diante do mundo, junto com coreografias e efeitos especiais de armas de fogo e o design de produção de raças, roupas, objetos, naves e geografias desconhecidos dando a dose de ação física que traz para o mundo concreto os problemas e fraquezas a serem superados. A fórmula de sucesso da Marvel persiste numa longa tradição – vide exemplares antigos como Onde Começa o Inferno, de Howard Hawks e Duro de Matar, de John McTiernan – que fundamenta o que se entende por imagem movimento: o regime de imagens próprios do cinema narrativo, que visa priorizar a ação com a crença que ela seja a expiação e redenção de todo sofrimento. Com a perda, há a vingança. Com a ameaça, há a reação. Com a imposição de um limite, há a superação. A necessidade contínua de resposta transforma mesmo os personagens mais questionáveis em figuras admiráveis e carismáticas – porque a eles pertence o protagonismo da ação, a liderança nos tempos de necessidade, o sacrifício individual em nome da comunidade. Uma narrativa com seus acertados tons épicos, a resolução literalmente no campo de batalha diegético, com o grosso dramático desenvolvido de maneira cuidadosamente padrão com todos seus protagonistas (para que sempre haja a mínima identificação de nós mesmos ali) e o uso constante do humor garantindo que nenhum personagem, mesmo o mais intimidador, possa ser plenamente levado a sério - até a sisudez pode ser deslocada do lugar comum para tornar-se por vezes constrangedora, ridícula e por fim, divertida, os filmes de super-herói adolescentes carregam em si uma longa tradição de simplicidade como linha de frente e uma complexidade mitológica como pano de fundo que hoje em dia a Marvel é uma das que mais reproduzem com sucesso e retorno, através da compreensão e pensada reprodução desses artifícios narrativos que já carregam décadas consigo e cuja construção geral do produto ainda parece manter seu vigor e força expressiva para muitos." (Bernardo D.I. Brum)
87*2015 Oscar
Top 250#83
Marvel Studios
Marvel Enterprises
Moving Picture Company (MPC)
Diretor: James Gunn
846.029 users / 298.552 faceSoundtrack Rock
10CC / Redbone / The Raspberries / David Bowie / The Runaways / The Five Stairsteps / Marvin Gaye / Jackson 5 / The Paul Butterfield Blues Band / Mountain
52 Metacritic 64 Down 21
Date 15/11/2014 Poster - ######## - DirectorTerry ZwigoffStarsSteve BuscemiThora BirchScarlett JohanssonTwo eccentric best friends graduate high school and respond to a man's romance-seeking newspaper ad as a gag, only to find their lives becoming increasingly complicated.{Video/@@@@@} M/88
GHOST WORLD - APRENDENDO A VIVER
(Ghost World, 2001)
''Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson) são duas adolescentes recém-saídas do segundo grau que começam a enfrentar as incertezas da existência. Planejam um futuro, cheio de possibilidades, em que serão sempre amigas, mas logo percebem que a realidade da vida adulta é bem diferente do que imaginavam.'' (Filmow)
''Pense por alguns minutos nos colegas que estudaram na mesma classe que você na escola (ou estudam, se você ainda está nela). Pensou? Então, certamente deve ter lembrado daquele pessoal que senta nas últimas fileiras, se veste de modo desleixado, passa de ano raspando e adora fazer comentários sarcásticos sobre tudo e todos. Toda turma de colégio tem uma galera assim.''Ghost World – Aprendendo a Viver'', do bom e subestimado cineasta Terry Zwigoff, é um fascinante e agridoce estudo de personagem sobre uma garota que se comporta exatamente assim. Este é um filme adorável, capaz de causar paixão instantânea em qualquer um que se identifique com a protagonista. Enid (Thora Birch, de “Beleza Americana”) acaba de terminar os estúdios secundários e está mais perdida do que cego em tiroteio. Entre trabalhar, entrar na universidade ou tentar arrumar um namorado, ela opta por… nenhum dos três. Aliás, não só ela, mas também Rebecca (Scarlett Johansson), espécie de alma gêmea. O cotidiano das duas se resume a fazer planos para sair das casas dos respectivos pais e soltar, uma atrás da outra, tiradas e trotes ácidos sobre quem estiver por perto, conhecido ou não. Rebecca é um pouco mais sociável. O filme de Terry Zwigoff, que havia dirigido o excelente documentário Crumb e faria depois a sátira natalina Papai Noel às Avessas, é baseado numa história em quadrinhos escrita por Daniel Clowes, que co-escreveu o roteiro junto com o diretor. Trata-se de um autêntico filme independente norte-americano, com atmosfera despojada e orçamento minúsculo, que se concentra mais nos personagens e menos no estilo. A obra oferece uma visão dura e realista, ainda que divertida, sobre inadaptação social Embora o desajeitado subtítulo brasileiro sugira que Ghost World é uma fábula sobre a transição entre a adolescência e a vida adulta, a jornada de Enid não trata exatamente disso. Se os personagens tivessem a oportunidade de conhecê-la bem, tão bem quanto a nós da platéia, veriam que Enid não tem nada de imatura. Ela é uma garota inteligente, esperta e bem mais madura do que as meninas da idade dela. Porém, é também uma pessoa solitária e irascível demais para manter relacionamentos de qualquer natureza, porque não está disposta a fazer algo fundamental em qualquer relacionamento – ceder. Esse comportamento, ao longo do tempo, transformou a garota em alguém que o pai (Bob Balaban) e os amigos não compreendem. Ela não é preguiçosa e nem tem medo de trabalhar, como Rebecca imagina. Tampouco é chata, como a maioria das pessoas que convivem com ela pensa, apesar do senso de humor volátil. Lésbica, como alguns acreditam? De jeito nenhum. Enid é apaixonada por Josh (Brad Renfro), rapaz que trabalha numa loja de conveniência, mas sua maneira de demonstrar amor é passar pelo posto onde ele trabalha, todo dia, e deixá-lo enfezado com brincadeiras irritantes. Seu jeito bruto, birrento e desleixado engana todo mundo. Ninguém a entende. Com a exceção de Rebecca, a única outra alma no mundo com quem Enid simpatiza é Seymour (Steve Buscemi), um colecionador de discos raros de blues que passa os dias num emprego burocrático e gasta as horas livres imaginando o que fazer para conquistar uma mulher, qualquer mulher. Como ela, Seymour é um pária que sofre de completa inadaptação social, com o agravante de que é menos inteligente, e portanto possui ainda menos facilidade para lidar com o problema – e é exatamente essa característica dele que mais atrai a garota. Em um filme normal de Hollywood, dois personagens assim estariam fadados a se apaixonar, apesar da diferença de idade. Não em Ghost World, cujo enredo segue por um caminho impossível de antecipar. Com fotografia que deixa o mundo de Enid com pinta de subúrbio proletário, a cargo do brasileiro Affonso Beato, Terry Zwigoff criou uma pequena pérola. Usando de humor adulto, o diretor aborda a dura realidade das pessoas com dificuldade de adaptação social, de uma maneira que jamais soa arrogante, professoral ou amarga. Sim, há um clima evidente de melancolia que perpassa todo o longa-metragem, mas esse é exatamente o estado de espírito de Enid – alguém que sabe rir dos percalços que enfrenta, mesmo quando algo inesperado piora um instante que parecia não poder piorar. Como se não fosse suficiente, Zwigoff ainda criou um dos figurantes mais interessantes dos últimos tempos, na figura do velhinho que espera diariamente um ônibus vermelho cuja linha foi alterada – o que significa que o ônibus jamais passa. E o final do filme é imprevisível, alegórico e maravilhoso. Ghost World costuma passar na TV a cabo com o título de Mundo Cão, e saiu em DVD no ano de 2005, sem muita divulgação, encartado na revista DVD News e com o nome original, acrescido do subtítulo. A edição é simples e não contém extras, mas preserva o aspecto original do filme (widescreen 16:9) e tem som de boa qualidade. (Rodrigo Carreiro)
74*2002 Oscar / 59*2002 Globo
Date 23/11/214 Poster - ##### - DirectorWilliam A. WellmanStarsJohn WayneLloyd NolanWalter AbelA C-47 transport plane, named the Corsair, makes a forced landing in the frozen wastes of Quebec, and the plane's pilot, Captain Dooley, must keep his men alive in deadly conditions while waiting for rescue.{Video}
GELEIRAS DO INFERNO
(Island in the Sky, 1953)
''Um avião de transporte cai no gelado Labrador, e o piloto, Dooley, precisa manter seus homens vivos nas condições mortais esperando o resgate." (Filmow)
''Geleiras do Inferno'' não parece um filme de William Wellman em termos de tamanho, mas é perfeitamente compreensível para o ex-piloto da primeira guerra mundial, que transformou a aviação em uma de suas paixões. E “Geleiras do Inferno” é um tributo a esse tipo de profissional, ao senso de família, à camaradagem explícita. Wellman faz questão de transformar essa camaradagem no principal ator do filme – mais do que John Wayne. Wayne é, no caso, o estopim e o motivo das demonstrações de irmandade. O resto é desculpa para o diretor de Asas visitar, novamente, os céus – agora, no gelado Alasca, para reproduzir a missão de resgate de um grupo que cai com um avião de reconhecimento em uma região remota. A missão de resgate, aliás, resume-se às idas e vindas dos vôos de resgate dos companheiros de Dooley (Wayne) e, principalmente, da luta pela sobrevivência dele e dos seus companheiros, perdidos num tapete de gelo. Mas “Geleiras do Inferno” também remete à sua época e envelheceu muito. A construção dramática em torno da situação dos sobreviventes é tão pálida que não chega a afetar ao público – falta o senso de urgência que poderia trazer algum drama real, palpável, à história. O conto de sobrevivência arquitetado por Wellman soa mais agradável como homenagem à classe do que como hino de coragem. É uma história de camaradagem simpática – e com um John Wayne tentando, mas não conseguindo, sair de seu personagem habitual: Dooley comanda as ações, com o mesmo peso no sotaque de quando Wayne anda pelo velho oeste, mas com menos rudeza. Parece um homem mais moderno, sem as armas e o chapéu... troca a areia pelo gelo, mas no fundo calça as mesmas botas.'' (Fábio Rockenbach)
Date 31/11/2014 Poster - #### - DirectorDavid FincherStarsBen AffleckRosamund PikeNeil Patrick HarrisThe husband of a missing woman becomes the chief suspect in her disappearance.{Video/@@@@} M/79
GAROTA EXEMPLAR
(Gone Girl, 2014)
"Garota Exemplar" se estrutura em três camadas muito evidentes, cada uma delas responsável pelas forças e fraquezas do novo filme de David Fincher. A primeira é a da trama em si, um thriller eficaz, com pelo menos um grande ponto de virada. O roteiro, uma adaptação do livro homônimo da americana Gillian Flynn (assinado pela própria autora), alterna as vozes narrativas entre Nick e Amy Dunne, o casal de protagonistas, interpretado por Ben Affleck e Rosamund Pike. Fincher mantém a plateia nas suas rédeas com um controle quase absoluto dos momentos de tensão e distensão e com um uso preciso da montagem para criar suspense e esconder as limitações da história. A segunda camada entra como o pano de fundo em que se desenrola o mistério, transformando o filme em uma espécie de prolongamento de A Rede Social. Quando criança, Amy Dunne inspirou uma série de livros infantis muito popular, chamada "Amazing Amy" . Por conta disso, seu desaparecimento, no dia das comemorações de seu quinto aniversário de casamento, transforma-se em um grande circo midiático e põe Nick sob os holofotes da mídia. Fincher destila aqui suas críticas à sociedade da informação. Na ferocidade instantânea da era das redes sociais, as pessoas tornam-se peças publicitárias de si mesmas. O importante é o que se encena diante das câmeras - sejam elas de uma grande rede de televisão ou de um celular de uma selfie maniac. O melhor personagem, aqui, é o advogado Tanner Bolt, não por acaso vivido pelo comediante Tyler Perry. A terceira camada é a mais problemática, o ponto em que o filme patina. Pela forma como se desenrola, "Garota Exemplar" é a materialização de todos os pesadelos (mais conservadores) de um homem em relação ao casamento, uma espécie de Atração Fatal em que o papel da mulher se inverte, de amante a esposa. Esse aspecto chama atenção especial se compararmos "Garota Exemplar" ao filme anterior de Fincher, Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, também um suspense adaptado de um best-seller (o primeiro livro da trilogia Millenium, de Stieg Larsson). Nele, a questão do machismo era central. O protagonista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) mantinha uma relação aberta com a mulher, e havia uma personagem feminina libertária, Lisbeth Salander (Rooney Mara). O filme foi considerado uma decepção pelos produtores, que não deram continuidade à trilogia no cinema." (Pedro Butcher)
''David Fincher gosta de personagens escorregadios. Foi assim em Zodíaco, foi assim em Millenium. Não é tão diferente em "Garota Exemplar". Aqui, no entanto, existe uma pergunta adicional, além daquela acerca do paradeiro de Amy Dunne. Essa questão versa sobre o quanto a imagem que uma pessoa cria de si mesma, ou que criam dela, pode afetá-la (e, no caso, aos outros). Sim, porque quando a garota que o título bem define como exemplar desaparece, a culpa recai sobre o marido, cada vez mais suspeito de ter dado um fim na moça.'' (* Inácio Araujo *)
"A sagaz e precisa crítica ao modo como as pessoas julgam tudo o que acham ter direito chega em um momento preciso da história dos tribunais das redes sociais. Filmaço e um dos melhores do Fincher." (Rodrigo Cunha)
"A reflexão sobre aparências e o que há por trás delas é ecoada pela própria narrativa de Fincher, que conduz habilmente o espectador de um lado a outro, apoiado pelo roteiro cuidadosamente construído. Pike está espetacular. Um dos grandes filmes do ano." (Silvio Pilau)
"Fincher brinca de Almodovar, costurando uma trama de humor ácido, de reviravoltas impressionantes e simbolismo opaco, provando mais uma vez que não há em Hollywood um diretor de estúdio mais competente. A há muito tempo não houve." (Guilherme Bakunin)
Fincher e a perversão do seu próprio cinema.
''Garota Exemplar mantém com Millennium - O Homem que Não Amava as Mulheres algumas semelhanças básicas. Duas adaptações de best-sellers policiais dirigidas pelo provável melhor diretor contratado de estúdio do cinema contemporâneo, David Fincher. Dois girls bem posicionados no título pretendendo um jogo com a palavra, uma representação subvertida, um confronto com a fragilidade da leveza que carregam e que vão seguir, em cada filme, caminhos bem distintos. A estranheza inicial da figura de Lisbeth Salander, protagonista de Millennium e a quem Eliane Brum chamou a primeira heroína do século XXI, pretende ser quebrada na empatia que a trama, Fincher e Rooney Mara - que a interpreta - tentam colocar a nós pela personagem. Em Garota Exemplar a narrativa segue por um caminho oposto. A mencionada pelo título é Amy Elliot Dunne (Rosamund Pike), que desaparece no seu aniversário de 5 anos de casamento com Nick Dunne (Ben Affleck, ótimo), o que tira a cidade suburbana em que vivem do marasmo usual para a excitação do mistério. Nele, todos cumprem um comum papel marcado, formando um quadro de personagens típicos do enredo policial. A vítima (Pike), o suspeito (Affleck), a fiel aliada deste (Carrie Coon), os aliados desconfiados (David Clennon, Lisa Banes e Emily Ratajkowski), a boa detetive (Kim Dickens) e os maus detetives (Missi Pyle e Patrick Fugit). Esse é o contexto de gênero criado por Gillian Flynn (autora da obra original e roteirista do filme) e Fincher, com suas construções de cenas impecáveis em tom e propósito narrativo - é incrível como ele parece sempre escalar atores de tipo, que já estão acostumados a um mesmo papel, e os coloca, mexendo o mínimo possível nos personagens, num lugar mais sombrio do que aquele que esse tipo normalmente ocupa. O filme policial dentro de ''Garota Exemplar'' dura, medindo sensorialmente, pouco menos de uma hora. Daí em diante, surge um filme completamente diferente. Um que não estava previsto nos trailers ou em qualquer um dos materiais de marketing, um que Fincher nunca havia feito antes. Um filme sujo, feio, errado, exagerado; enfim, brega - ou camp, como prefere a cinefilia. E nenhuma dessas palavras está sendo usada aqui com sentido pejorativo; pelo contrário, essa virada resgata o filme de uma estética engessada do bom cinema de gênero que ele mesmo faz questão de quebrar e colocar em xeque. Eu nunca imaginei que o tão correto e meticuloso Fincher fosse capaz de tamanha coragem. Que ''Garota Exemplar'' é uma sátira do que se torna um casamento, muitos de nós, que não lemos o livro, já tínhamos entendido pelo material prévio, pela sinopse, etc. Mas não passou pela minha cabeça a profundidade da palavra sátira, mesmo quando dita com ênfase em entrevistas e declarações pelo próprio Fincher. O diretor mandou pelos ares toda a sua tradição de buscar, mesmo na fantasia, um fiapo de realismo. Garota Exemplar lança um olhar sobre como a nossa maneira de construir identidade para outros e nós mesmos afeta os nossos relacionamentos? Sim. Esse olhar se apoia numa trama séria e de pretenso realismo, mesmo que fantasiosa? Não mesmo. Para estabelecer um ponto de referência para o que é feito aqui, é preciso buscar em nomes mais perversos do cinema de gênero solto pelo mundo, como os mais sádicos de Pedro Almodovar e Alfred Hitchcock. E, se Fincher é genial ao dar descarga em padrões estabelecidos do bom cinema, ele tem a ajuda crucial de Rosamund Pike para isso. Espero que a sua performance sobrenatural seja reconhecida com a força que merece e que ela não seja prejudicada pela busca a um realismo que, confio, não se pretende presente. Garota Exemplar me deixa sem ideia do que Fincher pode trazer a seguir. Fã que sou, estou curioso como nunca." (Cesar Castanha)
Fincher e seu estudo da imagem.
''Em um dos muitos flashbacks que permeiam a primeira metade de ''Garota Exemplar'', há um momento em que é revelado ao espectador o primeiro beijo entre Nick Dunne (Ben Affleck) e Amy (Rosamund Pike). Eles estão cobertos por uma névoa que aos poucos vai preenchendo o enquadramento e moldando o rosto da mulher, fazendo-a parecer um anjo e, conseqüentemente, vertendo aquele cenário urbano noturno, durante alguns segundos, em um aparente sonho. Mas ao mesmo tempo há uma estranheza na atmosfera que faz daquela cena supostamente romântica em algo ameaçador. Não somente porque sabemos, no tempo real, que Amy está desaparecida e talvez morta, mas principalmente porque em ''Garota Exemplar'' a imagem parece nunca condizer com a realidade daqueles personagens. David Fincher é um diretor muitas vezes definido como frio – palavra usada para destacar seu trabalho, digamos, prático com as imagens. Muitos cineastas dessa mesma escola talvez sejam injustiçados ou sequer lembrados, pois essa suposta frieza às vezes é confundida com ausência de técnica, falta de um estilo visual próprio, enquanto outros mais barrocos e não tão talentosos são aclamados à toa. Claro que quem entende melhor de Fincher sabe que tudo isso é falatório, já que estamos lidando com um dos maiores perfeccionistas do atual cinema americano. Sua discrição o permite transitar completamente invisível em cada um de seus filmes, mas de forma incisiva, cuidando de cada detalhe cenográfico, desde a paleta de cores usadas em cada cena, passando pelos penteados e maquiagem do elenco, até o posicionamento exato e linguagem corporal dos atores. Cada objeto, cada posição da câmera, cada disposição de luzes, faz parte de um plano meticuloso bolado pelo diretor. ''Garota Exemplar'', embora esteja a uma boa distância dos filmes maiores de Fincher, talvez seja a mais evidente prova desse seu minucioso trabalho com a imagem, enquanto reafirma sua habilidade de se valer dos que há de mais comum nos filmes de gênero, ao mesmo tempo em que subverte essas constantes. Aqui ele brinca com o thriller, e ainda inclui na receia um inesperado toque de humor negro ao discutir o desgaste de uma relação a dois. Nesse ponto ele resgata suas antigas discussões sobre a natureza cruel, violenta e egoísta do homem moderno, assim como o trabalho da mídia em mitificar, endeusar, blasfemar e manipular. A diferença essencial de seus demais filmes está na forma como ele cria uma ruptura entre a imagem com a ação descrita e a ser encenada conforme pede o roteiro. Se antes havia uma maravilhosa fluência e sinergia entre personagens e a ação, agora os dois parecem não estar na mesma sintonia. Propositalmente, Fincher cria em Garota Exemplar um profundo estudo de imagem maquiado por um suposto estudo de personagens. Isso faz de Ben Affleck e Rosamund Pike duas peças essenciais da obra, não apenas pelo fato óbvio de serem os protagonistas, mas porque são dissecados pela textura sobressalente que oferecem dentro das imagens. Enquanto os demais personagens cumprem funções burocráticas dentro da trama (a detetive durona, o advogado incansável, os pais desolados, os vizinhos desocupados, os jornalistas incansáveis), o casal principal não se adapta a esse universo, especialmente Pike. Amy é uma personagem que, ao contrário dos demais, é autossuficiente e transita independente pelo filme. Sua figura, a princípio, é uma incógnita. A esposa perfeita, garota dos sonhos, cujo desaparecimento causa comoção nacional, enquanto para o marido sua ausência parece motivo de alívio. A partir da segunda metade, a consistência de Amy na história muda drasticamente e isso contraria toda a lógica criada até então. Presente ou ausente, sua imagem emana uma força que fascina a câmera de Fincher e, junto dela, o espectador. Desde sempre a enigmática figura feminina fascina grandes cineastas, como Fritz Lang (em Um Retrato de Mulher), Alfred Hitchcock (em Um Corpo que Cai), F.W. Murnau (em Fantasma), David Lynch (em A Estrada Perdida), e Manoel de Oliveira (em O Estranho Caso de Angélica). Aqui, ela atua como uma saliência na imagem, de modo que quando sorri, sabemos que Amy não está feliz, e quando chora, sabemos que não está triste, e enquanto todos os personagens se preocupam com respeito a seu paradeiro, o espectador só se preocupa em desvendar sua verdadeira natureza. Affleck, por conta disso, entra também saliente como o marido que pode ou não ter matado a esposa, que pode ou não amá-la, que pode ou não estar genuinamente preocupado com seu paradeiro. Não porque Fincher faz de Nick um personagem cheio de nuances, mas porque imageticamente Affleck é tão impenetrável quanto Pike. Assim, o espectador a toda hora é cutucado, lembrado de que está ali, e que é possivelmente o único que entende que o que está em cena não bate com o que está sendo dito. Isso faz da escalação dos dois uma manobra de mestre por parte de Fincher. Affleck por ser tão amado e ao mesmo tempo odiado quanto Nick, e Pike por sua beleza gélida, tão convidativa quanto misteriosa e intrigante. Ambos, independente de qualquer coisa, sustentam essa ruptura entre imagem e ação do filme apenas pelo simples fato de ser quem são e como são. Por não haver um verdadeiro estudo de personagens, embora pareça haver, nada é capaz de surpreender o espectador a ponto de tornar a trama inverossímil aos nossos olhos. Esse sutil trabalho com as imagens feito por Fincher se revela então um poderoso comando narrativo, sustentando a trama que segue por caminhos cada vez mais rocambolescos sem cair no ridículo e mantendo o interesse até o fim. Aqui não é possível reconhecer de cara o Fincher sofisticado de Zodíaco, nem mesmo o Fincher mais quadrado de O Quarto do Pânico, mas sim o Fincher sacana, corajoso e sem medo de incomodar de Vidas em Jogo. Melhor dizendo, Garota Exemplar junta um pouco de tudo isso, e só pega o melhor de cada um desses filmes, com a vantagem de colocar em maior evidência seu cuidado quase paterno com suas preciosas imagens." (Heitor Romero)
''A partir de uma metáfora central desenvolvida até às últimas consequências, o cineasta David Fincher neste ''Garota Exemplar'' despe uma grande parte dos relacionamentos modernos pelo que de fato são: bailes de máscaras dançados a dois, nos quais os parceiros simulam as fantasias projetadas por ambos na esperança de preservar a ilusão de uma união perfeita e de um lar imaculado enquanto houver música. O tempo, contudo, inevitavelmente exaure os esforços em interpretar quem não se é e expõe somente um estranho vestido com a pele daquele por quem se prometera amor, um conceito melancolicamente artificial forjado pelas convenções da sociedade e, porque não, por nosso egoísmo. É este o tapa com que Fincher nos esbofeteia e prova, depois das críticas sofridas em O Curioso Caso de Benjamin Button, saber dirigir muito bem um romance melodramático, porém de uma forma particularmente perversa e manipuladora (no bom sentido). Para tanto, o roteiro de Gillian Flynn (autora do livro homônimo) apresenta-nos a Nick (Ben Affleck) e Amy (Rosamund Pike), um casal tradicional de classe média, embora julgue-se diferente e superior aos demais, cego ao fato de que desde o primeiro encontro nada mais é do que a reedição do romance mais clichê já encenado. Escritores na metrópele do mundo condenados pela crise econômica e circunstâncias ao mesmo subúrbio para onde aqueles de quem mais debochavam isolavam-se com suas famílias em casas ostensivas e apáticas como o amor jamais deve ser. Até que, em seu aniversário de cinco anos de casamento, Amy desaparece e no seu lugar monta-se o circo midiático, policial e social que não tarda em desconfiar da responsabilidade de Nick no caso, como faria o detetive menos qualificado. Há motivo para isto. Na coletiva de imprensa, Nick surge deslocado, excluído do quadro maior; no diário de Amy, por ela própria narrado, surge como o príncipe encantado entregue à violência física, psicológica e sexual; na vida real, não tarda em contradizer-se, mentir, omitir, inclusive para a irmã gêmea Margo (Carrie Coon). E, como um próprio personagem repete, às vezes a resposta mais óbvia é correta. Pode ser. Mas Fincher construiu sua carreira sobre a manipulação do espectador e subversão de expectativas (Se7en, Vidas em Jogo e Clube da Luta estão aí para provar isto) e a narrativa, estruturalmente irrepreensível, com a simples troca da cor da caneta usada por Amy, põe diante de nós um panorama tão perturbador e imprevisível que não ousaria estragar o prazer dos leitores. Procurar culpados ou porquês e clamar por justiça, nada disto importa quando questões existenciais surgem agarradas à teia construída por um cineasta maduro e cujo estilo evoluiu bastante desde Zodíaco a Os Homens que não Amavam as Mulheres passando por A Rede Social a ponto de todos os elementos, como os nomes que desaparecem nos créditos iniciais, para muitos irrelevante, ou o esmaecimento (fades) nas transições feitas pelo montador Kirk Baxter, seu colaborador habitual, servirem senão para imergir, prender e sufocar o espectador do princípio ao fim. Como é tenso Garota Exemplar. A fotografia de Jeff Cronenweth, outro colaborador habitual de Fincher, atribui a uma vizinhança careta contornos sombrios, os mesmos com que também devora o rosto dos personagens a ponto de não podermos mais confiar no que dizem. Desconfiar do desejo de um certo personagem em ter filhos, mesmo depois de conhecer toda a verdade, só testemunha em prol do poder da narrativa em persuadir o espectador a crer nas palavras que lhe alimenta e, mais ainda, na própria incapacidade humana de enxergar com olhares de perdão quem antes não hesitávamos em acusar. E, olha, há muito tempo um diretor não brincava tanto com minhas expectativas durante a projeção a ponto de me fazer sentir compaixão, ódio, frustração e desprezo por determinados personagens como Fincher fez aqui em um dos seus temas prediletos: a análise da psiquê doentia do ser humano. Um mérito de Ben Affleck, de quem normalmente não gosto em frente às câmeras ainda que aqui ofereça uma performance competente, ajudada pelo bom casting e pela sua habilidade em captar todas as nuances para que Nick surja como monstro e vítima, às vezes simultaneamente. Mas também de Carrie Coon, atriz que eu desconhecia e que surpreende com a dedicação irrestrita ao irmão, de Kim Dickens, cuja detetive tem todos as razões, inclusive as mais feministas, para desconfiar de Nick e se não o faz é somente porque põe a razão antes da emoção, e, por óbvio, de Rosamund Pike, na melhor performance de sua carreira. Pike, a propósito, é hábil em aprisionar apenas no olhar uma miríade de emoções a priori irreconciliáveis que confluem em uma mulher forte que faria mesmo Lisbeth Salander corar. Suas particularidades, todas capturadas por Trent Reznor e Atticus Ross em sua trilha sonora agoniante e caótica, que poderia representar a primeira tentativa bem-sucedida em converter um ser humano em pura música. Com o pecadilho de estender-se minutos a mais quando já havia sido resolvido, Garota Exemplar é o novo clássico instantâneo de um dos melhores diretores do cinema, além de um tratado atemporal sobre o que os relacionamentos escondem sob as máscaras." (Marcio Sallen)
72*2015 Globo
Top 250#120
Top 200#129 Cineplayers (Usuários)
Top Década 2010 #7
Top Suspense #34
Date 05/01/2015 Poster - ##### - DirectorJon M. ChuStarsDwayne JohnsonChanning TatumAdrianne PalickiThe G.I. Joes are not only fighting their mortal enemy Cobra; they are forced to contend with threats from within the government that jeopardize their very existence.[Mov 03 IMDB 5,9/10 {Video/@@} M/41
G.I. JOE - A RETALIAÇÃO
(G.I. Joe: Retaliation, 2013)
"Ao contrário do original, aqui as cenas de ação causam alguma sensação. Mas o filme tem uma nova história risível, escrita sem cuidados e sem temor do ridículo." (Alexandre Koball)
"Quem foi criança nas décadas de 1970-1980 deve se lembrar dos bonecos-soldados Falcon e Action Man, de corpos grosseiros e rostos de feições genéricas. O sucesso do brinquedo só começou a ser aproveitado pelo cinema recentemente, com G.I. Joe - A Origem de Cobra (2009), que faturou US$ 300 milhões. O segundo filme da franquia procura reeditar o êxito com um elenco reforçado por ícones da pancadaria como Bruce Willis e Dwayne Johnson. O roteiro -como geralmente acontece no gênero- é só pretexto para explosões, perseguições e bordoadas. De novo, o vilão é a organização Cobra, que infiltra um membro - Zartan (Arnold Vosloo), mestre em disfarces - na Casa Branca, onde se faz passar pelo presidente dos EUA. O impostor acusa o esquadrão de elite G.I. Joe de traição e ordena a sua eliminação. Três sobreviventes precisam lutar contra todos para desmascarar o embuste. Enquanto isso, Zartan toma decisões polêmicas e belicistas, experimentando níveis de popularidade crescentes. A overdose de ação prejudica o ritmo do filme. As lutas alongam-se sem nada acrescentar à trama. Além disso, a impostura envolvendo o presidente (ponto central do filme) demora a ser explorada. O roteiro é confuso em relação a alguns personagens secundários. Bruce Willis só dá o ar da graça lá pela metade da história, e Dwayne Johnson parece levar o filme sozinho, tal a sua onipresença." (Alexandre Agabiti Fernandez)
"Em tempos em que adaptações vivem adequando-se aos moldes de outras séries - que muitas vezes não vão ao encontro de suas origens - "G.I. Joe: Retaliação" continua mantendo-se fiel à simplista premissa dos brinquedos da Hasbro, a luta por controle de duas organizações antagonistas, com seus personagens extravagantes. O longa original, G.I. Joe: A Origem de Cobra, já havia acertado nisso, ainda que muitos tenham torcido o nariz para o excesso de humor e aquela sensação de que os realizadores estão se divertindo mais do que deveriam. Cientes disso, os produtores tornaram a trama um pouco mais dramática na continuação. Os Joes, afinal, deixam desde o início de ser um exército para tornarem-se um pequeno grupo de sobreviventes, depois de um devastador ataque, orquestrado desde o final do primeiro filme. A ideia é ótima para reposicionar o tom sem a necessidade de reboots. Os eventos da adaptação de 2009 são totalmente considerados, mas é quase como se fosse uma nova leitura. Ajuda também o fato de que, com menos pessoas no elenco, há mais espaço para trabalhar melhor as relações entre os personagens e aprofundá-los (na medida do necessário em um filme de ação assim). O elenco também é superior. Dwayne Johnson, que vive Roadblock, esbanja o carisma de sempre, ao lado de DJ Cotrona (Flint), Adrienne Palicki (Lady Jane) e Bruce Willis (Joe). O lado dos Cobras também ganha reforços na figura de Ray Stevenson, o Firefly, e nas interações na Casa Branca, todas muito boas. A presença do "Líder do Mundo Livre", aliás, traz uma positiva crítica política, ressaltada pela pesquisa de popularidade do presidente e algumas cenas da Fox News. Jonathan Pryce, que faz o personagem do presidente, é ao mesmo tempo Obama e Bush em "GI Joe: Retaliação". John M. Chu, diretor egresso de filmes de dança (Ela Dança, Eu Danço 2 e 3) e do documentário Never Say Never (sim, o do Justin Bieber!), surpreende com seu entendimento de sequências de ação - em especial as coreografias dos ninjas - e estruturação dos planos de forma a tornar as cenas inteligíveis, algo cada vez mais raro nesse tipo de cinemão explosivo. Há espaço para sutilezas interessantes também, como a excelente cena, improvisada nos ensaios, em que Flint e Lady Jane dividem um momento de intimidade. O roteiro de Rhett Reese e Paul Wernick (a dupla de Zumbilândia), no entanto, se arrisca no vai-e-vem e flashbacks com os ninjas. Ainda que sejam esteticamente agradáveis e respeitem acontecimentos dos desenhos animados, essas cenas e personagens confundem quem não está habituado com a franquia ou não tem o primeiro longa na memória (o que, convenhamos, é a grande maioria). Essa trama que corre paralela é mal explicada e tem furos, parece apressada e interessada um pouco demais no mercado oriental, representado aqui na figura de Lee Byung-hum, o Storm Shadow. Também soa forçadíssimo o grande plano do Comandante Cobra (Luke Bracey), que envolve um encontro de armas nucleares. Toda a sequência é caricata demais e carece de tensão verdadeira, destoando do todo e resultando em algo meio risível. O clímax, literalmente, bombástico também torna um tanto difícil acreditar no desfecho, por mais fantasioso que o filme seja. Com um eventual genocídio de milhões de habitantes de uma cidade não haveria espaço para finais felizes ou continuações, já que mudaria todo o panorama sóciopolítico do planeta. Talvez o filme devesse ter se contido no desejo de explodir deus-e-o-mundo, em prol de sua própria despretensão. Para quem conseguir ignorar isso e focar-se no teor juvenil da trama, porém, "GI Joe: Retaliação" deve ser diversão garantida. Afinal, o filme tecnicamente é espetacular, cheio de cenas empolgantes e ideias bacanas, traquitanas tecnológicas e com um 3D bem decente, apesar de convertido (o filme foi atrasado em quase um ano para garantir a qualidade da estereoscopia, entre outras mudanças). Enfim, mais sério que o primeiro filme dos Comandos em Ação, mas não mais realista, G.I. Joe: Retaliação segue levando a franquia na direção certa, explorando a alma da linha de brinquedos, sem a necessidade de reinventar sua essência." (Erico Borgo)
"É uma aposta segura afirmar que ao menos 80% dos meninos nascidos nos últimos 30 anos tiveram quando criança algum veículo ou figura dos Comandos em Ação (ou G.I. Joe). Em tempos da Guerra Fria, a ideia dessa franquia de brinquedos/animações/quadrinhos era bastante simples, colocando os coloridos e versáteis heróis (os Joes ou Comandos) contra os igualmente diversificados “vilões” (os membros da organização COBRA). A despeito da longevidade da marca, o primeiro filme só veio em 2009, com “G.I. Joe – A Origem de Cobra”, longa regular que retratou de forma bem fantasiosa o início da luta entre essas facções, bem como o surgimento dos líderes destas, Duke (Channing Tatum) e o Comandante Cobra (lá vivido por Joseph Gordon-Levitt). Apelando para a nostalgia dos marmanjos e para a sede de explosões dos mais novos, a fita fez sucesso suficiente para garantir uma continuação, embora os donos da bola tenham ficado menos que satisfeitos com o produto em si. Impossibilitados de fazer um reboot por conta do filme anterior ser tão recente e repleto de ganchos para sequências, os produtores aproveitaram tais deixas neste “G.I. Joe – Retaliação” para modificar quase tudo o que fora estabelecido antes, de modo deveras brusco, colocando no comando o diretor John M. Chu (Justin Bieber – Never Say Never), que surpreende nas cenas de ação, mas deixa a peteca cair no que concerne à narrativa. Sai o foco internacionalizado da película passada e entra o Real American Hero que caracteriza a franquia em seu berço de origem, com os Joes sendo retratados como uma unidade do exército estadunidense. Além disso, o roteiro de Rhett Reese e Paul Wernick (Zumbilândia) dá algumas alfinetadas desnecessárias na Coreia do Norte ao mesmo que tenta se mostrar liberal ao criticar a Fox News, em uma tentativa de se mostrar atual e agradar a esquerda e a direita ao mesmo tempo. Na trama, o vilão Zartan (Arnold Vosloo) assume a aparência e o lugar do presidente norte-americano (Jonathan Pryce) e liberta o Comandante Cobra (Luke Bracey). Os dois, ao lado de Storm Shadow (Byung-hun Lee) e do explosivo Firefly (Ray Stevenson), põem em prática um plano que colocará o mundo sob o jugo da COBRA. Eles dizimam os Joes em uma ação que devasta seus rankings e a imagem pública da corporação. Os únicos que escapam do ataque são o experiente Roadblock (Dwayne Johnson), a bela Lady Jaye (Adrianne Palicki), o impetuoso Flint (D.J. Cotrona) e os ninjas Snake Eyes (Ray Park) e Jinx (Elodie Yung). Sem apoio, desprovidos de seus equipamentos e transformados em renegados, o grupo busca reforços com o fundador dos Comandos, o aposentado General Joe (Bruce Willis). Reese e Wernick basicamente pegaram parte do roteiro de Missão: Impossível – Protocolo Fantasma e o refizeram com ninjas. E o plot envolvendo esses guerreiros orientais, apesar dos visuais bacanas dos personagens e de gerar a cena de ação mais interessante do longa, nunca parece se encaixar com o resto, correndo em paralelo com o pilar principal do script e quase não o influencia. Os roteiristas fazem verdadeiros malabarismos para tentar justificar a trama envolvendo Snake Eyes e Storm Shadow, incluindo aí um twist insano e mal ajambrado para embasar uma mudança temporária na dinâmica entre eles. A adição de Jinx e do Blind Master (RZA) incha ainda mais o subplot, com essas figuras surgindo basicamente do nada, não tendo nenhum desenvolvimento e castigando os atores com diálogos ridículos e excessivamente expositivos. Nisso, o filme engancha mais de uma vez na transição entre os eixos ocidental e oriental apresentados, prejudicando a fluência da montagem, algo primordial em um bom filme de ação. Voltando à trama central, esta é salva por alguns atores que mergulharam fundo no espírito juvenil que uma produção dessas deve representar. Os melhores nesse quesito são certamente Dwayne Johnson e Jonathan Pryce. Nos mocinhos, Johnson assume o posto de protagonista sem seus monstruosos ombros, injetando um carisma que faltou a Tatum na fita anterior, realmente se divertindo a cada segundo como o herói de ação que é. O ator D.J. Cotrona não faz nada digno de nota com seu Flint, sendo uma presença negativa em cena, enquanto Adrianne Palicki empresta suas curvas a Lady Jaye e faz com que os problemas paternos de sua personagem elevem a presença de Bruce Willis no filme a algo além de uma ponta glorificada, com os dois tendo uma boa química na tela com as piadas machistas do eterno John McClane. Do lado dos vilões, o veterano Jonathan Pryce, em um papel duplo, prende a atenção do público com seu anárquico Zartan, um homem tão cínico e insano que consegue jogar Angry Birds despreocupadamente no celular enquanto ameaça destruir o mundo. O Firefly de Ray Stevenson também prima pela canastrice do ator, em um bem-vindo overacting. Os desempenhos de Pryce e Stevenson apagam por completo o Comandante Cobra, que deveria ser o antagonista principal da franquia. Vai entender! Mas todos sabem que o verdadeiro astro aqui são as cenas de ação e estas são muito bem conduzidas e deveras bem coreografadas, se mostrando espalhafatosas na medida certa. Um destaque especial vai para a luta nas montanhas que envolve os ninjas, mesmo com a falta de sangue nas espadas incomodando um pouco. Esta sequência sozinha já paga o ingresso 3D, o que prova que o ano em que o filme ficou sendo convertido para o formato valeu a pena. Note-se que os veículos extravagantes, uma marca registrada da série, são poucos e quase todos do lado dos COBRA, não só por exigência da trama, mas também para fortalecer ainda mais a conexão entre os Joes e os soldados reais dos EUA. Só isso explica a inclusão dos soldados antigos amigos do General Joe, que jamais chegam a fazer qualquer coisa. Semelhanças com a inclusão de veteranos militares em Battleship – A Batalha dos Mares e Transformers – O Lado Oculto da Lua, ambos também baseados em produtos da Hasbro, não são mera coincidência. Quem for assistir a “G.I. Joe – Retaliação” apenas por nostalgia e pelas cenas de ação, deve sair razoavelmente satisfeito do cinema, especialmente por conta do bom trabalho de Dwayne Johnson e Jonathan Pryce. No entanto, quem for esperando uma história minimamente bem contada com algo um pouco além de diversão descerebrada, certamente irá se decepcionar." (Thiago Siqueira)
"Quando brinquedos são levados para as telonas ninguém espera uma obra-prima capaz de redefinir o cinema, mas sim aventura, correria, explosões e garotas sensuais, tudo para divertir adolescentes e fãs de ação. Com o sucesso de público de G.I.Joe, uma segunda aventura dos Comandos em Ação era esperada. Porém, mais do que uma continuação, o novo filme é praticamente um reboot, pois muda tudo em relação ao primeiro, dos personagens ao visual. Isso seria algo bom, se o custo não fosse a diversão. Para quem não se lembra, G.I. Joe - A Origem de Cobra era uma montanha russa de ação e humor, repleto de personagens extravagantes. A sequência, Retaliação, prometia seguir a mesma linha, mas corria o risco de cair no erro de outro filme da Hasbro, Transformers 2, caso investisse em piadas toscas e cenas de ação grandiosas e cansativas. Por sorte, o diretor Jon M. Chu (Justin Bieber: Never Say Never) evita cometer os erros de Michael Bay, porém, ignora alguns dos melhores pontos da franquia ao deixar o tom sério, o que não faz sentido com a proposta do longa. G. I. Joe 2 começa exatamente após os eventos do filme de 2009. Com o Comandante Cobra e Destro presos, cabe ao vilão Zartan (Arnold Vosloo) tomar o lugar do presidente dos Estados Unidos e iniciar uma campanha agressiva para desestabilizar o mundo, liberar seu líder e desacreditar os Joes. Após eliminar praticamente todos os soldados da tropa de elite, cabe a Roadblock (Dwayne Johnson) liderar o restante da equipe e desmascarar o impostor. Boa parte do longa gira em torno da investigação sobre quem traiu o grupo e por quê. É interessante ver o roteiro tentar ir além do universo simplista proposto pelos brinquedos. O problema é os heróis fundamentarem suas teorias em fatos irrelevantes e ainda quase convencerem o General Joe Colton (Bruce Willis). Para manter a credibilidade do filme, Colton pede mais provas (ainda bem). Para consegui-las, Lady Jaye precisa entrar de penetra em uma festa com figurões do alto escalão do governo, porém a cena é mal conduzida e se mostra uma versão for dummies de Missão Impossível ou 007. Obviamente, tudo funciona melhor quando a pancadaria volta a comer solta e esconde os buracos de roteiro. Afinal, ninguém vai ao cinema para ver G.I. Joe esperando fazer algum tipo de reflexão, a ideia é colocar o cérebro de molho e se divertir com o absurdo. O melhor momento do filme é a invasão de Snake Eyes e Jynx a um monastério no Himalaia. A luta em meio aos picos com ninjas pendurados por cordas é sensacional e vale o ingresso. Sem falar que justifica o atraso de vários meses para adicionar efeitos 3D, superior a Os Vingadores, por exemplo. ''G. I. Joe 2: Retaliação" é um dos poucos casos em que incluir mais ação e explosões seria o caminho certo a seguir. O filme tem bons pontos: Dwayne Johnson é uma ótima adição à franquia, as roupas e veículos são mais fieis aos brinquedos e a trama é mais interessante e, mesmo assim, a coisa não engata. Há muitas mudanças bruscas de ritmo e uma diminuição na escala dos combates. Nas mãos de um bom diretor, ou até mesmo de Michael Bay, essa sequência poderia superar o original. Ao invés disso, temos um show de potencial desperdiçado." (Daniel Reininger)
Os verdadeiros Comandos em Ação.
"O caráter excessivamente comercial da indústria hollywoodiana não é apenas uma afronta a cinéfilos minimamente exigentes, sendo, também, responsável por algumas situações verdadeiramente hilárias. Exemplo recente mais representativo e constrangedor dos métodos adotados por essa indústria, devido aos inúmeros contratempos ocorridos durante sua fase de produção (curiosidades que ganham o merecido destaque ao final da crítica), "G.I. Joe: Retaliação" (G.I. Joe: Retaliation, 2012) surpreende por, mesmo cometendo quase todos os equívocos de G.I. Joe – A Origem de Cobra (G.I. Joe: The Rise of Cobra, 2009), ser consideravelmente melhor que seu antecessor. A trama, novamente, é exígua: os G.I. Joes são dizimados devido a uma conspiração que se alastra pela cúpula do governo norte-americano, e caberá aos sobreviventes Roadblock (Dwayne Johnson), Lady Jaye (Adrianne Palicki) e Flint (D.J. Cotrona, expressivo como uma porta) recrutar novos e antigos soldados para recolocar os Joes na posição de heróis nacionais. Tamanha simplicidade antevê a função narrativa de um roteiro exposto a todo tipo de conveniências e resoluções fáceis e previsíveis (a exemplo de toda subtrama envolvendo Storm Shadow), sendo montado com a clara pretensão de privilegiar um sem número de situações que envolvam bem coreografadas cenas de lutas e tiros, sempre com muita pirotecnia, slow-motion e uso interativo (e pobre) do 3D. Portanto, o que diferencia o novo filme do péssimo A Origem de Cobra é a versatilidade dos roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick. Embora a ação seja frenética, a dupla responsável por Zumbilândia (Zombieland, 2009) propõe uma história menos dependente de efeitos especiais e enxertada de alívios cômicos melhor desenvolvidos. A receita é semelhante à aplicada em Os Mercenários 2 (The Expendables 2, 2012), sequência em que Stalone e Simon West mostram-se brilhantes em, simultaneamente, homenagear e satirizar os característicos filmes de ação dos anos 80. Em GI Joe 2 os clichês não são adotados como inspirada e fina ironia àqueles exemplares, mas são eficientes no resgate do vigor e do carisma do “cinema de ação brucutu”, além de remeter à época em que os Comandos em Ação se tornaram febre mundial. Apesar de toda questão mercadológica que envolveu a brutal (e necessária) mudança de elenco, esta também mostrou-se acertada. Dwayne Johnson faz todo jus ao codinome The Rock e surge tão forte, grande e bronco como um Schwarzenegger em tempos de Comando Para Matar (Commando, 1985). Escalado como o lendário general Joe Colton, Bruce Willis surge já na metade do filme, deslocado, mas Reese e Wernick levam sua rápida aparição do desastre ao hilário. Com mais tempo de projeção, Willis poderia ter roubado a cena, como fora a participação especial de Bill Murray no já citado Zumbilândia. Pouco experiente, o diretor Jon M. Chu (de pérolas como a série Ela Dança, Eu Danço 2 [Step Up 2: The Streets, 2008] e 3 [Step Up 3D, 2010] e Justin Bieber: Never Say Never [idem, 2011]) teve como desafio atender à excessiva e descerebrada demanda de ação do roteiro (certamente requisitada pelo estúdio), administrar a veia cômica do roteiro – onde cabe escrachada sátira ao belicismo do(s) governo(s) Bush – e sustentar um ritmo vertiginoso (cansativo) até o fim. E até que o saldo é positivo, principalmente se comparado a trabalhos em outros blockbusters recentes e considerada a forma intervensiva como a indústria se comporta com cineastas de menor prestígio. O lançamento de G.I. Joe 2 estava marcado para junho de 2012. Material promocional desenvolvido, campanha publicitária milionária em pleno curso e, três semanas antes da nova continuação do pedaço chegar aos cinemas, foi anunciado seu adiamento em 10 meses. Dez meses! A alegação oficial, conversão do filme para o 3D, atentado artístico cuja única função é servir como anabolizante no momento da arrecadação. Extraoficialmente, muitos rumores. Um deles aponta para a influência decisiva da Hasbro, companhia de brinquedos detentora dos direitos dos Comandos em Ação, preocupada em ver se repetir o fracasso de Battleship – A Batalha dos Mares (Battleship, 2012). Mas não para por aí. A sequência de bolas foras da Paramount começara ainda em 2009, quando o estúdio demitiu o diretor Stephen Sommers na fase de pós-produção do primeiro G.I. Joe devido à baixa avaliação do filme em suas sessões de teste. E o resultado, nas telas e nas bilheterias, foi realmente tenebroso. Mas seus executivos decidiram insistir numa continuação (risos), adotando como primeira decisão escalar um elenco comercialmente mais atraente. Escalados Dwayne Johnson e Bruce Willis, hora de rodar o longa-metragem. Tudo correu perfeitamente – até o bendito (?) teste de audiência, carma da Paramount. As avaliações oscilavam entre o medíocre e o ruim (mais risos), e o público que assistiu à prévia do filme apontava que o único ponto positivo de Retaliação eram as cenas entre Johnson e Channing Tatum (Duke). Protagonista do filme anterior, Tatum fora relegado ao posto de coadjuvante na sequência, mas viu, sorridente, sua popularidade crescer junto ao público-alvo, por filmes como Anjos da Lei (?) e Para Sempre (???). Coube à Paramount não dispensar John M. Chu, mas acioná-lo, solicitando a inclusão de mais cenas entre Johnson e Tatum – que, certamente, teve mais motivos para sorrir, acertando um contrato mais polpudo. Apesar do tom irônico dos parágrafos acima, a situação é séria, e incomoda. A interferência de quem comanda a indústria cinematográfica não se restringe ao adiamento da data de lançamento por conta de um concorrente de peso – como era o caso, pelo lançamento de O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, 2012) –, mas se estende por todo processo de produção. Assim acontece em todo o mundo. E são esses filmes, de grande orçamento e qualidade duvidosa, que tomam as salas de cinema do país. Para que tal panorama se equilibre, cabe ao espectador definir se mais vale se limitar a filmes que doutrinam o fazer cinema através de estratégias de consumo, ou se permitir experimentar obras com valor artístico genuíno. Fica a reflexão." (Rodrigo Torres de Souza)
Paramount Pictures
Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Skydance Productions
Hasbro
Di Bonaventura Pictures
Saints LA
Diretor: Jon M. Chu
115.397 users / 42.228 face
Soundtrack Rock = The Chelsea Smiles + The Heavy
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Date 26/02/2014 Poster - ### - DirectorNorman Z. McLeodStarsGroucho MarxChico MarxHarpo MarxQuincy Adams Wagstaff, Huxley University's new president, accidentally hires bumblers Baravelli and Pinky to help his school win the big football game against their rival, Darwin University.{Video/@@@}
OS GÊNIOS DA PELOTA
(Horse Feathers, 1932)
''O professor Quincy Adams Wagstaff (Groucho Marx) acaba de ser nomeado o Diretor da Faculdade Huxley. Seu filho Frank (Zeppo Marx), que está mais interessado em namorar do que estudar, sugere que ele incentive o time de futebol americano da escola. Tentando ajudar, o filho diz ao pai que os melhores jogadores do país costumam se encontrar num bar próximo à faculdade. Quando o professor chega lá, contrata dois esquisitões (Chico e Harpo Marx) achando que são ótimos esportistas. Essa dupla fará de tudo - menos jogar futebol. (Filmow)
"Um filme menor - mas não menos espirituoso - dos Marx. Tem momentos brilhantes e outros simplesmente enfadonhos." (Alexandre Koball)
Dare 16/02/2015 Poster - #### - DirectorRobert WieneStarsFern AndraHans Heinrich von TwardowskiErnst GronauGenuine is an ancient and cruel divinity, who seduces men and induce them to kill as a proof of love.{Video}
GENUINE - UM CONTO DE UM VAMPIRO
(Genuine, die Tragödie Eines Seltsamen Hauses, 1920)
''Obra extremamente rara de Robert Wiene. Do mesmo diretor e ano do excelente O Gabinete do Dr. Caligari essa obra acabou sendo ofuscada pelo sucesso do Caligari. Tem uma atmosfera de sonho, como se fosse outro mundo ou algo assim." (Filmow)
Date 17/02/2015 Poster - ###### - DirectorCarol ReedStarsMargaret LockwoodRex HarrisonPaul HenreidAfter Germany invades Czechia, the German and the British intelligence services try to capture Czech scientist Dr. Axel Bomasch (James Harcourt), inventor of a new type of armor-plating.[Mov 07 IMDB 7,3/10 {Video}
GESTAPO
(Night Train to Munich, 1940)
''É impossível escrever sobre Night train to Munich sem citar The lady vanishes. Carol Reed nunca escondeu sua admiração pelo filme de Hitchcock e dele importou os roteiristas Sidney Gilliat e Frank Launder, além dos famosos personagens amantes de cricket, Charters (Basil Radford) e Caldicott (Naunton Wayne) – neste caso, porém, a importância da dupla, que apareceria em outros filmes, é ainda maior. A heroína é a mesma Margaret Lockwood, musa de Reed e que com ele fez longa parceria. Sua personagem tem personalidade muito parecida com a do filme de Hitchcock: aparentemente fraca e mimada, no fundo tem espírito para defender seus ideais e preza pela independência feminina. Os elementos do filme são convergentes: trama internacional sob a sombra da Segunda Guerra, espiões nazistas, assassinatos, a tal viagem no trem, cidadãos comuns defendendo a pátria… Mas, se no filme de Hitchcock a aventura era das mais ingênuas e se concentrava nos trilhos, em Night train a situação é um pouco diferente, com momentos mais longos e complexos. Há diálogos demais e ação de menos. Em outras palavras: Carol Reed cozinha demais seu prato e quando vamos prová-lo percebemos que não é tão saboroso assim. Verdade seja dita: The lady vanishes é muito mais divertido, charmoso e espontâneo. Tudo bem que comparações com os filmes de Hitchcock quase sempre são desiguais, mas Reed, com o talento que tinha, poderia ter feito melhor. No último terço da narrativa, quando ela enfim conseguir fluir com facilidade, há alguns grandes momentos – mas o saldo final é de apenas um filme bom e simpático." (Análise Indiscreta)
13*1941 Oscar
Twentieth Century Productions Ltd.
Diretor: Carol Reed
2.186 users / 198 face
Check-Ins 499
Date 15/03/2014 Poster - ##### - DirectorAlfonso CuarónStarsSandra BullockGeorge ClooneyEd HarrisDr Ryan Stone, an engineer on her first space mission, and Matt Kowalski, an astronaut on his final expedition, have to survive in space after they are hit by debris while spacewalking.[Mov 05 IMDB 8,1/10 {Video/@@@@} M/96
GRAVIDADE
(Gravity, 2013)
''Coisa rara. Um filme indicado ao Oscar - em dez categorias! - chega às lojas antes da cerimônia do prêmio. As versões em Blu-ray 3D, Blu-ray e DVD de "Gravidade" estão à venda no Brasil desde a última sexta-feira. Quem quiser poderá conferir em casa se as indicações foram justificadas. Duas delas estão acima de qualquer suspeita. O diretor Alfonso Cuarón conseguiu uma fantástica representação da falta de gravidade no espaço, com cenas longas e bonitas, de um realismo impressionante. Ganhou o Globo de Ouro de diretor e pode faturar o Oscar. A outra unanimidade é a atuação tensa de Sandra Bullock, como a astronauta que vaga na órbita da Terra, dentro e fora de naves, e tenta voltar ao planeta. Se perder o segundo Oscar, provavelmente será para Cate Blanchett. Sem essa concorrência, levaria fácil." (Thales de Menezes)
"Não é totalmente original como um todo (bebe da fonte de games consagrados como Dead Space), mas o cinema não viu algo assim até hoje. Cuarón exagera nos malabarismos, tudo em prol do deleite visual. Alguns subtextos são superficiais, e é sua maior falha." (Alexandre Koball)
"Um eficiente brinquedo de shopping." (Daniel Dalpizzolo)
"O subtexto sobre o vazio interior acaba pequeno perto da imersão e experiência que Cuarón conseguiu alcançar." (Rodrigo Cunha)
"Ação e reflexão. Evolução e renascimento. O milagre da maternidade. Água e T(t)erra. A celebração do homem em contraponto à imensidão do universo. O plano final que resume todo um conceito. E tudo isso em meros 90 minutos. Pequeno Grande Filme." (Régis Trigo)
"Mais magra (até porque está muito mais rica), Sandra Bullock volta às origens, em mais um filme de ação B, como era 'Velocidade Máxima'. 'Gravidade' parece mais um curta esticado que um longa metragem." (Demetrius Caesar)
"Uma das maiores experiências cinematográficas que já vivi. Deslizes aqui e ali não diminuem o impacto dessa magnífica realização, que mistura contemplação, beleza e adrenalina com um virtuosismo técnico espetacular. O que foi alcançado aqui será lembrado." (Silvio Pilau)
"É de um virtuosismo técnico (o gigantesco plano-sequencia de abertura é supremo) impressionante, deveras inovador no cinema. Bullock está ótima e segura bem o filme até o fim. Pena que no final se perca em lições de vida de produções de quinta." (Heitor Romero)
"A simples história cativa e a técnica é empolgante. Não é uma obra prima, mas é relevante, um marco cuja experiência proporcionada seguirá pertinente e certamente influente." (Marcelo Leme)
O incrível filme de trama simplória.
''Filhos da Esperança (Children of Men, 2006) não é exatamente um grande sucesso entre o público médio, mas tem uma avaliação maioritariamente positiva entre a crítica especializada e os cinéfilos mais exigentes. Para felicidade de seus realizadores, o filme agrada tanto pelas discussões que seu universo distópico suscita, como pela qualidade técnica da obra, admirada por envolventes e criativos planos sequências. Diante desse parâmetro, o novo de Alfonso Cuarón, Gravidade (Gravity, 2013), se mostra tematicamente menos ambicioso e versátil do que se poderia esperar, mas corresponde plenamente enquanto realização cinematográfica, pela engenhosidade de suas cenas, e (mero) exercício de gênero. O modo como se estrutura a história ilustra sua simplicidade: o veterano Matt Kowalsky (George Clooney, puro carisma) lidera, em sua última viagem espacial, uma equipe da NASA que conta com a cientista Ryan Stone (Sandra Bullock), em sua primeira ida ao espaço, como responsável pelo reparo e manutenção das estações espaciais - e a disparidade de experiência entre os dois protagonistas é tão convencional quanto os rumos que a aventura, sempre previsível, irá tomar. Porém, Gravidade acerta justamente por sua despretensão, pelo esclarecimento do que se propõe e a quem se destina. Desse modo, ainda que a personagem de Sandra Bullock, na gravidade 0 da estação espacial, eventualmente se posicione como um feto (enquanto traços formam seu cordão umbilical e a luz solar ao fundo dê maior ênfase ao ato do nascimento, compondo belíssima cena), em nenhum momento Cuarón se mostra mais preocupado em transmitir alguma mensagem filosófica ou apresentar um subtexto mais sofisticado (e a cena descrita não pode significar mais que o renascimento de um indivíduo depressivo, a se reerguer em um momento de urgência, despertado por seu instinto de sobrevivência) a apenas manter o espectador agarrado à poltrona durante toda a projeção. Desse ponto de vista, Gravidade é nada mais que um filme-catástrofe; mas, um filme-catástrofe dos bons, muito bons. O roteiro é repleto de gatilhos de tensão, com os protagonistas sendo submetidos a todo tipo de contratempos no inóspito e hostil espaço sideral. No entanto, é a habilidade do cineasta com a câmera que envolve o espectador por completo. Dos segundos iniciais à primeira chuva de detritos espaciais, são aproximadamente 20 minutos de um dos mais espetaculares planos sequências já produzidos pelo cinema. E assim é ao longo de todo o filme, basicamente composto de planos muito longos, belíssimos (a vista da Terra é deslumbrante!) e incrivelmente bem coreografados. Ciente de que já não desperta fascínio em ninguém captar objetos flutuando (apesar de muito curioso ver a formação de chamas perfeitas a partir de fios em curto circuito), Cuarón explora todas as possibilidades que o espaço (ou os espaços, o fílmico e o físico) lhe proporciona(m), e a câmera ora contorna toda uma nave e percorre todo o seu interior, ora se mantêm estática enquanto uma estação espacial gira freneticamente, sempre surpreendendo pela perfeição com que realiza cenas de níveis de dificuldade extremos. Por tudo isso, pode-se dizer que "Gravidade" é mesmo um grande feito cinematográfico. Por outro lado, é um filme de trama simplória e um compromisso mercadológico muito superior ao do politizado e sombrio Filhos da Esperança. Nesse contexto, à crítica e aos mais apaixonados pela Sétima Arte resta apenas reconhecer e enaltecer o primor de uma obra tecnicamente impecável - o que torna deliciosamente irônico perceber que o plano sequência final é dotado de um pequeno incidente, quando uma gota cai sobre a lente da câmera, funcionando como uma quebra de quarta parede; um estalar de dedos a reorientar o público, antes entorpecido pela tensão e pelo realismo impressionante de um thriller espacial repleto de CGI - e eu, particularmente, não tenho dúvidas de que a cena foi mantida como uma pequena brincadeira de Alfonso Cuarón, a bradar "sim, é um filme, e fui eu que fiz!", compreensivelmente orgulhoso de sua realização." (Rodrigo Torres de Souza)
Um ensaio milionário sobre solidão, fragilidade e autocontrole. Este é Gravidade (Gravity, 2013), novo filme do diretor mexicano Alfonso Cuarón.
''A ficção científica se passa no espaço, na órbita terrestre, a 600 quilômetros de altura. Nela, uma equipe de astronautas e cientistas instala novas partes no telescópio Hubble quando chega o alerta: uma nuvem de detritos está chegando em alta velocidade à sua posição. Em minutos, toda a segurança da nave se vai - e restam apenas a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) e o comandante da missão, Matt Kowalsky (George Clooney), indefesos vagando pelo espaço. Cuarón faz aqui o tipo de filme que costuma ser visto em baixo orçamento: apenas dois personagens que precisam superar uma situação insuperável. No entanto extrapola essa ideia - normalmente uma solução criativa minimalista para uma verba apertada -, empregando-a de forma grandiloquente. E tome visuais de tirar o fôlego (especialmente em 3D), explosões em gravidade zero e longos e aflitivos planos sem cortes que passeiam de dentro para fora dos capacetes dos personagens enquanto eles discutem sua situação. ''Gravidade'' é um deleite técnico. A alternância entre som e silêncio amplifica o drama e a trilha sonora aflitiva de Steven Price entra apenas em momentos cruciais. A animação (o filme é quase que todo em computação gráfica) é perfeita e realista e a tensão é absolutamente constante, já que não há momentos de respiro (ainda que o filme encontre um hilário em Clooney, charmoso como nunca). E Bullock dá um show como a astronauta novata que já perdeu tudo, mas que decide viver. Esteta, Cuarón encontra no espaço e o controle milimétrico de seu set. Há cenas de beleza intensa e grande significado, como os renascimentos da Dra. Stone, especialmente o primeiro, em que a vemos pela primeira vez como mulher, como humana, indefesa fora da casca protetora do uniforme de astronauta. Nas lágrimas sem gravidade, Cuarón aprecia a beleza da fragilidade humana - e sua tenacidade." (Erico Borgo)
''O programa a que se propõe "Gravidade" não é extenso, embora complicado: trata-se de mostrar, o mais realisticamente possível, a vida no espaço. E por a vida no espaço entenda-se que boa parte do filme de Alfonso Cuarón se passa fora de qualquer estação ou cápsula. A missão sobre a qual o veterano Matt Kowalski (George Clooney) brinca que tem maus pressentimentos efetivamente passará por problemas –e não dos menores. Ao lado de Kowalski está uma novata, a médica Ryan Stone (Sandra Bullock). Durante uma missão (dela) e um passeio (dele) fora da cápsula, as coisas começam a dar errado. Seu equipamento principal é atingido por uma nuvem de detritos espaciais. Estamos no espaço, e a falta de gravidade é o menor dos problemas que os astronautas enfrentarão. Desde a falta de ar até a ignorância da dra. Stone da língua chinesa, tudo parecerá perigoso. Perigoso e bem resolvido do ponto de vista visual, que é o que essencialmente interessa. Pois com "Gravidade" estamos na esfera do cinema-espetáculo. O desenvolvimento das personagens é mínimo. Até os aspectos que podem comover alguém (como os referentes à morte da filha da dra. Stone) não servirão para fazer ninguém chorar. Mas isso, em definitivo, não importa. O alvo de Cuarón é a pura aventura: estar no espaço, flutuar, contemplar a beleza (isso no início). E mais tarde, ora ser jogado de um lado para outro, ora um corpo em velocidade tentar desesperadamente agarrar uma estação espacial, ora respirar com seu oxigênio se exaurindo. O que Cuarón nos oferece é uma aventura quase sem transcendência, em que o essencial é sobreviver, mas também sem baixezas (não se serve do 3D para nos atirar meteoritos no rosto). Seu ponto mais forte talvez seja a suave passagem de bastão de uma geração a outra: Kowalski usará sua experiência para ajudar Ryan a sobreviver. A odisseia de nossos astronautas não é um questionamento sobre quem somos nós, humanos, diante do universo e do tempo, como no 2001 de Kubrick. Mas é possivelmente o filme que até hoje melhor cria a ideia de como o homem e o espaço se relacionam fisicamente. Um programa não extenso, mas cumprido: é mais do que nada." (* Inácio Araujo *)
''De volta a ''A Gravidade". Ali há dois astronautas, um experiente, e outra inexperiente. Quando surgem as dificuldades, com a destruição da nave, é ele, George Clooney, que deve passar instruções e transmitir segurança à novata. À medida que o filme evolui, o espectador é confrontado com o sentimento de solidão. Não há celular, não há selfie, não há teclado a que recorrer. É o homem diante da solidão, digamos logo. Mais que isso, contudo, é a solidão do homem diante da imensidão cósmica, que aspira a conquistar. Restituir-nos à nossa dimensão, a do infinitamente pequeno, não é pouco mérito. Se Sandra Bullock pensasse um pouco menos nas suas responsabilidades maternas, seria um pouco melhor. Mas, perto da produção que se tem visto, estamos, literalmente, no céu." (** Inácio Araujo **)
''O que primeiro chama a atenção em "Gravidade" é o encontro técnico entre o diretor Alfonso Cuarón, o fotógrafo Emmanuel Lubezki e os técnicos de efeitos especiais. Uma longa colaboração cujo objetivo era trazer o espectador para dentro do espaço, quase como se participasse mesmo dessa viagem espacial. Ela envolve dois astronautas, o experiente, vivido por George Clooney, e a novata, interpretada por Sandra Bullock. E, depois, um acidente que os deixa em condições mais que precárias no espaço. Se o Oscar é um prêmio que vai com espantosa frequência para mãos erradas, digamos que o deste ano fez justiça ao primeiro mexicano a ganhá-lo como melhor diretor. A fotografia e os efeitos especiais também ganharam, entre outros: um triunfo técnico, sim, mas não sem arte." (*** Inácio Araujo ***)
''Sim, fala-se muito, e não sem motivo, de uma crise da representação. Mas aí aparece "Gravidade". A história diz respeito a uma missão espacial simples, quase monótona, que de repente é abalada por detritos de um satélite. Sobram vivos apenas o experiente astronauta George Clooney e a inexperiente Sandra Bullock, mas as condições de sobrevivência tornam-se mais delicadas. O roteiro é bem levado: apoia-se pouco ou nada na psicologia e muito na ideia de aventura. Não precisa correr loucamente para nos implicar. Ao contrário: é com calma que se constrói a narrativa, e sem pressa que o filme nos leva ao espaço, a suas belezas e riscos.
É verdade, Alfonso Cuarón e seu genial fotógrafo, Emmanuel Lubezki, passaram anos a explorar o espaço num estúdio até chegar a produzir a perfeita ilusão do espaço. Filme a saudar.'' (**** Inácio Araujo ****)
86*2014 Oscar / 71*2014 Globo / 2013 Palma de Cannes / 2013 César
Top 250#161
Top Ficção Científica #35
Warner Bros.
Esperanto Filmoj
Heyday Films
Diretor: Alfonso Cuarón
475.573 users / 143.144 face
Check-Ins 503
Date 27/03/2014 Poster - ###### - DirectorTim BurtonStarsAmy AdamsChristoph WaltzDanny HustonA drama about the awakening of painter Margaret Keane, her phenomenal success in the 1950s, and the subsequent legal difficulties she had with her husband, who claimed credit for her works in the 1960s.{Video/@@@@} M/62
GRANDES OLHOS
(Big Eyes, 2014)
"Grandes Olhos", de Tim Burton, conta a história de Margaret Keane (Amy Adams), pintora cujos quadros mostravam crianças de olhos grandes e feições sérias, desde o momento em que larga o primeiro marido e foge com a filha para San Francisco, em 1958. Por ingenuidade e insegurança como mãe solteira em tempos de preconceito, ela se casa com Walter Keane (Christoph Waltz), picareta que assume a autoria dos quadros e fica famoso no lugar dela. Na superfície, não vemos muito do universo de Tim Burton, a não ser no fato de que ele colecionava quadros da pintora, e no título, que remete a um de seus filmes menos felizes, Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas. O adjetivo combina com sua tendência de amplificar características dos personagens. Mas a verdade é que Burton não realiza um grande filme desde o incompreendido O Planeta dos Macacos. Sua marca está em algumas entrelinhas: na música de seu parceiro usual Danny Elfman, na preferência pelos quadros mais melancólicos de Margaret, na crítica ao american way of life. Há um momento de delírio que é bem a cara do diretor: Margaret está no supermercado e todos a encaram com olhos iguais aos das pinturas. Não seriam, contudo, elementos fortes o suficiente para segurar um longa, ainda mais vindos de quem já nos deu Edward Mãos de Tesoura e Ed Wood. Mas há um trunfo inegável, mais forte, neste caso, que qualquer marca autoral: Amy Adams. Sua presença é tão luminosa que faz com que o filme seja mais do que o trabalho de um autor em crise." (Sergio Alpendre)
***
''Grandes Olhos" é uma verdadeira raridade. Trata-se de um filme de Tim Burton sem roteiro fantasioso delirante, sem uma direção de arte original deslumbrante e sem Johnny Depp. É quase um longa sobre pessoas normais, mas o cineasta americano de Edward Mãos-de-Tesoura não chegaria a tanto. Sua personagem, real, é Margaret Keane, tão ingênua que beira a sandice. Ela pintou quadros com gente de olhos descomunalmente grandes, telas que foram sucesso comercial, mas creditadas ao marido escroque. Depois de separada, lutou para provar a autoria das obras. Amy Adams está um pouco perdida no papel -é fato que Tim Burton não é um grande diretor de atores. Mas Christoph Waltz, como sempre, deita e rola no papel do marido pilantra. Mesmo um Tim Burton que não parece Tim Burton merece ser visto." (Thales de Menezes)
''No cinema de Tim Burton, as extravagâncias de estilo exprimem uma recusa das limitações do mundo, mas tanta imaginação às vezes assume a forma de um abrigo pouco seguro contra tudo. "Olhos Grandes" retoma esses temas para jogar ácido na visão da arte como lugar de beleza e salvação. Walter Keane é um falso artista cuja celebridade depende dos quadros kitsch que Margaret, sua mulher, pinta para satisfazer ao duvidoso gosto popular e à necessidade de fama do marido. Aos poucos, a crença dela no status especial da arte se esvai quando vê que o sucesso financeiro depende só da reprodução infinita em pôsteres, como os artistas cuja celebridade se baseia na repetição. Até que a fachada de casamento feliz com que ela sonha se desfaz e mostra a cara dura da mentira. Na batalha judicial do final, Burton assume o risco de ser desconfortável e desagradar o público fiel ao aspecto bibelô de seu cinema. Desse modo, demonstra que mesmo os mais perfeitos ilusionistas preferem não acreditar cegamente nos seus truques. Primeiro filme independente de Tim Burton mostra um pouco mais do diretor a seus fãs.'' (Cassio Starling Carlos)
''Ver Tim Burton dirigindo um filme de orçamento modesto, com jeitão alternativo, independente, é tão interessante quanto acompanhar suas obras para os grandes estúdios. Certamente não há os grandiosos cenários nem a direção de arte esplendorosa, mas Grandes Olhos desvenda um pouco mais desse recluso diretor de uma maneira que suas obras de maior envergadura não permitiam. Trata-se de um antigo roteiro de Scott Alexander e Larry Karaszewski, a dupla responsável pelo script de Ed Wood, talvez o melhor filme de Tim Burton, financiado pela Weinstein Company, a nova produtora dos irmãos Bob e Harvey Weinstein. Segundo consta, o orçamento foi de apenas 10 milhões de dólares (impossível, deve ser mito). Diretor e roteiristas receberam os valores da tabela do sindicato e terão participação nos lucros, se o filme der lucro. Equipe técnica e atores baixaram bastante o seus cachês para estar no filme – todos, evidentemente, amigos de longa data de Tim Burton. Filmaram em Vancouver, Canadá, para reduzir custos. Trata-se do mesmíssimo universo de Burton, só que em escala menor. Estamos, portanto, falando de gente fora dos padrões. A pintora Margaret Keane retratada no filme não é nenhuma grande artista, apesar de ela e o marido terem sido imensamente ricos e bem sucedidos. Apesar dos elogios (um tanto dúbios) de Andy Warhol, sua obra nunca será aceita pela elite de Nova York. Tímida, insegura, sem jeito para os negócios, Margaret termina por deixar seu marido levar a fama pelos quadros: ela queria, entre outras coisas, a segurança de um casamento (o filme é passado nos anos 60) para poder criar a filha depois de um divórcio. Burton filmará a vida de Keane com o mesmo olhar caloroso com que focalizou outros artistas menores como Edward D. Wood Jr., Bela Lugosi, Vincent Price. O diretor também não julga quem comprava a arte dos Keane: também californiano e também mais ligado à cultura pop do que aos clássicos europeus, comprou seu primeiro Keane quando era um adolescente suburbano de Burkank (periferia da região metropolitana de Los Angeles). Já naquela época tinha consciência de aquele tipo de arte era considerada kitsch, até ser descoberta pelos ícones da Pop Art, mas nunca aceita como séria. Sentia a mesma repulsa/atração pelos quadros. Na tela, Amy Adams faz a pintora com toda delicadeza, com poucas palavras, cheia de dúvidas e hesitações. É um difícil papel morno que a atriz desenvolve muito bem. O mais interessante aqui: Margaret/Amy é Tim Burton. A riqueza de detalhes com que diretor mostra essa curiosa artista, explorando ao máximo sua sensível atriz, não é por acaso, portanto: é o diretor falando de si mesmo, como fazem os artistas, através de sua arte. No caso, foi melhor mesmo uma mulher/atriz: mais generosas, sem medo de demonstrar sentimentos, ficou mais fácil para o cineasta/diretor expor suas fragilidades por meio dela. Assim, quando vai ao supermercado, Margaret/Amy fica encabulada de ver sua própria arte sendo vendida nas prateleiras. Começa a ver todo mundo com seus ''Grandes Olhos''. Até ela eventualmente se verá no espelho com os mesmo tristes, melancólicos e solitários olhos que representava nas pinturas. Numa das cenas, uma briga conjugal, Tim Burton não encena a agressão física: prefere criar uma metáfora, com o marido riscando fósforos e jogando em direção à esposa. No universo de Burton, o marido não precisa bater na mulher para ser abusivo. O lado filme B fica a cargo de Terence Stamp, atuando como um vilão de filme trash como o implacável crítico de arte sênior do jornal The New York Times, John Canaday, em grande momento do filme. Mas, infelizmente, Tim Burton também tem seus defeitos como cineasta e eles não tardam a aparecer. Seu humor um tanto anárquico fragmenta a narrativa, até então coesa e precisa, em cenas um tanto bobas e sem dúvida gratuitas, de forma que Christoph Waltz (em equivocada veia cômica) acaba ocupando espaço demais sem ser tão interessante como a personagem de Margaret. Mesmo a reconstituição de época e a fotografia começam a se impor em detrenimento da trama. Burton não discute a apelação que o marido usou para vendê-las, justificá-las e legitimá-las (fuga do nazismo). A reviravolta da história, quando Margaret resolve processar o marido e dar um fim nas mentiras, ocorre quando a pintora se torna Testemunha de Jeová numa cena no mínimo desleixada e sem dúvida incompleta. Burton diminui seu filme quando se esconde. Dentre outras críticas a Burton, há algumas como ele não saber lidar com a sexualidade – sua primeira cena só foi acontecer bem tarde na sua carreira em Sombras da Noite (Dark Shadows, 2012) e mesmo assim em tom farsesco. A obra de Burton seria, portanto, casta e puritana. Mesmo a violência em seus filmes, estética, é atenuada a ponto de reduzir Batman (1989) a um desenho animado para crianças. Alguns acusam-no de imaturidade, de forma que seus filmes funcionam melhor no universo da fantasia, mas nunca dão certo no mundo real. Tudo isso tem um fundo de verdade e com certeza vê-se essas limitações ressaltadas nesse filme digamos essencialmente aduto. Grandes Olhos é revelador também das inconsistências da arte de Tim Burton.''(Demetrius Caesar)
"Ainda que contido, Burton continua um autor sensível, e aqui prova que também consegue tocar o coração do espectador sem toda a parafernália plástica característica da maioria de seus filmes. Big Eyes será pouco lembrado, mas é uma pérola preciosa." (Heitor Romero)
"Ficam claros os motivos de Burton para dirigir a história do casal Keane. Mas o inferno se enche de diretores que quase chegam lá... e ele já passou da fase de ser aplaudido pelo quase. Adams brilha, e Waltz... será que ele sabia que estava sendo usado?" (Francisco Carbone)
''Grandes Olhos, cinebiografia da artista norte-americana Margaret Keane dirigida por Tim Burton, não tenta ser realista e talvez Burton nem consiga mais fazer isso (mesmo se quisesse). O roteiro toma diversas liberdades e se afasta dos fatos para contar a bizarra história de como Walter Keane, marido da artista, a transformou em escrava e assumiu a autoria por seu trabalho numa época na qual mulheres artistas eram vistas com desconfiança. O tom artificial e cômico funciona bem por boa parte do longa, mas cria problemas sérios mais perto do final, quando o lado dramático toma conta. Para quem não conhece a pintora, ela é criadora de obras de crianças caracterizadas pelos olhos grandes e desproporcionais, fator que a transformou em relativa febre nos EUA dos anos 60. Provavelmente você já viu alguma imagem criada por ela, afinal Margaret foi uma das primeiras artistas a vender sua arte em massa com sucesso. Só que a sua história é muito mais sombria do que a de uma mulher tentando achar seu espaço em meio à sociedade machista dos anos 1950. Como esperado, o roteiro possui forte tom feminista, mas logo fica claro que esse aspecto é secundário, afinal o texto foca mais no relacionamento conturbado do casal de protagonistas. Curiosamente, esse mesmo relacionamento é mal explorado e pouco se sabe dos dois além do básico que uma pesquisa no Wikipédia poderia revelar. Burton, basicamente, cria uma história para entendermos claramente quem é a mocinha e quem é o bandido, sem mostrar nuances ou desenvolver os personagens além desses estereótipos. A pacífica Margaret é interpretada de forma soberba por Amy Adams, uma das injustiçadas do Oscar 2015 ao ficar de fora da premiação. Capaz de dar profundidade a uma personagem com pouco espaço para ir além do raso roteiro, a atriz consegue capturar toda a tristeza e decepção da pintora com facilidade, embora seu papel seja, por padrão, introspectivo e a beleza de sua atuação está naquilo que não é dito. Já o exagerado e charmoso Walter é trazido à vida por Christoph Waltz, que interpreta um personagem patético e difícil de levar a sério, mas que funciona para o tom inicial da obra. Conforme a trama avança, o filme decide explorar aspectos mais sombrios da história e se perde. O tom cômico e irreal da trama causa sensação de constrangimento quando a narrativa tenta abordar de forma mais séria a questão psicológica da relação disfuncional do casal. O confronto entre Margaret e Walter perto do fim não funciona, graças ao seu tom exageradamente melodramático e Waltz, em péssimo momento, se torna nada mais do que um vilão de conto de fadas, ainda mais raso do que se mostrou até então. Tecnicamente bem feito, ''Grandes Olhos'' foge da estética exagerada do diretor e, embora chegue a abordar o lugar das mulheres e dos artistas no mundo, não explora esses aspectos como deveria. Com narrativa irregular, o longa se perde ao não saber se pretende ser uma comédia ou drama, e a presença de personagens como o dono da galeria rival ou o crítico de cinema carrancudo são estereótipos que funcionam bem apenas com o lado mais engraçadinho da trama, mas que ficam deslocados quando esta fica séria. O filme funciona melhor quando explora a noção da arte produzida em massa, especialmente quando Burton usa o filme como reflexo de sua própria carreira. Pena que esses momentos sejam escassos." (Daniel Reininger)
72*2015 Globo
40 Metacritic
Date 17/03/2015 Poster - ##### - DirectorMartin ScorseseStarsLeonardo DiCaprioCameron DiazDaniel Day-LewisIn 1862, Amsterdam Vallon returns to the Five Points area of New York City seeking revenge against Bill the Butcher; his father's killer.[MOv 03 IMDB 7,5/10] (Video/} M/72
GANGUES DE NOVA YORK
(Gangs of New York, 2002)
Gangues de Nova York é mais um filme muito bom nas mãos de Scorsese, que já fez obras melhores.
''Sinto-me a vontade para começar a falar sobre este filme de Martin Scorsese que recentemente estreara em telas nacionais, Gangues de Nova York. Não só por com o tempo estar aperfeiçoando-me na arte da escrita, como por ter assistido ao filme três vezes (por enquanto) nos cinemas e em situações bem diferentes. Para que eu pudesse chegar a uma real conclusão sobre a obra de Scorsese, foi preciso assisti-la mais de uma vez. Sabe quando você sai do cinema cheio de perguntas sobre o filme (parte técnica, não do roteiro), às vezes até ou somente a nível de comparação? Então, assim que sai da minha primeira ida a Gangues de Nova York em um cinema de Brasília, fui novamente assistir ao filme em Campo Grande e, agora, em Florianópolis. Sem sombra de dúvidas essas tantas idas a um filme recém lançado, me ajudaram a analisar melhor certos trechos da obra, que hora é tomada por partes intensas, hora é tomada por partes monótonas. O novo filme de Scorsese nos leva a Nova York do século retrasado, uma cidade ainda em formação que era completamente tomada por gangues que atuavam nas mais variadas camadas e de diversas formas na sociedade. O filme conta a história de Amsterdam (Leonardo Di Caprio, de Titanic, Prenda-me se for Capaz), um jovem rapaz que não sabe sua própria idade e que perdeu o pai ainda quando criança em uma sangrenta batalha que nos é apresentada no início da película. Anos mais tarde, Amsterdam resolve voltar às "Cinco Pontas" (5 Points), o local mais famoso da cidade na época, uma verdadeira visão do caos na qual a cidade estava mergulhada. Continuando em nosso breve resumo da história, digo apenas que o jovem herói busca sua vingança contra Bill, O Açougueiro (Daniel Day-Lewis); que havia matado o pai de Amsterdam, o padre Vallon (Liam Neeson). ''Gangues de Nova York'' não é um filme, decididamente, para pessoas que costumam chegar atrasadas ao cinema, ou simplesmente não são pontuais; simples assim. Digo isso porque a seqüência inicial é um dos pontos fortes do filme, traz mil e um detalhes da trama que, de fato, são lembrados a todo momento durante o decorrer do filme. E por falar nessa seqüência, ela é magistralmente conduzida por Scorsese. Logo no início temos a batalha entre os Nativistas e os Coelhos Mortos, que viria a resultar na morte do líder dos Coelhos Mortos, o padre Vallon, pai do pequeno Amsterdam. Méritos para Liam Neeson, que apesar de ficar pouco tempo em cena, passa de forma contagiante toda a emoção e outros sentimentos que seu personagem deveria passar. Um líder, um padre, um homem. Perfeito em cena! Logo no início, também, somos apresentados ao açougueiro Bill, o homem que depois da disputa inicial do filme torna-se um líder local que impõe a seus moradores taxas, impostos e outras tantas coisas. Amedronta e intimida qualquer um por puro instinto e mata aqueles que se colocam em seu caminho. Seu ódio pelos Irlandeses e imigrantes que chegavam ao continente é marcante, você sente em cada gesto de Bill o desprezo que ele sente por aquela gente. Se justiça for realmente feita durante o Oscar 2003, o que eu duvido muito que ocorra, o Oscar de Melhor Ator já estaria nas mãos de Daniel Day-Lewis, que está impecável em seu papel. Sem sombra de dúvidas ele é o nome máximo de Gangues de Nova York, até mesmo mais que o próprio Martin Scorsese, mentor da película. Daniel incorpora o personagem como há muito tempo não via nos cinemas. É espetacular. Perfeitamente balanceado, o personagem de Daniel é um carrasco, um líder, um intimidador, um "herói" local que comemora durante todos os anos a morte "do último homem honrado" (como o mesmo proclamava) que existira nas 5 pontas; Padre Vallon. O personagem de Day-Lewis chama a atenção desde suas cenas mais desafiadoras às mais simples, como a seqüência em que o mesmo relata para Amsterdam como perdeu um de seus olhos e o que fez com o mesmo. Uma atuação exímia. Outro ponto forte do filme são seus coadjuvantes. Cameron Diaz (As Panteras, O Máscara) até que se saiu bem como par romântico de Di Caprio. Seu papel não foi nada desafiador, nada que exigisse tanto trabalho e dedicação quanto os personagens de Day-Lewis, Di Caprio e Broadbent; mas ela segue a risca o script e faz bem sua parte, não atrapalha no andamento, sua atuação melhora da metade da projeção para frente. Jim Broadbent (Iris e Moulin Rouge - Amor em Vermelho) é outro que está perfeito em seu papel de "político corrupto que sempre quer ficar por cima"; Jim, pelo menos para mim, depois de Moulin Rouge, virou uma personalidade marcante, sua postura e voz são reconhecidas nos mais variados atos. Ele altera bem seus momentos engraçados com os escassos momentos sérios e, às vezes, até mistura os dois, como em uma das cenas finais do filme, quando seu personagem indaga-se: Milhões de votos foram enterrados aqui hoje. Simplesmente demais. Leonardo Di Caprio está de volta às telas de todo o mundo e em duas superproduções: Gangues de Nova York e Prenda-me Se For Capaz. Infelizmente, aqui Di Caprio parece não ter se adaptado tão bem ao papel de Amsterdam quanto o mesmo se adaptou ao personagem de Frank Jr no filme de Spielberg. Faltou aquela sutileza, aquela identificação pessoal com o papel. Não me entendam mal, o garoto está bem no filme, mas ainda assim algumas de suas passagens chegam a ser monótonas. Outros pontos que chamam atenção em ''Gangues de Nova York referem-se aos quesitos técnicos. E tecnicamente falando, o filme de Scorsese é um filme perfeito. As cenas iniciais, a forma como elas são conduzidas, a fotografia, os efeitos sonoros, o som, a maquiagem, o figurino, tudo combinando em perfeita harmonia. Não gostei da forma em como Scorsese conduziu o confronto entre Bill e Amsterdam, mas infelizmente nem tudo é perfeito. A edição é boa, mas falhou nesse ponto. Entretanto, acerta em tantos outros. Há quem ache o filme um pouco confuso por misturar assuntos tão variados como o romance, a guerra civil norte-americana, a sede de vingança de Amsterdam, as eleições, o recrutamento e diversos outros quesitos. Entretanto, depois de assistir ao filme por mais de duas vezes, percebi que as coisas não mais me pareciam tão confusas como da primeira vez. De certa forma, até gostei de como os fatos haviam sido apresentados. A edição que tanto reclamei na primeira vez em que assisti ao filme em Brasília, elogiei quando sai da terceira em Florianópolis. A primeira vista, pode parecer confuso pelo fato do filme não se segurar a um clímax apenas. Em seu terço final de exibição, entretanto, com um pouco de atenção, você pode aproveitar todos eles de forma agradável: o desfecho entre Bill e Amsterdam, as eleições e a Guerra Civil que naquele momento chegava à Nova York. O som está ótimo no filme e os efeitos visuais razoáveis durante as cenas finais em Nova York. A trilha sonora é composta por músicas instrumentais que dão vida ao filme e conta com a participação do U2 na canção The Hands That Build America. ''Gangues de Nova York'' é mais um filme muito bom nas mãos de Scorsese, que já fez obras melhores, mas acerta mais uma vez com esse projeto rico e que nos trás tantas informações sobre aquele período. Cinema é cultura, lembre-se disso! Gostei da tomada final do filme onde, a partir de um ponto fixo que realmente existiu, um cemitério da cidade, é mostrado a evolução da cidade com o passar das décadas. Com direito a World Trade Center e tudo mais. Um bom espetáculo." (Tony Pugliese)
{E não importa o que fizeram para reconstruir a cidade, dali em diante seria como ninguém soubesse que ela existiu} (ESKS)
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"A esta altura, todos sabemos o que "Gangues de Nova York" nos mostra. O que não significa que estejam esgotados os seus significados. A quem se queixa da excessiva violência do filme de Martin Scorsese, só posso dizer uma coisa: ela não é nada perto da que existe no livro de Herbert Asbury, no qual o diretor se inspirou e que, com toda justiça, acabou mencionado na História Universal da Infâmia, de Jorge Luis Borges. Os fatos se deram há aproximadamente um século e meio. No entanto, Nova York e os EUA construíram, nesse ínfimo tempo, uma civilização. Violenta e perversa, não raro, mas civilização. Não há dúvida de que essa é uma angústia do Brasil contemporâneo. O estado de anomia a que se chegou pode ser verificado de uma maneira singela: os cones nas calçadas paulistanas, privatizadas por síndicos de condomínio, donos de lavanderia, ou simplesmente por qualquer um que disponha de um cone. Todos sabem que a calçada é pública, mas desenvolveram a estranha idéia de que o público, pertencendo a todos, não pertence a ninguém, portanto é passível de ser privatizada - porque a lei sempre deve existir, mas não para nós. O exemplo é singelo. Poderíamos nos deter na mais formidável novidade de segurança que se dissemina: o arame farpado eletrificado. Depois dos muros, das grades de ferro, dos chiqueirinhos, essa é a nova tentativa de criar um mundo perfeitamente vedado às invasões bárbaras. Em alguma parte, Borges nos lembra - como o fazia André Breton - que a realidade de um lado e do outro da cela é a mesma. O prisioneiro e o carcereiro, o condenado e o carrasco são no fundo a mesma pessoa, partilham as mesmas experiências. O que teremos daqui a 150 anos? Uma fantástica prisão gigante para os excluídos ou uma civilização? Essa pergunta quem nos faz é "Gangues de Nova York"." (* Inacio Araujo *)
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''Que impressão deixará, hoje, "Gangues de Nova York"? O filme não é tão antigo - tem apenas dois anos - e quando de seu lançamento tinha um aspecto imponente - constituía uma espécie de épica da infâmia. Retrospectivamente, o filme mostra um ângulo meio incômodo: da grandeza passa-se a certa afetação, que tanto pode estar na ênfase do infame como na evocação do cinema clássico na batalha final (Eisenstein em particular), que mais parece uma forma de criar valor agregado. Por que Martin Scorsese infla de tal modo um assunto por si já grandioso? Talvez para se candidatar ao Oscar que sempre lhe escapa. Que ele diz desdenhar, mas que sempre é um Oscar. De todo modo, faz falta hoje a limpidez do Scorsese dos anos 70 ou 80." (** Inácio Araujo **)
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Muitos não viram em "Gangues de Nova York" um autêntico Scorsese. Ora, com exceção de um certo lamê estilístico que polui o filme, a grande questão corrente na obra do diretor está lá, a da violência como expressão humana e também essência de uma nação. Isso certamente gerou frustração e estranhamento. Porque a Nova York de Scorsese ainda está longe da poderosa imagem dos arranha-céus ornando o horizonte e é mais um mundo explodindo entre civilização e barbárie. E quando a imagem de cartão-postal finalmente surge, no epílogo, é apenas para legitimar a marginália esquecida." (*** Inácio Araujo ***)
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''Se Nova York é a estrela desta sexta na TV paga, a verdade é que nem sempre será muito aprazível. Em "Gangues de Nova York", Martin Scorsese evoca a cidade onde campeia uma violência que chamar de bestial não será um exagero. Mas é a formação dos EUA que está ali (e o filme é água de rosas perto do livro de que foi extraído)." (**** Inácio Araujo ****)
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"Gangues de Nova York" pode não ser o melhor filme de Martin Scorsese. Também não é o pior, mas pode ser, talvez, o mais violento. Perto do livro que o inspirou, aliás (um livro jornalístico, não ficcional), é água de rosas. Para nós brasileiros, sobretudo os que vivem nas grandes cidades, as Gangues deste filme trazem muita esperança. Pensar que Nova York era essa barbárie que se vê há uns meros 150 anos não deixa de ser animador. Perto do que há ali, os PCCs, as torcidas organizadas e os facínoras pátrios são como bandos de freiras. As gangues do filme refletem sobretudo os conflitos étnicos na cidade, que resumem em boa parte a formação norte-americana. Estamos nisso quando começa a Guerra de Secessão. E surgem os negros libertos do norte, para complicar ainda mais a questão. O filme era um favorito ao Oscar. Perdeu: com tudo isso não seria diferente.'' (***** Inácio Araujo *****)
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''Impossível não recomendar um filme de Martin Scorsese que tenha Daniel Day-Lewis no elenco. Mas há muito mais em "Gangues de Nova York". Tudo bem, tem DiCaprio e Cameron Diaz, mas, por mais que os bonitos se esforcem, o filme é roubado pelo fascinante personagem do açougueiro violento vivido por Day-Lewis. Outro mérito de Scorsese é ter se debruçado sobre lugar e período pouco ou quase nada explorados em Hollywood: a Nova York da metade do século 19, em construção e aterrorizada por gangues. Day-Lewis lidera descendentes de ingleses. DiCaprio é da gangue dos imigrantes irlandeses e quer se vingar do líder rival, que matou seu pai 16 anos antes. Muito sangue, muita crueldade e monólogos do açougueiro que magnetizam a plateia com sua tosca filosofia. Daniel Day-Lewis é o cara." (Thales de Menezes)
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"Gangues de Nova York" é um filme retalhado. Dos originais 220 minutos, restaram 170 para contar a rivalidade entre Amsterdam (DiCaprio) e Bill, o Açougueiro (Day-Lewis).A inimizade começa em meados do século 19, quando o Açougueiro, líder da gangue dos nativistas, mata o pai de Amsterdam, dos Coelhos Mortos (imigrantes irlandeses; na verdade, nativistas eram imigrantes que haviam chegado um pouco antes dos outros). Depois de crescer num orfanato, Amsterdam retorna a Nova York no momento da Guerra de Secessão (1861-1865), disposto a liquidar o Açougueiro. Para facilitar, infiltra-se na gangue rival. Existe, assim, no novo filme de Martin Scorsese, microcosmo e macrocosmo, história pessoal e história nacional - ficções que se superpõem, envolvendo homens violentos, primitivos, mas não desprovidos de uma concepção particular de valor e honra. Ao longo de décadas, o cinema nos ensinou a ver a América como território de homens valorosos e comuns, que se opunham aos poderosos, moralistas, aos extremismos religiosos. Scorsese convoca a grande tradição do cinema americano, mas de maneira ambígua, como que a exaltando e solapando ao mesmo tempo. Pois os heróis de Gangues são ao mesmo tempo carniceiros, violentos, primitivos, eventualmente traidores. Sim, pois Amsterdam -o que mais se aproxima daquilo que poderíamos chamar mocinho - trata de se infiltrar na gangue de Bill e ganhar sua confiança para melhor apunhalá-lo. A essa complexidade, Scorsese acrescenta outra: a hipótese de Amsterdam desviar-se da missão original, seduzido pelo poder e riqueza que a convivência com o Açougueiro lhe proporciona. E ainda uma outra: esses dois homens não se dão conta de que um acontecimento maior está se produzindo naquele momento, que vai dar outro perfil ao país, a Guerra de Secessão. Se a tragédia supõe sempre uma parte de cegueira e não raro bastante de barbárie, aqui ambas terminam por suprimir dos personagens toda sombra de grandeza. O talho que Gangues sofreu torna determinados acontecimentos rápidos demais e outros obscuros. Problema a relevar numa empreitada, ela sim, cheia de grandeza.'' (# Inácio Araujo #)
75*2003 Oscar / 60*2003 Globo / 2003 César
Miramax
Initial Entertainment Group (IEG)
Alberto Grimaldi Productions
Diretor: Martin Scorsese
273.433 users / 8.023 face
Soundtrack Rock = U2
39 Metacritic
Date 11/04/2015 Poster - # - DirectorMohsen MakhmalbafStarsShaghayeh DjodatHossein MoharamiRogheih MoharamiWhen an old couple washes their gabbeh - a type of Persian rug - a young woman magically appears and tells them her life story.[Mov 05 IMDB 7,1/10] {Video}
GABBEH
(Gabbeh, 1996)
TAG MOHSEN MAKHMALBAF
{inspirador}Sinopse
''Um casal de idosos fazem sua rotina diária de limpeza em sua Gabbeh (tapetes primorosamente concebidos), enquanto suavemente brigam um com o outro. Magicamente, uma jovem mulher aparece, ajudando os dois limpar o tapete. Esta jovem mulher pertence ao clã cuja história é retratada no desenho do Gabbeh, e o tapete reconta a história do namoro da jovem com um estranho do clã.''
"Na irregular produção do iraniano Mohsen Makhmalbaf, "Gabbeh" destaca-se pela força com que consegue nos aproximar da produção de tapetes persas (de que os gabbeh são um tipo). Ou antes: no tapete temos, primeiro, uma série de imagens que pouco significam para o espectador. Aos poucos, porém, o filme nos informa sobre a história de amor ali narrada, que o motivou e que de certa forma está lá e o mantém vivo, digamos assim. Essa maneira original de narrar uma história a partir da superfície do tapete, ao mesmo tempo em que se tece o próprio tapete, como se um se refletisse no outro continuamente, faz boa parte do encanto deste filme." (* Inácio Araujo *)
"Está certo e não está falar do cinema francês, ou brasileiro, ou americano. Está errado porque cada cinematografia produz filmes muito diferentes entre si. E está certo porque, por mais diferentes que sejam, filmes de um país sempre guardarão algo de comum: uma luz, uma paisagem, um modo de ser das pessoas etc.
Isso lhes confere uma personalidade que transcende, em larga medida, os desígnios de cada artista. Mas será bem injusto colocar todas as obras num mesmo saco nacional. Por exemplo: os filmes de Abbas Kiarostami pouco têm em comum com os de Mohsen Makhmalbaf. Este último, aliás, se pauta por uma irregularidade avassaladora. "Gabbeh" é um dos seus mais belos trabalhos a terem chegado até nós. Gabbeh é um tipo de tapete persa, o que é bem conhecido. Menos conhecido é aquilo sobre o que discorre o filme: a sofisticada estamparia de um gabbeh é a narrativa de uma história. Assim como a tatuagem pode ser um relato, as figuras do gabbeh são como que o resumo de uma existência, com seus espantos, belezas, tragédias. Aqui, em linhas gerais, é a história de um amor que se conta. Se outras vezes vemos Makhmalbaf oscilar entre o autoritário e o meramente comercial (A Caminho de Kandahar), em "Gabbeh" é possível encontrar momentos de verdadeira poesia." (** Inácio Araujo **)
MK2 Productions
Sanaye Dasti
Diretor: Mohsen Makhmalbaf
1.977 users / 223 face
Date 02/08/2015 Poster - ##### - DirectorGareth EdwardsStarsAaron Taylor-JohnsonElizabeth OlsenBryan CranstonThe world is beset by the appearance of monstrous creatures, but one of them may be the only one who can save humanity.[Mov 03 IMDB 6.5/10] {Video/@@} M/62
GODZILLA
(Godzilla, 2014)
TAG GARETH EDWARDS
{esquecível / cansativo}Sinopse
''Joe Brody (Bryan Cranston) criou o filho sozinho após a morte da esposa (Juliette Binoche) em um acidente na usina nuclear em que ambos trabalhavam, no Japão. Ele nunca aceitou a catástrofe e quinze anos depois continua remoendo o acontecido, tentando encontrar alguma explicação. Ford Brody (Aaron Taylor-Johnson), agora adulto, é soldado do exército americano e precisa lutar desesperadamente para salvar a população mundial - e em especial sua família - do gigantesco, inabalável e incrivelmente assustador monstro Godzilla.''
"O desnecessário reboot/remake de 2014 de Godzilla saiu melhor que a encomenda - o filme é vibrante; os efeitos, acima da média; o visual, de primeira; e não ofende excessivamente a inteligência do espectador." (Alexandre Koball)
"O roteiro é péssimo, com uma trama mal-construída, personagens vazios e diálogos vergonhosos, e Edwards filma menos os monstros do que deveria. Mas, ao menos, quando o faz, faz bem - e transformar Godzilla em mocinho não deixa de ser uma ideia bacana." (Silvio Pilau)
"Notável como esses filmes conseguem ficar abaixo das já baixíssimas expectativas. Sem nenhum senso de ritmo (chega a ser sonolento de tanto papo furado) e com elenco risível (como Watanabe e suas caretas de pamonha). Cinemão pipoca em sua pior forma." (Heitor Romero)
"Roteiro patético, personagens nulos, atores mal aproveitados (no aguardo dos memes com os "carões" de S. Hawkins), 3D cagando uma fotografia já ruim... Tudo entre um ronco e outro, também culpa do filme. De positivo, TALVEZ o resgate do Gojira original." (Rodrigo Torres de Souza)
"É cinemão com roteiro ruim. A falta de senso espacial é o que mais incomoda, todavia é um filme divertido com um Godzilla imponente e coadjuvante." (Marcelo Leme)
"Godzilla como coadjuvante do próprio filme é uma ousadia ao mesmo tempo inesperada e frustrante. Mas Gareth Edwards tem mesmo bom olho pra ação e consegue filmar bem as aparições do monstrengo." (Rafael W. Oliveira)
''A nova versão americana de "Godzilla" é bem melhor do que a anterior. O monstro é bacana. Agora fica mais ereto, ágil - seu antecessor às vezes parecia um sapão , o que melhora as cenas do bicho em ação. A grande sacada do filme é guardar Godzilla para a parte final. Nos primeiros dois terços de projeção, ele é praticamente um coadjuvante, que pouco aparece. Pouco mesmo: um pedaço da cauda ali, as barbatanas dorsais surgindo acima da água do mar, um pezão aqui e outro ali... O trunfo é esperar para mostrar sua grandiosidade na hora certa. Antes disso acontecer, as estrelas monstruosas são um casal de criaturas meio metálicas. O macho é menor e com asas, enquanto a fêmea, gigantesca, anda sobre quatro patas destruidoras. Cada monstro deixa seu rastro de destruição, enquanto os três caminham para um encontro que pode colocar milhões de pessoas em risco. Se o elenco de monstrengos agrada, o cast humano não é lá essas coisas. Aaron Taylor-Johnson, de Kick-Ass, é o fortão soldado Brody, herói sem brilho. Ken Watanabe, o atual japonês de Hollywood, é o cientista que entende Godzilla. A francesa Juliette Binoche empresta grife, mas sua participação é tão ridiculamente pequena que chega a ser bem constrangedora. Mas é um filme divertido, com belas cenas de destruição. E, quando Godzilla assume seu papel de protagonista na parte final, o monstro chega quebrando tudo. Literalmente." (Thales de Menezes)
''Lembra do Godzilla de 1998, aquele dirigido por Roland Emmerich? Pois é, esqueça. Esta nova versão, sob o comando do inglês Gareth Edwards (Monstros), não vai fazer de sua ida ao cinema uma experiência frustrante. O filme traz ótimas cenas do famigerado gigante japonês em ação. A história começa numa usina nuclear japonesa onde o engenheiro norte-americano Joe Brody (Bryan Cranston) e sua esposa Sandra (Juliette Binoche) trabalham. Um grave acidente ocorre e dedica-se a elucidar a causa da catástrofe, que acredita não ter sido motivada por um terremoto. O filme dá um salto temporal e chega aos dias atuais. Brody, ainda obcecado em provar sua tese, se junta ao filho Ford (Aaron Taylor-Johnson) e ao cientista Ichiro Serizawa (Ken Watanabe) na missão. Não fica claro para onde a história está se dirigindo, o que gera certa imprevisibilidade incomum em blockbusters. E isso é muito bom. Toda a trama envolvendo os humanos acaba funcionando como preâmbulo para a chegada sencacional dele, ''Godzilla''. O design do personagem é ótimo, remetendo aos originais japoneses. O pessoal dos efeitos especiais também conseguiu imprimir personalidade e fúria, muita fúria, a Zilla, o que faz do Godzilla de Emmerich uma lagartixa de borracha. As cenas de luta entre os monstros são realistas e empolgantes e o cenário de devastação deixado pelos gigantes consegue gerar impressão real de catástrofe. O personagem criado em 1954 merecia um filme minimamente decente feito com os recursos tecnológicos atuais. Tinha direito inclusive a um desagravo depois do filme de Emmerich. Gareth Edwards com seu Godzilla conseguiu resgatar o prestígio do veterano lagartão. Em tempo: assistir numa sala IMAX e em 3D faz diferença neste filme. Não hesite em gastar uns reais a mais." (Roberto Guerra)
Um copo meio vazio no caminho do deus dos monstros.
Nas redes sociais, leio: quem quiser ver construção de personagem, vá ver Douglas Sirk. Fico tentando essa colocação... sim, porque a nova adaptação do clássico filme de monstro japonês, que já tinha rendido uma ótima versão ano passado (Círculo de Fogo), não aprofunda apenas personagens, como nada. Tudo é muito raso e banal, típica 'sessão da tarde' feita para esquecer. Por isso, a dúvida: de onde veio nossa expectativa? Veio na contratação de um muito jovem diretor britânico, de apenas um longa anterior no currículo (não a toa, o longa chama Monstros), que poderia ser capaz de oxigenar um gênero que é produzido no padrão linha de produção em Hollywood; veio na contratação de um elenco não apenas de primeira, mas completamente livre de associações a gênero; atores geniais, premiados no mundo todo e adeptos de um cinema exigente na filmografia particular; veio na entrega de trailers que deixavam claro os cuidados plásticos na construção imagética do todo, sem exploração gratuita dentro de um grupo de filmes relegados a diretores do nível (nível?) de Roland Emmerich e Michael Bay. Finda a sessão, e resta a certeza de que Gareth Edwards recebeu como pagamento um cheque bem abaixo do valor que seria desembolsado para pagar os senhores citados. Mas a burocracia, a falta de rigor, a mesmice estética (e histérica), essas são idênticas... e quanto as tais cenas dos trailers, onde tudo antevia um produto refrescado, foram inseridas no filme deixando-as deslocadas e tristes, com sabor amargo do que poderia ter sido, mas não é. E aí finalmente ele chega, em todo seu esplendor: Gojira, o maior de todos. Suas mínimas aparições até a revolução completa de sua chegada são as poucas verdades do filme, onde o espectador parece de fato agradado no que um típico filme kaiju parece corresponder. Lá pelas tantas, um entristecido Ken Watanabe manda: "deixa eles brigarem". É a deixa pro filme abandonar razão e emoção (que nunca houve, no modorrento casal de mocinhos vivido por Aaron Taylor Johnson e Elizabeth Olsen), e se concentrar no que interessa: Godzilla chutando bundas. Mas é tarde. Enquanto isso, passeiam pela tela Juliette Binoche, Bryan Cranston, Sally Hawkins, David Strathairn... os tais atores que deveriam correr atrás de um Douglas Sirk pra ver e entender que seus personagens poderiam ser feitos por Lindsay Lohan, Rob Schneider, Michelle Rodriguez e Danny Trejo, já que tanto faz (mesmo!) talento e carisma a esses personagens ridículos. O lance é ver Gojira brigar, mesmo que tenham descoberto isso tarde demais." (Francisco Carbone)
Warner Bro.
Legendary Pictures
Disruption Entertainment
Dune Entertainment
Toho Company
Diretor: Gareth Edwards
273.576 users / 69.080 faceSoundtrack Rock
Elvis Presley / The Tonettes / Dusty Springfield
48 Metacritic
Date 22/08/2015 Poster - ##### - DirectorSally PotterStarsElle FanningAlice EnglertAnnette BeningA look at the lives of two teenage girls - inseparable friends Ginger and Rosa -- growing up in 1960s London as the Cuban Missile Crisis looms, and the pivotal event that comes to redefine their relationship.[Mov 08 IMDB 6,3/10] {Video/@@@@@} M/69
GINGER E ROSA
(Ginger & Rosa, 2012)
TAG SALLY POTTER
{inspirador / simpático}Sinopse
''Londres, 1962. Ginger (Elle Fanning) e Rosa (Alice Englert) são amigas inseparáveis. Elas sonham com uma vida melhor que as de suas próprias mães, sempre presas à rotina doméstica, mas a crescente ameaça de uma guerra nuclear as amedronta. Não demora muito para que ambas entrem em conflito com as mães, ao mesmo tempo em que passam a idolatrar Roland (Alessandro Nivola), o pai pacifista de Ginger. Ele encoraja na filha a lutar contra a bomba, mas aos poucos Rosa demonstra ter outros interesses envolvidos.''
{O conceito de vida após a morte é uma superstição, criada para deixar as pessoas felizes com sua existência limitada. A única vida é a que temos agora. Por isso temos que aproveitá-la e viver enquanto temos oportunidade} (ESKS)
{Quando a infelicidade se instala, a esperança é uma certeza} (ESKS)
{Todo homem deve lutar para ser dono de si mesmo} (ESKS)
Inocência e nostalgia.
''Retrato particular de uma juventude marcada por dilemas, descobertas, conflitos familiares, período histórico efervescente e uma amizade conturbada, Ginger & Rosa (idem, 2012) é o típico filme que dispensa pesquisa para que se constate tratar-se de um drama autobiográfico. A cada take mais contemplativo, diálogo minucioso ou apresentação das idiossincrasias da jovem protagonista, o que se nota é um exercício de nostalgia por parte da cineasta inglesa Sally Potter, a relembrar com muito carinho de sua adolescência – e aí reside seu maior êxito, pois é de onde emanam a beleza e a humanidade presentes na adaptação de sua história pessoal, jamais enfadonha. Após breves imagens de uma Inglaterra assolada pela II Guerra Mundial, somos posicionados na década de 60, período em que o país ainda lutava, econômica e moralmente, para se recuperar dos resquícios traumáticos do conflito armado. E no centro dessa história surge Ginger, uma típica adolescente que, necessitada de se descobrir e se afirmar (ao mesmo tempo, o que deflagra sua ingenuidade), tem em sua melhor amiga, a verdadeiramente rebelde Rosa (Alice Englert), o lastro de que precisa para experimentar os excessos e possibilidades de sua tenra idade. E assim Potter põe-se a, meticulosa e sutilmente, situar o espectador em todo o contexto a que estavam expostas as personagens-título: historicamente, tanto pela exposição das preocupações de Ginger com a Guerra Fria e a Crise dos Mísseis em Cuba (o que também diz muito sobre a [justificável] paranoia do povo britânico naquele tempo), como por aspectos técnicos como figurino, trilha sonora, direção de arte, etc, tudo muito bem harmonizado; em termos espaciais, passeando com sua câmera de planos abertos a espaços fechados, todos certamente familiares, captando instalações decadentes eficazes em ilustrar a instabilidade política e econômica da Inglaterra (vide o refúgio de Ginger, frente ao esqueleto de uma usina nuclear), país afundado em fotografia escura e em seu clima frio e nebuloso; e pessoalmente na vida de sua protagonista, principal força motriz da cinebiografia. Isso porque, ao contrário do que induz o título, esse não é um filme sobre a amizade, mas a história da vida de Ginger. Isso fica muito bem definido ainda no primeiro ato: se o histórico familiar de Rosa é apresentado a conta gotas, a família da ruivinha é muito bem definida: Natalie (Christina Hendricks) é uma mulher de meia idade em crise, que abriu mão de sua vida profissional e artística como pintora por seu marido, Roland (Alessandro Nivola), um professor ateu libertário, ex-militante e apaixonado por música. Tais características tornam conflituosa a relação com a mãe instável e submissa e harmoniosa com o pai afável e revolucionário, com quem vai morar, e essa decisão é crucial nos rumos de Ginger e, ainda mais importante, no molde da personalidade da própria Sally Potter. Como reflexo da idade, da liberdade concedida por Roland e da companhia de Rosa, Ginger se inicia no consumo de álcool e tabaco, tem seus primeiros envolvimentos amorosos, mas o sorriso inocente de sua intérprete, Elle Fanning (muito boa atuação da atriz, muito bem escalada), nunca sai de sua expressão. Sua entrada na militância contra o "holocausto nuclear" jamais surtirá qualquer efeito. Breve citação ao existencialismo de Simone de Beauvoir sai como descontraído lapso intelectualoide. E Sally Potter se diverte! Os impulsos e experiências estabanadas daquela menina ingênua são o molde da personalidade atual da cineasta. Em inconsciente resposta ao comportamento passivo da mãe, Potter virou defensora do feminismo – tanto presente em seu filme mais famoso, Orlando – A Mulher Imortal, como nos atos impensados de Ginger –, aspecto comum ao posicionamento da escritora e filósofa francesa. Do contato com o pai, sugou além do espírito contestador a paixão pela música, tendo se tornado dançarina, coreógrafa de sucesso e responsável pelo som de alguns de seus filmes. E se nenhuma dessas realizações se concretizam durante a projeção, é porque esta se dedica apenas ao período de transformação da menina (Ginger) para a mulher (Potter) – o que justifica o fato da coadjuvante Rosa ser personagem-título, dado o protagonismo que a jovem exerce nessa fase da vida de sua amiga.
Então, quando Ginger enfim aceita que sua utópica preocupação com o iminente fim do mundo na verdade consiste no medo de seu mundo particular estar prestes a ruir, Saly Potter confere tons de singela poesia ao ato final de sua homenagem para si mesma. E não é de surpreender que, na última cena, em resposta a um pedido de perdão de Rosa, Ginger se ponha a escrever utilizando um pequeno caderno, uma vez que a obra pareça toda derivada de deleitosa e nostálgica revisita às páginas de um diário.'' (Rodrigo Torres de Souza)
Top Dinamarca #41
Adventure Pictures
BBC Films
British Film Institute (BFI)
Det Danske Filminstitut
Media House Capital
Miso Films
Diretor: Sally Potter
6.978 users / 1.966 face
26 Metacritic
Date 02/09/2015 Poster - ######## - DirectorJean-Marie StraubStarsBarbara UlrichGustav LeonhardtGlory and collapse of the great Republic of Venice. The reasons are multiple, complex, human and too human. Are these the same ingredients, whose mix will decide whether or not and under what conditions does Europe survive today?[Mov 05 IMDB 6,5/10] {Video}
GLÓRIA E QUEDA DE VENEZA (unofficial)
(À Propos de Venise, 2014)
TAG JEAN-MARIE STRAUB
{inteligente}Sinopse
"A glória e o colapso da República de Veneza, em suas razões complexas e humanas. Razões que também definem a sobrevivência da Europa atual. Dois planos sob a leitura de textos de Maurice Barrès (Amori et Dolori sacrum: la mort de Venise, 1903). A lembrança de uma Cantata de Bach."
Andolfi
Belva GmbH
Diretor: Jean-Marie Straub
27 users / 1 face
Date 12/03/2016 Poster - ##### - DirectorCéline SciammaStarsKaridja TouréAssa SyllaLindsay KaramohA girl with few real prospects joins a gang, reinventing herself and gaining a sense of self confidence in the process. However, she soon finds that this new life does not necessarily make her any happier.[Mov 07 IMDB 6,9/10] {Video/@@@@} M/85
GAROTAS
(Bande de filles, 2014)
TAG CÉLINE SCIAMMA
{simpático}Sinopse
''Marieme, 16, vive sua vida como uma sucessão de proibições. A censura exercida pelo bairro, a lei estabelecida pelos garotos, o beco sem saída da escola ... Mas seu encontro com um grupo de meninas que reivindicaram sua liberdade muda tudo. Ela abraça os códigos da rua, a violência e a amizade, para viver de fato sua juventude.''
****
''Inserção ou exclusão. Fazer parte ou ser desconsiderado. Em torno desses dilemas, a diretora francesa Céline Sciamma conseguiu em "Garotas" um resultado que exala contemporaneidade por todos os poros. Seu terceiro filme avança na direção conquistada por Tomboy. Naquele segundo longa, uma menina passava-se por menino para se integrar a um grupo durante as férias, colocando em questão limites dos gêneros sexuais. "Garotas" segue as linhas que agregam e isolam, revela como o grupo funciona na afirmação e na recriação das identidades. O título brasileiro ameniza o teor da questão embutida no original, Bande de Filles, que se refere a bando, turma, gangue. Como cada um se relaciona com o grupo? Como o coletivo decide quem ele admite? O que o indivíduo passa a ser ou deixa de ser nesse movimento de integração? Em suma, como se forjam as identidades pessoal e social? Em torno dessas dificuldades, "Garotas" mergulha nas fissuras da Europa contemporânea, em que a miragem de sociedade perfeita atrai todo tipo de excluídos com vontade de vitória. Amontoados nas periferias, eles trouxeram suas diferenças étnicas, culturais e sociais para a vizinhança e dispararam reações crescentes do organismo social a esses corpos estranhos. "Garotas", no entanto, não se resume à denúncia da tolerância de fachada já representada 20 anos atrás em O Ódio, filme-paradigma da fratura. No longa de Sciamma, basta uma breve situação numa loja de roupas para mostrar a tensão da proximidade do outro. A proximidade com que a câmera de Sciamma segue a beleza atípica de Karidja Touré nos conduz desde a primeira cena, na qual Marieme se distingue aos poucos da confusão coletiva no jogo de futebol e se individualiza ao voltar para casa. As transformações de figurino, penteado, vocabulário, atitude, meio de vida e até de nome entram em cena como tantas etapas de uma codificação necessária para que ela se torne alguém. Ao longo do caminho, "Garotas" reinterpreta com aparência de leveza e uma irresistível potência pop o que significa, hoje e sempre, querer ser." (Cassio Starling Carlos)
'''Honrando certa tradição da cinematografia francesa que verte rigorosa observação sociológica em apurado cinema, a diretora Céline Sciamma dá continuidade neste "Garotas", de 2014, à investigação sobre os avatares da construção da identidade que já marcavam seu filme anterior, Tomboy. Mas aqui, em interessante complementaridade às sutilezas e ambiguidades que a inserção num "gênero" fixo sufoca, do filme anterior, Sciamma dirige sua lente aos impasses da sensibilidade exposta à pressão pelo pertencimento a um grupo. Numa periferia parisiense, a jovem e introspectiva Marieme (Karidja Touré) sente a insuficiência dos laços comunitários propiciados pela escola ou pelo esporte. A adesão ao comportamento desviante e afirmativo da gangue do título original ("Bande des Filles", "bando das garotas" em tradução livre) surge como horizonte existencial viável. Mas, em tempos de "empoderamento" quase coercitivo, as insatisfações permanecem e a saída parecerá definitivamente "fora do quadro", como no belo plano final." (Roberto Alves)
2014 Palma de Cannes / 2015 César
Hold Up Films
Lilies Films
Arte France Cinéma
Centre National de la Cinématographie (CNC)
Fonds Images de la Diversité (participation)
Agence Nationale pour la Cohésion Sociale et l'Egalité des Chances (ACSE)
Région Ile-de-France
Canal+
Arte France
Ciné+
Pyramide Distribution
Films Distribution
Arte / Cofinova 9
Diretor: Céline Sciamma
4.231 users / 1.317 face
22 Metacritic
Date 17/06/2016 Poster -